Crianças e adolescentes não sofrem lesões ligamentares do tornozelo?

Uma revisão sistemática recentemente buscou determinar a incidência dos diferentes tipos de lesões laterais do tornozelo em crianças.

O trauma de tornozelo é a lesão ortopédica mais comum em crianças, sendo 30% delas relacionadas a esportes. A placa de crescimento é mais fraca que o osso esponjoso, periósteo ou ligamento e, por isso, geralmente falha primeiro. Por muito tempo acreditou-se que as lesões laterais do tornozelo pelo mecanismo de inversão tratavam-se de fraturas fisárias Salter-Harris do tipo 1 (SH1) ao invés de entorses com lesão do ligamento talofibular anterior (LTFA). Era considerada verdade absoluta a expressão “criança não sofre entorse”.

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Nos casos com alterações clássicas nas radiografias não há discussão sobre o diagnóstico. Entretanto, estudos mais recentes procuraram reconhecer que as entorses também podem ocorrer em crianças, surgindo como importante diagnóstico diferencial. Uma revisão sistemática publicada na revista “Foot and Ankle Surgery” recentemente buscou determinar a existência da lesão do LTFA, bem como a incidência dos diferentes tipos de lesões laterais do tornozelo em crianças e a utilidade dos diferentes métodos de imagem diagnósticos (radiografias, ultrassom e ressonância magnética).

Crianças e adolescentes não sofrem lesões ligamentares do tornozelo?

O estudo

Foram selecionados 11 artigos publicados entre 1996 e 2019 que incluíram pacientes menores de 16 anos com diagnóstico confirmado por imagem de lesão lateral no tornozelo. Todos os artigos selecionados contavam com mais de 10 casos.

A incidência de fraturas SH1 variou significantemente de acordo com a época de publicação dos estudos. Esteve entre 50 e 57,5% antes do ano 2000, 10 a 18% em estudos entre 2001 e 2012 e 0 a 3% em estudos publicados entre 2008 e 2016.

O diagnóstico de lesão condral por avulsão da fíbula não foi mencionado até 2010. Entretanto, em estudos mais recentes, tais lesões tiveram incidência aproximada entre 6 e 28,1%. A incidência de lesões do LTFA variou entre 19,6 e 45,4% nas séries publicadas entre 1998 e 2008. Já a partir de 2010, esses valores ficaram entre 76 e 80%.

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As radiografias foram exames importantes no diagnóstico das fraturas SH1 e lesões condrais por avulsão. O uso de ultrassom foi importante no diagnóstico das lesões do LTFA e de hematoma subperiosteal na fratura SH1. 

A utilização recente da ressonância magnética foi importante para revelar informações mais precisas. Zero a 3% de fraturas SH1, 6 A 28,1% de avulsões condrais e 76 a 80% de entorses do LTFA.

Conclusões

É notória a contribuição da ressonância magnética para rejeitar o mito de que entorses não acontecem em crianças. Da mesma forma, com o advento desse exame de imagem percebeu-se que as lesões condrais eram subdiagnosticadas.

O resultado dessas recentes descobertas impactou diretamente no tratamento dessas crianças, muitas das vezes evitando imobilizações por períodos prolongados e desnecessários.

Referências bibliográficas:

  • Rougereau G, Noailles T, Khoury GE, et al. Is lateral ankle sprain of the child and adolescent a myth or a reality? A systematic review of the literature. Foot and Ankle Surgery: Official Journal of the European Society of Foot and Ankle Surgeons. 2021 May. doi: 10.1016/j.fas.2021.04.010

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