Dá para predizer quais pacientes terão metástase precoce após ressecção hepática?

A detecção precoce de metástase extra-hepática, foi determinada como o desfecho primário, que já prejudica a sobrevida do paciente.

As ressecções de metástase hepáticas colorretais foram uma das primeiras a provar o seu benefício e, posteriormente, até as ressecções de outras metástases extra-hepáticas, como as pulmonares.

A questão é que, uma vez ressecada a metástase, os pacientes possuem até 75% de chance de desenvolver novas metástases tanto no fígado quanto em outros sítios e, muitas vezes, irressecáveis ou intratáveis. Assim, ter uma atenção especial àqueles com maiores chances de desenvolverem recidivas é importante a fim de evitar tratamentos desnecessários.

Um trabalho publicado no British Journal of Surgery busca encontrar um modelo que auxilie predizer se um determinado paciente pode desenvolver metástases precoces extra-hepáticas após um tratamento local para metástase hepática. Além disso, os modelos existentes não levam em consideração, mutações como RAS/BRAF.

Saiba mais: Ablação de metástase pulmonar é realizada pela primeira vez somente com anestesia local

Dá para predizer quais pacientes terão metástase precoce após ressecção hepática?

Dá para predizer quais pacientes terão metástase precoce após ressecção hepática?

Métodos

Pacientes submetidos a tratamento de metástase colorretal por ablação ou ressecção, com intuito curativo foram incluídos no estudo, no período de maio de 2015 a dezembro de 2016, por um banco de dados da Holanda. Através deste banco de dados foi possível determinar todos os dados a respeito da cirurgia e do tumor, incluindo o status das mutações. Aqueles cuja busca pela mutação não estava disponível, eram realizados novos testes imuno-histoquímicas para a determinação do padrão, o que foi possível em 250 casos. Os dados de acompanhamento foram analisados até maio de 2020.

A detecção precoce de metástase extra-hepática (até seis meses do procedimento hepático), foi determinada como o desfecho primário, o qual por si só já prejudica a sobrevida do paciente.

Resultados

No período de observação foram incluídos 1105 pacientes submetidos a ressecção/ablação hepática por tumor colorretal, com uma perda de acompanhamento de apenas 11 dos 1105. A idade média global foi de 66 anos, 37,4% de mulheres, 797 (74%) dos pacientes possuíam metástases sincrónicas e 23,8% com tumor primário localizado no cólon direito. O status de mutação RAS/BRAF foi disponível em 701(65,1%) pacientes dos quais 352 (50,2%) possuíam uma mutação do RAS e 19(2,7%) do BRAF.

Em 35 meses de observação foram detectadas 807 recorrências (73%) e 249 óbitos. Em toda a análise ocorreram 557 (51%) recorrências extra-hepáticas dentro dos primeiros 12 meses sendo que 194 (18%) nos primeiros seis meses.

A análise de todos os dados, permitiu que se criasse um modelo matemático utilizando localização do tumor primário, grau de penetração da mucosa, status linfonodal, BRAF, número de metástases hepáticas, tamanho da maior metástase e utilização de terapia sistêmica adjuvante.

Discussão

O modelo apresentado neste trabalho, acrescenta aos atuais modelos, a localização do tumor primário assim como o status linfonodal. No entanto, a aplicação clínica deste modelo, ainda está para ser determinada. Este estudo confrma o conhecimento que apenas metade dos pacientes se apresentam com metástase exclusivamente hepática e que aqueles que possuem metástase extra-hepática possuem uma sobrevida global bastante comprometida.

Neste sentido, pacientes com alta probabilidade de desenvolver metástase extra-hepáticas, podem ser poupados de tratamento agressivos, visto que sua sobrevida é semelhante a aqueles que receberam apenas tratamento sistêmico. Apesar de todo o desenvolvimento matemático do modelo, ainda não é capaz de determinar aquele que seria necessário poupar um tratamento local.

Leia também: Colangiocarcinoma multifocal: quimioterapia de infusão arterial hepática ou ressecção cirúrgica?

Mensagem prática

O uso de modelos matemáticos é a primeira etapa para se criar ferramentas, a fuim de adequar condutas. A fórmula matemática proposta pelos autores foi disponibilizada em suplemento ao artigo, e sua aplicabilidade ainda está por ser defnida, por estudos subsequentes.

Devemos sempre lutar para uma melhor sobrevida do paciente, independente da sua doeça, no entanto existe um subgrupo de pacientes, cujo tratamento é prejudicial,

visto que implica comorbidades desnecessárias, sem uma melhora da sobrevida e/ou qualidade de vida. Conseguir defnir quem são estes pacientes é o desafo do tratamento multimodal das metástases hepáticas.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Wensink GE, Bolhuis K, Elferink MAG, et al. Predicting early extrahepatic recurrence after local treatment of colorectal liver metastases. Br J Surg. 2023;110(3):362-371. doi:10.1093/bjs/znac46

Especialidades