A pandemia do novo coronavírus está afetando a vida de todos, inclusive das crianças. Com o objetivo de controlar a doença e prevenir o surgimento de novos casos, a Organização Mundial da Saúde define como uma das principais medidas o confinamento domiciliar, reduzindo a circulação em massa das pessoas e, consequentemente a transmissão do vírus.
As creches estão fechadas, as aulas escolares foram suspensas, as famílias estão trabalhando em jornada home office, reduziram as interações sociais, os passeios, as viagens, as famílias tiveram que reorganizar suas rotinas, muitas tiverem reajustes de salários e estão enfrentando problemas financeiros. Mas de que maneira essas medidas impactam na saúde das crianças?
Crianças em isolamento
O confinamento na residência e todos esses aspectos estão relacionados ao risco de maiores níveis de estresse das famílias. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, esse estresse pode ser tóxico e prejudicial ao pleno desenvolvimento físico e mental das crianças, por curto, médio e longo prazo.
Por outro lado, o período de confinamento permite que a criança permaneça mais tempo na companhia de seus pais, estreita os laços familiares, permitindo que possam desenvolver atividades e brincadeiras juntos. É importante lembrar que o afeto, o vínculo e os momentos familiares agradáveis são essenciais para que a formação da estrutura cerebral da criança.
Permanecer em casa, sem frequentarem as creches e escolas reduz a exposição de bebês e crianças a diversos microrganismos, não só o SARS-CoV-2, como também os outros vírus responsáveis por infecções respiratórios, principalmente durante essa época do ano. Esse aspecto tem demostrado a redução no número de visitas aos serviços de emergências pediátricas e redução do número de internações, refletindo uma melhora da qualidade de vida e de saúde das crianças.
Apesar da adversidade que estamos vivendo, é importante que os pais conversem com seus filhos, de acordo com o nível de entendimento, sobre essa situação, enfatizando o seu caráter temporário e que tudo ficará bem. Os pais devem transmitir segurança e otimismo as crianças, para que sejam seguidos como exemplos. Esclarecer que não é um período de férias. É importante que as crianças tenham aberturas com os pais para expressarem seus medos também.
Atualmente, os telejornais destacam demasiadamente os números referentes ao Covid-19: número de casos e número de óbitos. Assistir a essas informações pode provocar sentimentos negativos na criança. Cabe orientar aos pais para que o acesso a essas informações, pela criança seja limitado.
É um excelente momento para reforçarem os bons hábitos de saúde, principalmente a higienização das mãos e etiquetas respiratórias, que devem ser realizadas sempre, inclusive após a pandemia. Manter uma alimentação saudável, hidratação e rotinas de sono adequadas são fundamentais. As atividades físicas realizadas dentro de casa, na varanda e no quintal devem ser realizadas, entretanto, orientações para prevenção de acidentes são importantes.
O uso de telas por crianças deve ser um dos focos de orientações do enfermeiro às famílias. Enfatizar as recomendações dos especialistas é proteger a saúde e o desenvolvimento dos bebês e crianças. Para os bebês de 0 a 2 anos, o uso de telas não é recomendado; crianças de 2 a 5 anos é recomendado o máximo de 1 hora por dia; e para crianças de cinco anos ou mais são recomendadas 2 horas no máximo de uso de telas; desde que não seja nas duas horas que antecedem o período de sono noturno.
Organizar o período de uso de tela pela criança, de acordo com a faixa etária, com o momento em que os pais necessitam realizar uma reunião home office é uma das estratégias colocadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. As videochamadas realizadas com o uso dos smartphones também podem ser uma alternativa para reduzir o distanciamento social, e auxiliar as crianças a diminuírem a saudade dos avós e dos amigos.
Por fim, podemos concluir que, apesar dos inúmeros aspectos negativos que a pandemia de Covid-19 reflete para a sociedade, o aumento da convivência familiar, a participação nas atividades domésticas de forma prazerosa, brincadeiras com os pais, as refeições em família, o afeto, associados a alimentação adequada, atividade física e boa rotina de sono, reiteram aspectos importantes, comprovados cientificamente, sobre os benefícios para o desenvolvimento da criança e manutenção da saúde.
Referência bibliográfica:
- Araújo L, et al. Pais e filhos em confinamento durante a pandemia de COVID-19. Sociedade Brasileira de Pediatria. Nota de Alerta, março, 2020.