Disbiose pós-covid-19: como tratar?

A diversidade microbiana é um determinante da estabilidade do ecossistema microbiano. Saiba mais sobre como tratar a disbiose pós-covid-19.

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

O termo microbiota intestinal refere-se ao conjunto de microrganismos simbióticos (bactérias, vírus, micetos e protozoários) encontrados no trato digestório. A microbiota é considerada um verdadeiro “órgão dentro de um órgão”.  A mucosa intestinal, depois da respiratória, representa a maior superfície mucosa do nosso organismo: um verdadeiro órgão de defesa que atua como barreira contra fatores imunogênicos ou nocivos presentes no lúmen intestinal. Os componentes da microbiota humana incluem aqueles que causam fermentação como Lactobacillus e Bifidobacteria, e aqueles que causam putrefação como Escherichia, Bacteroides, Eubacteria e Clostridium.

Homeostase X disbiose intestinal

A homeostase intestinal (ou eubiose), é “a tendência natural para alcançar uma relativa estabilidade, que é comum a todos os organismos vivos, para o qual este regime dinâmico deve ser mantido ao longo do tempo, mesmo quando as condições externas variam, por meio de mecanismos auto-reguladores precisos”. Na homeostase, a microbiota atua de forma eficiente; ao contrário, na hipótese de “disbiose”, que é uma perturbação do equilíbrio homeostático, podem ocorrer alterações da imunidade, doenças, disbiose dentre outros.  Na disbiose, ocorre redução na diversidade de espécies bacterianas, redução de espécies benéficas e/ou proliferação de espécies nocivas.

Disbiose intestinal durante a covid-19

Pacientes com covid-19 têm alterações significativas nos microbiomas fecais, caracterizados pelo enriquecimento de patógenos oportunistas e pelo esgotamento de comensais benéficos. A  disbiose tem sido amplamente associada à gravidade da covid-19, uma vez que a diversidade microbiana é considerada como um determinante crítico da estabilidade do ecossistema microbiano. Outra alteração qualitativa que deve ser relatada é a diminuição de bactérias produtoras de butirato (como as espécies Faecalibacterium prausnitzii e Clostridium).  Este, por se tratar de um ácido graxo de cadeia curta, não é apenas responsável por necessidades energéticas do epitélio colônico, mas também preserva os tecidos, mitigando respostas inflamatórias crônicas através da regulação de citocinas pró e anti-inflamatórios. Um aumento de patógenos comuns na microbiota intestinal, como Prevotella, Enterococcus, Enterobacteriaceae, ou Campylobacter, foram consistentemente associadas a alta infectividade ou mau prognóstico. Pacientes com covid-19 podem ter ainda, aumento da proporção de fungos oportunistas patógenos, como Aspergillus flavus e Aspergillus niger, detectados em amostras fecais.

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Tratamento da disbiose pós-covid-19

O alvo do tratamento da disbiose deve ser retomar a homeostase ou eubiose intestinal. Perotta et al propôs um protocolo visando o tratamento da disbiose por covid-19 que incluiria anamnese detalhada, para identificar causas e sintomatologia agudas e crônicas e, em seguida, proceder a um plano de tratamento direcionado e personalizado. Exames complementares, avaliação clínica e reposições nutricionais podem ser prescritas. Outra ferramenta terapêutica de destaque é a prescrição de probióticos.

A figura abaixo sumariza a ação do vírus SARS-CoV-2 (covid-19) induzindo a disbiose intestinal e acometimento do trato gastrintestinal e os efeitos da suplementação probiótica.

Numerosos probióticos e produtos subprobióticos que exibem efeitos antivirais diretos e indiretos foram relatados na literatura científica. Bactérias produtoras de ácido lático como os lactobacilos podem exercer sua atividade antiviral por interação direta probiótico-vírus, a produção de metabólitos inibitórios antivirais, prevenindo infecção secundária e eliciando imunidade antiviral.  Probióticos orais demonstraram efeitos antivirais e, assim, melhoram a saúde intestinal visando restabelecer a homeostase. Como exemplo, citamos o Lactococcus lactis JCM 5805 que demonstrou atividade contra o vírus influenza através da ativação da imunidade antiviral.

Numerosos probióticos foram propostos como benéficos em infecções por coronavírus, mas as evidências que detalham suas eficácias no tratamento da infecção por covid-19 são limitadas. Plantarum Probio-38, L. salivarius Probio-37 e Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) podem inibir a gastroenterite transmissível Coronavírus. Embora esses probióticos e seus produtos forneçam a interação antiviral favorável com a composição imune no intestino, a viabilidade e efeito na saúde dos probióticos dietéticos para melhorar a disbiose em pacientes com covid-19 ainda carecem de comprovação.   Dezenove ensaios clínicos de suplementos alimentares de probióticos na covid-19 foram registrados no  ClinicalTrials.gov (reúne estudos que estão sendo realizados nos Estados Unidos) publicados de abril de 2020 a junho de 2021, mostrando o interesse pelo assunto.

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Considerações finais

A terapia direcionada ao microbioma pode fornecer uma alternativa para prevenir e/ou auxiliar no tratamento da disbiose por covid-19. Vários ensaios clínicos registrados de probióticos em covid-19, principalmente Lactobacillus e misturas de Bifidobacterium e Lactobacillus, estão em curso. A prescrição individualizada e baseada na expertise individual pode ser realizada em benefício dos pacientes.

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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