A doença renal crônica é uma condição associada à significativa morbidade e mortalidade em todo o mundo, especialmente por estar associada a outras doenças, como diabetes mellitus e hipertensão arterial. Projeta-se que, em 2030, aproximadamente 5,4 milhões de pessoas estarão recebendo terapia de substituição renal. Dentro desta terapia, cerca de 89% utilizam a hemodiálise como opção.
Uma das complicações observadas com essa modalidade (hemodiálise) é a desnutrição, que tem uma prevalência estimada de 28% a 54%. O paciente mal nutrido, além da perda da qualidade de vida, apresenta maior risco de complicações como infecções, aumentando morbidade. De forma didática, as causas para esta desnutrição podem ser divididas em não iatrogênicas e iatrogênicas.
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Causas não iatrogênicas
Neste grupo se encaixam as causas não diretamente relacionadas à hemodiálise, a saber:
- Dieta inadequada — muitos pacientes não têm o consumo dietético-calórico adequado seja por questões sociais/financeiras ou restrições alimentares excessivas.
- Depressão, ansiedade ou estresse — alguns indivíduos experimentam estes distúrbios psiquiátricos que podem contribuir para a redução do apetite e consequentemente redução da ingestão alimentar.
- Redução da capacidade física — isto ocorre por diversos fatores como sarcopenia e a própria fadiga induzida pela hemodiálise dificultando os pacientes de prepararem suas refeições.
- Resistência à ação da insulina — a presença de inflamação crônica de baixo grau relacionada à própria doença renal crônica leva à resistência à ação do hormônio e à consequente redução na captação de glicose pelos tecidos periféricos. Isso leva à processo de catabolismo proteico nos músculos e lipólise.
Causas iatrogências
A terapia de substituição renal por hemodiálise está relacionada a algumas complicações relacionadas ao processo que pode culminar com a desnutrição dos pacientes. Destacam-se:
- Acesso – observa-se que pacientes em uso de cateter endovenoso, em comparação com aqueles usuários de fístula arteriovenosa apresentam mais inflamação seja por ativação do sistema complemento e produção de citocinas quanto por infecções microbianas. Esta inflamação como visto anteriormente leva indiretamente à resistência à ação da insulina.
- Esquema dialítico — a hemodiálise inadequadamente realizada, com redução da frequência e duração, havendo persistência da acidose metabólica e de uremia leva à ativação de um sistema chamado ubiquitina-proteassoma que está relacionado à proteólise muscular.
- Tipo de membrana e reuso do dialisador — dependendo da membrana utilizada, com fendas maiores e também o reuso frequente do dialisador pode promover perda de aminoácidos e outros nutrientes pelo banho de diálise, acelerando o catabolismo corporal.
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Sendo assim, é fundamental que antes do início da hemodiálise seja feita uma triagem e adequada orientação alimentar para estes pacientes, a fim de evitar a desnutrição. Além disso, após o início desta terapia de substituição renal, é preciso haver ajustes no aporte de macro e micronutrientes para que não haja perda de qualidade de vida e funcionalidade, minimizando danos e morbimortalidade.