Coronariopatia na doença renal crônica: como investigar e tratar

A doença renal crônica é um dos fatores de risco para aterosclerose e eventos cardiovasculares. O principal mecanismo é a formação de aterosclerose.

A doença renal crônica (DRC) é um dos principais fatores de risco para aterosclerose e eventos cardiovasculares (RCV). O principal mecanismo é a formação acelerada da placa de aterosclerose, com piora do perfil lipídico, hipertensão e calcificação arterial.

À medida que a função renal se deteriora, mecanismos “não tradicionais” de aterosclerose vão se acumulando, como hipertrofia ventricular, anemia, arritmias e calcificação ectópica. De todos eles, a microcalcificação e as placas “moles”, ricas em inflamação, têm destaque, pois podem ser responsáveis por eventos cardiovasculares agudos e não são detectadas por nossos métodos diagnósticos tradicionais.

estetoscópio em cima de um eletrocardiograma de paciente com doença crônica renal

Abordagem cardiológica na doença renal crônica

Um artigo de revisão excelente no Journal of the American College of Cardiology (JACC) listou diversos pontos de destaque no paciente com DRC e separamos os mais importantes para sua prática.

Clínica

  • Apenas metade dos pacientes são sintomáticos. Por isso, fique de olho e levante suspeita com sinais incomuns, como taquicardia, dispneia e hipotensão;
  • A diálise pode precipitar eventos agudos, como IAM e morte súbita. É um momento de alto risco para eventos nos renais crônicos.

Diagnóstico

  • A troponina pode estar alta em renais crônicos na ausência de eventos agudos. Isso leva a dois fatores: uma tropo negativa tem alto valor preditivo negativo; se positiva, é preciso curvar, para saber se fará o padrão isquêmico ou não;
  • A performance dos testes funcionais é pior, com acurácia < 80% em muitos casos. Por isso, se a suspeita de DAC for alta, solicite um teste anatômico mesmo com teste funcional negativo;
  • O teste anatômico (CAT ou angioTC) tem o risco de piora da função renal. Em pacientes com TFGe IIIb e IV, o risco de piora aguda ‘é de 12%, maior em diabéticos e se o volume de contrafortes > 0,8 ml/kg. Nos estudos mais recentes, a solução salina é a recomendação para prevenção da lesão aguda por contraste – e não mais bicarbonato nem acetilcisteína.

Tratamento

  • O tratamento padrão não muda em relação aos pacientes com função renal normal. O grande ponto de controvérsia atual é o uso de estatina. Um grande estudo recente, AURORA, não mostrou benefício da estatina nos pacientes em diálise, em oposição a um estudo mais antigo, o SHARP. A maioria dos autores mantém a estatina em quem já usa, mas não começa naqueles que já dialisam e nunca usaram.
  • Pode usar DAPT, mas em pacientes com maior risco de sangramento, use um atentado farmacológico de última geração e encurte o tempo para 3 meses.
  • Caso haja indicação de anticoagulação plena, use clopidogrel + NOAC após atentado.
  • Na DAPT, o clopidogrel é inibidor P2Y12 mais estudado e seguro nessa população.
  • No CAT, o acesso radial pode estenosar a artéria renal e atrapalhar uma futura fístula de diálise. Converse com o nefrologista antes de decidir via de acesso.

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Referências bibliográficas:

  • Sarnak MJ, et al. Chronic Kidney Disease and Coronary Artery Disease: JACC State-of-the-Art Review. Journal of the American College of Cardiology. Volume 74, Issue 14, 8 October 2019, Pages 1823-1838. Disponível em <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109719373905>
  • Fellström BC, et al. Rosuvastatin and Cardiovascular Events in Patients Undergoing Hemodialysis. N Engl J Med 2009; 360:1395-1407. DOI: 10.1056/NEJMoa0810177
  • Baigent C, et al. The effects of lowering LDL cholesterol with simvastatin plus ezetimibe in patients with chronic kidney disease (Study of Heart and Renal Protection): a randomised placebo-controlled trial. The Lancet. Volume 377, Issue 9784, P2181-2192, June 25, 2011. Disponível em <https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(11)60739-3/fulltext>

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