Consenso sobre a lipoproteína A: o que há de novo?

Conheça detalhes do documento publicado pela European Society of Cardiology que trata concentração, influência de estilos de vida e mais.

Recentemente foi publicado pela European Society of Cardiology um consenso sobre a lipoproteína a (Lp(a)). Abaixo seguem as principais informações deste documento.  

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Concentração 

A concentração da Lp(a) no plasma é determinada predominantemente de forma genética e já se encontra nos níveis encontrados na idade adulta a partir dos 5 anos. Seus valores variam de menos de 0,1mg/dL a mais de 300mg/dL e a concentração em mulheres é 5% a 10% maior que em homens e também varia com a etnia.

Como a maioria das pessoas tem níveis baixos dessa molécula, a maioria dos estudos foca em pessoas com níveis muito altos de Lp(a), que tem aumento do risco cardiovascular em mais de 20%. 

Influências de estilo de vida 

Pode haver influência de fatores não genéticos em sua concentração, porém mudanças de estilo de vida têm impacto mínimo e dieta pobre em carboidratos e rica em gorduras pode reduzir seus valores em 10% a 15%. A disfunção renal pode aumentar seus níveis e a disfunção hepática reduzi-los. 

O aumento dessa lipoproteína se associa com aumento da ocorrência de eventos cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), estenose aórtica (EA) e mortalidade. Quando avaliados pacientes em prevenção secundária, os estudos têm resultados mais heterogêneos, porém parece haver relação de valores aumentados com maior recorrência de eventos. 

Relação da lipoproteína A com doenças valvares 

Desde 2013 viu-se que Lp(a) aumentada tem relação com micro e macro calcificações da valva aórtica, especialmente em indivíduos jovens (45-54 anos), nos quais o risco de EA aumenta em até três vezes se os níveis de Lp(a) estão acima do percentil 80. Também parece haver relação com progressão mais rápida desta doença. 

As associações descritas acima são baseadas em estudos observacionais e genéticos: a Lp(a) aumentada é fator de risco para doença cardiovascular aterosclerótica e estenose valvar aórtica e isso ocorre de forma linear, maiores níveis da proteína tem associação com maior risco e isso parece ocorrer mesmo na presença de valores de LDL baixos.  

Relação da lipoproteína A com diabetes 

Por outro lado, diversos estudos dos últimos anos sugerem que níveis muito baixos têm associação com a ocorrência de diabetes tipo 2, sendo que em um estudo houve aumento desse risco em 28%. Os mecanismos que explicam essa associação não são conhecidos. 

O risco relacionado a Lp(a) parece ser mais relacionado aos seus efeitos nas vias de sinalização intracelular do que ao seu acúmulo. Essa molécula inicia um processo inflamatório na parede arterial e na presença de doença arterial coronária avançada acelera o processo de calcificação coronária. Da mesma forma, na EA, induz inflamação e calcificação nas células intersticiais valvares, com aumento da incidência e progressão da EA. 

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Apesar de aumentar o risco cardiovascular, adicionar a Lp(a) aos algoritmos de estratificação de risco acrescenta muito pouco na estimativa de risco. Uma abordagem alternativa é estimar o quanto os níveis de Lp(a) aumentados aumentam o risco individual levando em conta tanto seu valor absoluto quanto o risco de eventos cardiovasculares calculado. Por exemplo, dosagens acima de 100mg/dL praticamente dobram a chance de eventos cardiovasculares, independente do risco cardiovascular calculado para o paciente. Se esse risco é mais alto, a magnitude de aumento ao se considerar a Lp(a) é maior que quando o risco é mais baixo. 

Os ensaios utilizados para dosagem variam bastante entre si, sendo difícil estipular valores de corte para classificação do paciente em alto risco.

Em quem dosar Lp(a)? 

Recomenda-se dosar pelo menos uma vez na idade adulta, de preferência junto com a dosagem do primeiro perfil lipídico, no intuito de identificar pessoas com alto risco cardiovascular. Medidas repetidas não são necessárias.  

Em pessoas jovens, recomenda-se dosar se houver história de AVC isquêmico ou história familiar de morte cardiovascular prematura sem outros fatores de risco identificáveis. 

Não há medicações específicas para baixar os valores de Lp(a), sendo assim, recomenda-se intervenção nos outros fatores de risco que o paciente apresenta. Algumas medicações que tem a Lp(a) como alvo estão em desenvolvimento, porém ainda também é incerto o quanto ela deve ser reduzida. 

A padronização dos ensaios que fazem a dosagem dos valores de Lp(a) podem facilitar sua utilização na prática clínica e a sua inclusão nos algoritmos de cálculo de risco cardiovascular, porém ainda há muito o que se conhecer sobre esta molécula e os efeitos de sua redução no risco cardiovascular.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Florian Kronenberg, Samia Mora, Erik S G Stroes, Brian A Ference, Benoit J Arsenault, Lars Berglund, Marc R Dweck, Marlys Koschinsky, Gilles Lambert, François Mach, Catherine J McNeal, Patrick M Moriarty, Pradeep Natarajan, Børge G Nordestgaard, Klaus G Parhofer, Salim S Virani, Arnold von Eckardstein, Gerald F Watts, Jane K Stock, Kausik K Ray, Lale S Tokgözoğlu, Alberico L Catapano, Lipoprotein(a) in atherosclerotic cardiovascular disease and aortic stenosis: a European Atherosclerosis Society consensus statement, European Heart Journal, 2022;, ehac361, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehac361

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