Quando utilizar estatinas para prevenção primária de doenças cardiovasculares?

A USPSTF reavaliou suas recomendações a respeito da utilização de estatinas para prevenção primária de doenças cardiovasculares.

As doenças cardiovasculares (DCV) são a primeira causa de morte no Brasil e no mundo. Esse impacto tão significativo na saúde das pessoas acaba por trazer à tona a importância da prevenção que, através de medidas muitas vezes simples, tem o potencial de evitar mortes e morbidade por essas doenças. Além de muitas recomendações relacionadas a estilo de vida — como evitar o sedentarismo, praticar atividade física, fazer uma alimentação pobre em gorduras trans e rica em alimentos cardioprotetores, cessar o tabagismo, entre outras — uma das medidas mais consagradas e comprovadamente eficazes na prevenção das doenças cardiovasculares é a prescrição de estatinas.

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Sabe-se que os pacientes que já tiveram uma DCV prévia se beneficiam da utilização de estatinas, mas a sua utilização para prevenção primária — ou seja, para aqueles que não têm e nem tiveram DCV — depende de uma avaliação mais cuidadosa. Uma das instituições mais respeitadas internacionalmente para assuntos de saúde preventiva, a United States Preventive Services Task Force (USPSTF), reavaliou recentemente suas recomendações a respeito da utilização de estatinas para prevenção primária de doenças cardiovasculares (DCV), em adultos entre 40 e 75 anos, anunciando, em agosto de 2022, os resultados.

Quando utilizar estatinas para prevenção primária de doenças cardiovasculares

Recomendações atualizadas

A declaração acabou por reforçar e manter as recomendações anteriores que, de maneira resumida, constam do seguinte:

  • Adultos com idade entre 40 e 75 anos, com um ou mais fatores de risco cardiovascular (dislipidemia, diabetes, hipertensão e tabagismo) e um risco estimado de doença cardiovascular em 10 anos de 10% ou mais: recomendação de prescrever de estatina.
  • Adultos com idade entre 40 e 75 anos, com um ou mais fatores de risco cardiovascular (dislipidemia, diabetes, hipertensão e tabagismo) e um risco estimado de doença cardiovascular em 10 anos entre 7,5% e 10%: com uma probabilidade menor de benefício do que o grupo anterior, a USPSTF recomenda oferecer estatina de maneira seletiva aos pacientes. Ou seja, para esse grupo, é essencial levar em consideração as preferências do paciente, discutindo em conjunto com ele os riscos e os benefícios do tratamento.
  • Adultos com 76 anos ou mais: a USPSTF considera que há insuficiência de evidências para avaliar o balanço entre riscos e benefícios do uso de estatinas nessa população.

Cálculo do risco cardiovascular global

Dessa maneira, é importante lembrar da necessidade do cálculo do risco cardiovascular global, que pode ser definido como a probabilidade de um indivíduo ter um evento vascular maior (infarto, acidente vascular cerebral ou morte cardiovascular) considerando, geralmente, um período de 10 anos. Existem diversas calculadoras e escores de risco para essa definição, contudo nenhuma delas totalmente validada para a população brasileira. Além disso, alguns dos métodos de cálculo clássicos, como o de Framingham, não são mais amplamente recomendados por terem sido construídos em populações específicas, muitas vezes há décadas atrás, quando o risco basal de DCV era consideravelmente diferente.

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Uma alternativa para aprimorar o cálculo para a população brasileira é utilizar as tabelas da Organização Mundial de Saúde (OMS), construídas a partir da divisão do mundo em 21 regiões, utilizando coortes com mais de 350 mil indivíduos, gerando um resultado específico para “Brasil e Paraguai”. Essas estimativas tendem a ser mais precisas para a realidade nacional.

Considerações

É essencial levar em consideração também o contexto específico de cada paciente, bem como situações classicamente agravantes do risco cardiovascular (história familiar de infarto, morte súbita ou AVC em familiares de primeiro grau ocorridos antes dos 50 anos, história familiar de dislipidemia, menopausa precoce, história de pré-eclâmpsia, doenças inflamatórias crônicas, uso de antipsicóticos, corticoides e imunossupressores crônicos, síndrome dos ovários policísticos, hipertrigliceridemia persistente primária, índice tornozelo-braquial maior que 0,9 e doenças mentais graves). Essa consideração é ainda mais importante para guiar a decisão clínica para aqueles pacientes com risco cardiovascular considerado moderado (5% a 20%).

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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