O dia 15 de julho é lembrado como o Dia Nacional do Homem, uma data que pode ser dedicada a se pensar sobre a saúde masculina porque este é um tema de interesse em saúde pública ao se constatar indicadores de violência, adoecimento e morte sobre essa população, sendo maior que qualquer outra.
A vulnerabilidade da saúde do homem está relacionada a peculiaridades do trabalho, comportamento social relacionado a violência e cultura do descuido da saúde. O Ministério da Saúde já identificou que as mulheres são mais cuidadosas com a saúde em relação aos homens, e que esses, carecem de políticas de incentivo à quebra de paradigmas machistas que os afastam das práticas de cuidado em saúde.
Nesse contexto, é necessário fazer a seguinte pergunta: por que os homens não buscam cuidados em saúde? Mesmo que a sociedade e estudiosos já tenham estabelecido discussões efetivas sobre o assunto, ainda é forte o comportamento que descende em linha histórica-cultural onde há um forte senso de masculinidade exagerada, no qual o homem, não pode demonstrar fraqueza. E, por esse motivo, há o afastamento da busca por cuidado à saúde, seja na prevenção de doenças ou para tratamento das mesmas, o que o colocaria em situação de vulnerabilidade ou fraqueza.
Política Integral à Saúde do Homem
Nesse aspecto, em 2009 foi elaborada a Política Integral à Saúde do Homem, que destaca os temas referentes ao acesso e ao acolhimento do homem, a saúde sexual e reprodutiva, a paternidade e cuidado, às doenças prevalentes na população masculina, a prevenção de violências e acidentes e o uso de álcool e outras drogas a fim de “qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade da atenção” (BRASIL, 2009).
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Ademais, uma nova discussão tem surgido, acerca da sexualidade e do gênero, sendo necessária que seja difundida a fim de garantir os direitos dos serviços de saúde para homens trans. Desse modo, cabe destacar que o conceito de homem trans, refere-se ao indivíduo que se percebe como homem e possui atributos socioculturalmente aceitos como masculinos, porém, nasceu com o aparelho reprodutor feminino e foi inicialmente socializado de acordo com o sexo de seu nascimento.
Ao considerar a saúde dos homens trans, deve-se ofertar uma abordagem holística e inclusiva a fim de garantir os direitos à saúde e os direitos sociais conforme é estipulada na Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Atualmente, a pessoa tem o direito ao processo Transexualizador (PtTr), que pode ser compreendido como um conjunto de ações que possibilitam a modificações corporais, como a hormonização e as cirurgias de redesignação sexual, além de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, acolhimento e acesso adequado aos serviços de saúde.
No entanto, após ser reconhecido socialmente como homem, podemos perceber a demonstração de alguns problemas relacionados ao cuidado à saúde que transcendem aqueles citados anteriormente, como por exemplo não buscar o serviço de saúde por medo de sofrer preconceito, seja por uma questão social, cultural ou histórica. Vale lembrar que homens trans que ainda possuem colo do útero, por exemplo, devem ser acolhidos nas Unidades de Saúde da Família para realização do colpocitológico, conforme protocolo, e é possível que haja resistência dos indivíduos e/ou de profissionais de saúde para essa adesão.
As dificuldades citadas podem acontecer seja pela falta de conhecimento, afinidade e experiência em abordar assuntos ainda considerados como tabu, visto que grande parte da sociedade tem sua construção baseada em conceitos pré-estabelecidos e isso acaba por inviabilizar uma parte da população que também tem direito ao cuidado à saúde.
Saúde do homem e enfermagem
Nessa perspectiva, ressalta-se a importância do profissional enfermeiro que, ao realizar a sua consulta de enfermagem, visa a integralidade da assistência ao seu cliente, livre de julgamentos e com o intuito de dar continuidade ao cuidado, algo essencial na promoção da saúde e prevenção de doenças. Para Gomes et al (2021) trazer à tona essa discussão com todos os profissionais das unidades de saúde é importante para que eles se atentem a falas, atitudes e comportamentos que possam ser considerados cisheteronormativos, além de realizar campanhas que informem sobre o direito que todos têm ao atendimento livre de preconceitos e prejulgamentos e ao uso do nome social.
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Por fim, compreende-se que a temática é de extrema importância para a sociedade, porque o homem trans, além de estar sujeito às mesmas condições do mundo machista, ainda tem barreiras de acesso ao serviço de saúde pautadas no preconceito estrutural e cultural da sociedade. Nesse ínterim, cabe aos profissionais de saúde refletirem acerca do processo de acolhimento universal da população e livre de preconceito, conforme estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para melhor adesão dos cuidados dessa população.
Autoria:
Isabelle Gaspar
Enfermeira – Residência em Saúde da Mulher (HESFA/UFRJ), Mestrado em Enfermagem (EEAN/UFRJ) e Especialização em Gênero e Sexualidade (CLAM/IMS/UERJ).
Mariana Marins
Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.
Rafael Polakiewicz
Doutorando em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF), Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF) e Especialista em Atenção Psicossocial.