Cuidados com a saúde mental de pessoas em situação de Guerra

A guerra da Ucrânia levantou discussões valiosas para o campo da saúde mental. O número de refugiados se aproxima de 4 milhões de pessoas.

A guerra da Ucrânia levantou discussões valiosas para o campo da saúde mental. O número de refugiados se aproxima de 4 milhões de pessoas. Após a invasão Russa, os que partiram de sua nação de forma inesperada, carregam experiências intensas de vulnerabilidade para suas famílias e um sentimento de medo e insegurança durante suas jornada. Muitos não sabem para onde vão e como vão ficar nesses novos lares provisórios. A insegurança e o medo podem disparar diversos gatilhos para o adoecimento, principalmente para aqueles que perderam seus entes queridos ou se afastaram de outros que decidiram ficar e lutar por seu pais. A desconstrução de uma vida, de uma cultura, de laços, de um cotidiano pode trazer inúmeros problemas para esses refugiados.

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Cuidados à saúde mental de pessoas em situação de Guerra

Impactos mentais

Podemos citar inúmeros problemas psíquicos que esta população pode desenvolver. Inicialmente os transtornos de ansiedade podem ser avassaladores, seguidos por transtornos depressivos, distúrbios comportamentais e estresse pós-traumático. Temos impactos diretos e indiretos a saúde das pessoas. Entre os refugiados temos recém-nascidos, crianças, adolescentes, mulheres, homens, idosos que sofrem por diversos motivos, mas todos eles possuem um intenso encontro com a violência, abandono e morte. Pessoas inicialmente utilizam de uma condição primitiva e fisiológica do sistema de luta-fuga em busca de sobreviver e proteger os seus, mas diante dos efeitos da guerra, após o estresse inicial, podem desenvolver ao longo do tempo, doenças psíquicas graves, comprometendo gravemente sua saúde.

Profissionais de saúde de todo mundo vêm se colocando à disposição para prover ajuda humanitária aos diversos refugiados. A guerra não é nova no mundo e muitos estudiosos já trabalham com capacitações para profissionais de saúde que queiram atuar em situações de desastres e guerras. Na guerra, temos peculiaridades que não há em desastres. Temos a violência humana como um fator de potencialidade das perdas e da constituição dos traumas e problemas psíquicos. Nesse momento que se faz importante o suporte frente tais vulnerabilidades mencionadas. Muitos profissionais querem trabalhar em situações do tipo e possuem dificuldades para essa formação. No Brasil, a Fiocruz, por meio do O Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), promove discussões sobre a temática que relaciona a gestão de risco em saúde, desastres e atenção a vítimas da Guerra. Outras instituições no país começam a compreender a relevância do tema.

Vamos conhecer algumas ações de cuidados com pessoas que sofrem em situação de guerra:

  • Buscar informação prévia sobre a extensão do problema e das especificidades da Guerra;
  • Não agir de forma isolada, se associando com equipe multiprofissional;
  • Utilizar EPI e permanecer em áreas seguras para a realização das atividades;
  • Fazer contato com profissionais locais, sistema de saúde e rede intersetorial, sempre que necessário.
  • Acolher as pessoas que passam pela situação de Guerra e a equipe que trabalha na localidade quando necessário;
  • Considere a faixa etária da pessoa e crie intervenções singulares;
  • Realize escuta qualificada e quando houver dificuldade de comunicação explorar a comunicação não verbal e o acolhimento sensível;
  • Fazer relatório dos atendimentos e construir projetos terapêuticos imediatos para cada pessoa e família de acordo com a possibilidade do local/conflito e condição.
  • Nessa situação calamitosa o afeto contribuirá para realizar atendimento nos abrigos, unidades de saúde, nas ruas e praças ou locais improvisados.
  • Liste pessoas desaparecidas ou entes da família da pessoa. É comum em situações de Guerra que as famílias se percam em trânsito imigrante;
  • Compreenda a autoestima da pessoa e desesperança e crie ações que possam confortá-la;
  • Em crises, faça o acolhimento das pessoas e crie estratégias de intervenção no curto prazo;
  • Administre medicações quando necessário, avaliando efeitos adversos dos fármacos;
  • O choro de dor emocional, o desespero por perda de parentes e a crise frente a calamidade podem ser reações comuns. Por isso é necessário um acolhimento emergencial nesses casos;
  • Fale de esperança e sobre possibilidades de acolhimento, tranquilize as famílias e passe confiança para essas pessoas que estejam em situação calamitosa.

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Sabemos que em situações de guerra as orientações pode se perder dada tamanha calamidade local. o profissional deve estar preparado para agir rápido e acolher as pessoas sempre em segurança. Importante que o profissional também possa conversar com outros profissionais dividindo experiências e construindo protocolos de cuidado e manejo desses usuários. Fique atento a todas as questões que possam surgir de acordo com a faixa etária da pessoa que está a realizar os cuidados. O afeto nesse momento com técnica de cuidado, pode salvar vidas e diminuir dores de uma barbárie que chamamos de guerra.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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