Efeitos do toque parental no alívio da dor aguda por procedimentos em neonatologia

O toque parental pode ser tão efetivo quanto outras medidas não farmacológicas para a dor em procedimentos neonatais

O toque é um ato muito importante para fortalecer o vínculo entre pais e seus bebês recém-nascidos, e dados da literatura demonstram que acariciar a pele na velocidade certa pode reduzir a dor sentida durante alguns procedimentos. O toque parental, como no contato pele a pele, ativam fibras especiais na pele que podem tornar os procedimentos, como coletas de sangue, menos dolorosos.  

Um protocolo de estudo que será conduzido no Reino Unido foi publicado no periódico BMJ Open em 2022. Objetivo do estudo é compreender se o toque parental pode reduzir a quantidade de dor que seus bebês sentem durante uma coleta de sangue.  

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Efeitos do toque parental no alívio da dor aguda por procedimentos em neonatologia

Efeitos do toque parental no alívio da dor aguda por procedimentos em neonatologia

Metodologia 

O “Petal” (parental touch on relieving acute procedural pain in neonates) é um estudo controlado randomizado multicêntrico que investigará se a atividade cerebral evocada por nocicepção é reduzida por toque parental pré-procedimentos neonatais. 

Um total de 112 recém-nascidos (RN) com 35 semanas de idade gestacional ou mais que requerem uma coleta de sangue na primeira semana de vida serão recrutados e randomizados para receber carinho dos pais antes ou depois do procedimento. Os pesquisadores registrarão a atividade cerebral por meio de eletroencefalograma (EEG), dinâmica cardíaca e respiratória, saturação de oxigênio e expressão facial para fornecer medidas de desfecho de dor.  

O desfecho primário será a redução da atividade cerebral evocada nociva em resposta a uma punção de calcanhar. Os desfechos secundários serão uma redução nos escores de dor clínica através da escala PIPP revisada (Premature Infant Pain Profile-Revised – PIPP-R), taquicardia pós-procedimento e ansiedade dos pais. 

Os pesquisadores destacam os seguintes pontos fortes e limitações do “Petal”: 

  • O julgamento é baseado em evidências publicadas de dois estudos que mostram uma redução na atividade cerebral evocada nociva durante uma picada’ de calcanhar ou estímulos experimentais em RN cuja pele foi escovada pelo experimentador antes do procedimento; 
  • O estudo investigará o carinho como uma intervenção simples, gratuita, de baixo risco e não farmacológica para alívio da dor, realizada pelos pais a seus bebês RN na primeira semana de vida; 
  • O estudo empregará múltiplas medidas substitutas para determinar o impacto do carinho na dor neonatal e investiga o impacto dessa intervenção na ansiedade e angústia dos pais; 
  • Por fim, embora os investigadores não possam ignorar a alocação do grupo no momento do estudo, essa limitação é mitigada ao garantir que os participantes e os pesquisadores envolvidos em todos os outros aspectos do estudo, incluindo a análise de dados, sejam cegos. 

Ética e divulgação  

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de Londres (ref: 21/LO/0523). Os resultados serão amplamente divulgados por meio de publicações revisadas por pares, conferências internacionais e por meio de nossas instituições beneficentes neonatais parceiras Bliss and Supporting the Sick Newborn And their Parents (SSNAP). Se a intervenção tátil dos pais for eficaz, as recomendações serão enviadas por meio do processo de adoção de diretrizes clínicas do Serviço Nacional de Saúde britânico. Os dados serão colhidos nos seguintes locais: John Radcliffe Hospital, Oxford, e Royal Devon and Exeter Hospital, Devon, Reino Unido.  

Em suma 

Os pesquisadores ressaltam que o estudo “Petal” é baseado em evidências claras de estudos de coorte preliminares e tem poder adequado para abordar a questão clínica da dor em RN. Ele emprega uma variedade de resultados multimodais, incluindo medidas eletrofisiológicas, comportamentais e cardiorrespiratórias, para cobrir os vários aspectos da experiência da dor e procura investigar os benefícios da intervenção tanto para RN quanto para seus pais. Por fim, descrevem que “a ocultação da avaliação dos resultados está sendo realizada para garantir a integridade do estudo, pois não é possível cegar os pesquisadores no momento do estudo devido à natureza da intervenção”. 

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Conclusão 

Os estudos sobre dor em RN são de fato muito recentes, porém têm sido cada vez mais valorizada a pesquisa científica em torno do tema. Ao contrário do que se pensava antigamente, bebês (incluindo RN prematuros ou não) apresentam imaturidade no sistema de condução da dor e, portanto, a vivenciam com muita intensidade. Medidas não farmacológicas têm sido empregadas com muito sucesso na pediatria e o toque através do contato pele a pele tem se mostrado muito eficaz. O estudo é promissor no que se refere ao conceito de que a experiência da dor vai muito além da nocicepção e será um grande avanço nas descobertas desses mecanismos em bebês tão pequenos. Já tive a oportunidade de assistir pessoalmente a uma palestra da Dra. Rebecca Slater, coordenadora do estudo. Sua linha de pesquisa é justamente sobre as estruturas que dirigem e modulam a percepção da dor no desenvolvimento humano precoce e já aguardo ansiosamente por mais notícias a respeito desse brilhante projeto. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • COBO, Maria et al. Multicentre, randomised controlled trial to investigate the effects of parental touch on relieving acute procedural pain in neonates (Petal). BMJ Open. 2022, v.12, n.7, p.e061841, 2022. DOI: 10.1136/bmjopen-2022-061841

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