Diabetes é fator de risco para progressão de insuficiência cardíaca?

Os mecanismos envolvidos na ocorrência de insuficiência cardíaca (IC) nos pacientes com diabetes ainda não são todos caracterizados.

Diabetes e insuficiência cardíaca (IC) são doenças altamente prevalentes e bastante relacionadas. Os mecanismos envolvidos na ocorrência de IC nos pacientes diabéticos ainda não são todos caracterizados e englobam tanto mecanismos isquêmicos quanto não isquêmicos e parece haver influência do controle glicêmico na progressão da doença. Porém, a atuação do diabetes e do controle glicêmico na progressão da IC ainda não foi bem estudada na população geral.

Foi feita então uma análise de uma coorte prospectiva do estudo ARIC (Atherosclerotic Risk in Communities) com objetivo de caracterizar a influência do diabetes na progressão dos estágios A e B da IC para os estágios de IC clínica.

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Diabetes é fator de risco para progressão de insuficiência cardíaca

Métodos do estudo e população envolvida

O estudo ARIC incluiu 15.792 pacientes de quatro centros dos EUA de 1987 a 1989. A partir de 2012 esses pacientes voltaram a ser seguidos via telefone e os dados incluídos neste estudo foram os obtidos de 4.774 pacientes, que tinham ecocardiograma disponível e não tinham IC clínica no início do seguimento.

Para as análises, pacientes diabéticos foram divididos em diabetes controlado (Hb glicada < 7%) ou não controlado (Hb glicada ≥ 7%) e a definição dos estágios da IC foi baseada na definição universal de 2021. O estágio A compreende pacientes com pelo menos 1 fator de risco para IC, sem alteração estrutural, o estágio B compreende pacientes com doença cardíaca estrutural ou biomarcadores cardíacos aumentados, na ausência de sintomas, e os estágios C e D compreendem pacientes sintomáticos.

O desfecho primário era um novo diagnóstico de IC aguda descompensada ou diagnóstico de IC estável crônica. O desfecho secundário foi IC aguda descompensada isoladamente. O seguimento foi realizado até 2017 em um centro e até 2019 nos outros três.

Resultados

A idade média dos pacientes foi de 75,4 anos, 58% eram mulheres e 30% tinham diabetes. Em relação aos estágios da IC, 32,5% tinham IC estágio A e 67,5% estágio B.

Considerando os estágios A e B, os pacientes com diabetes tinham maior tendência de serem negros, usar medicação para hipertensão e dislipidemia. Também tinham maiores níveis de LDL e triglicérides e níveis menores de HDL. Os diabéticos com IC estágio A tinham maior tendência de serem mulheres, etilistas e com pressão arterial mais baixa que os não diabéticos. Já entre os com estágio B, os diabéticos tinham maior tendência de taxa de filtração glomerular (TGF) reduzida que os não diabéticos.

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No seguimento médio de 7,5 anos houve 470 casos de IC, sendo 223 com fração de ejeção preservada (FEP), ou seja, maior que 50%, 186 com FE reduzida (FER), ou seja, menor que 50%, e 61 sem documentação da FE.

Pacientes com IC estágio B tinham maior risco de IC, independente de serem diabéticos. Porém, o risco dos diabéticos era maior que os do não diabéticos, sendo esse risco 4 vezes maior nos diabéticos no estágio B comparado aos não diabéticos no estágio A. Na análise multivariada, esse risco foi 5 vezes maior.

Em relação aos pacientes no estágio A, a idade média de ocorrência de IC clínica foi menor nos pacientes com Hb glicada ≥ 7%, comparado aos com Hb glicada < 7% ou não diabéticos (77 anos x 84 anos x 78 anos, p < 0,001) e o tempo para ocorrência da IC também foi menor nesses pacientes. Nos pacientes com IC estágio B esses achados foram semelhantes (80 anos x 82 anos x 83 anos, p < 0,001).

Além disso, pacientes que tinham diabetes por mais tempo tiveram risco maior de desenvolver IC clínica, principalmente quando no estágio B. Esses resultados foram semelhantes para o desfecho secundário.

Comentários e conclusão

Esse é o primeiro estudo que avaliou o impacto do diabetes na incidência de IC clínica em pacientes com IC pré-clínica. Como resultado vimos que diabetes foi associado a progressão da IC, que ocorreu em um tempo mais curto e em idade menor.

O risco foi maior para pacientes inicialmente no estágio B e quando o diabetes não era bem controlado e essa associação ocorreu de forma independente em relação a outros fatores de risco cardiovasculares.

Apesar de ser um estudo observacional, com possibilidade de haver fatores de confusão não identificados, os resultados são bastante interessantes e sugerem que o tratamento intensivo do diabetes desde o início é fundamental para diminuir a progressão da IC. Ensaios clínicos para avaliar o tratamento precoce no intuito de inibir o remodelamento cardíaco nos indivíduos com diabetes e doença cardíaca estrutural são necessários e uma classe de medicação interessante de ser testada é a dos inibidores do SGLT2, que têm grande benefício na IC sintomática.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Echouffo-Tcheugui JB, et al. Diabetes and Progression of Heart Failure: The Atherosclerosis Risk In Communities (ARIC) Study. Journal of the American College of Cardiology. 2022 June;79(23):2285-2293. DOI:10.1016/j.jacc.2022.03.378.