Eficácia e segurança de tigecicilina na pneumonia multirresistente

Acinetobacter baumannii é um agente de muitas infecções hospitalares, como a pneumonia, que estão associadas a alta taxa de mortalidade.

Acinetobacter baumannii é um agente de muitas infecções hospitalares, como a pneumonia, que estão associadas a alta taxa de mortalidade. A multirresistência a antimicrobianos configura pior prognóstico a essas infecções e constitui uma grande preocupação mundialmente.

A tigeciclina é um antibiótico com largo espectro de ação – incluindo atividade contra Staphylococcus aureus, Acinetobacter sp. e enterobactérias – e que está aprovada para o tratamento de infecções de pele e partes moles, infecções intra-abdominais complicadas e pneumonias comunitárias.

Entretanto, os níveis séricos alcançados pela droga são inadequados para tratamento de bacteremias e estudos evidenciaram maior mortalidade com uso de tigeciclina como monoterapia, o que limita seu uso na prática clínica.

Uma revisão sistemática e meta-análise publicada na Journal of Antimicrobial Chemotherapy buscou avaliar a eficácia e segurança da tigeciclina como terapia para pneumonias causadas por A. baumannii MDR.

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Tigeciclina na pneumonia

Foram incluídos dez estudos, englobando 1.461 pacientes, a maioria comparando tigeciclina – como monoterapia ou em associação com colistina – com esquemas baseados em carbapenêmicos e/ou sulbactam. O uso de tigeciclina também foi comparado com colistina em monoterapia ou com a combinação colistina + carbapenêmico e/ou sulbactam.

Os desfechos de interesse foram resposta clínica – definida como melhora completa ou parcial dos sintomas ao fim do tratamento – e microbiológica – definida como esterilização ou erradicação bem sucedida durante ou ao fim do tratamento. Para avaliação da segurança, os desfechos foram a presença de eventos adversos e mortalidade.

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Resultados

No geral, tigeciclina apresentou taxas de cura clínica semelhantes aos grupos controle (OR = 1,04; IC 95% 0,60 – 1,81; p = 0,89). A análise por subgrupos, entretanto, mostrou uma tendência a números menores de cura clínica com tigeciclina quando comparada com esquemas baseados em colistina (OR = 0,62; IC 95% 0,35 – 1,09; p = 0,1). Por sua vez, quando comparada com esquemas baseados em carbapenêmicos e/ou sulbactam, a tendência foi de maiores taxas de resposta clínica com tigeciclina (OR = 1,39; IC 95% 0,83 – 2,33; p = 0,21).

Para cura microbiológica, as taxas de erradicação com tigeciclina foram significativamente menores do que nos grupos controle (OR = 0,43; IC 95% 0,27 – 0,66; p = 0,0001), o que também foi observado na análise por subgrupos de comparação com carbapenêmicos e/ou sulbactam (OR = 0,36; IC 95% 0,20 – 0,65; p = 0,0007). Em comparação à colistina, as taxas de cura microbiológica também foram menores no grupo da tigeciclina, mas sem diferença estatística significativa.

Em relação aos eventos adversos, os autores encontraram somente estudos avaliando nefrotoxicidade nos esquemas baseados em tigeciclina e colistina. Os pacientes que receberam tigeciclina em monoterapia ou em combinação com colistina apresentaram menor incidência de disfunção renal do que os pacientes que receberam esquemas baseados em colistina (OR = 0,34; IC 95% 0,16 – 0,74; p = 0,006), o que se manteve na análise por subgrupos (OR = 0,23; IC 95% 0,09 – 0,58; p = 0,002).

Somente um estudo avaliou tigeciclina + colistina com colistina em monoterapia, encontrando incidências semelhantes de nefrotoxicidade nos dois grupos (OR = 0,85; IC 95% 0,22 – 3,24; p = 0,81). Para mortalidade, não houve diferença entre os esquemas baseados em tigeciclina e os esquemas de controle.

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Conclusões

Os resultados são consistentes com uma meta-análise prévia que incluiu outros tipos de infecção além de pneumonia. A resposta clínica foi semelhante entre os diversos esquemas antibióticos, mas tigeciclina parece ser menos eficaz na resposta microbiológica, o que é compatível com os baixos níveis séricos atingidos pelo fármaco.

Outra possível explicação é o uso de doses padrão de tigeciclina na maioria dos estudos. O uso de doses maiores (100 mg, IV, 12/12h) foi associado a melhores respostas em alguns estudos com infecções por Gram-negativos.

É importante ressaltar as limitações dessa meta-análise, incluindo o baixo nível de evidência dos estudos avaliados, já que todos consistiam de estudos de coorte. Além disso, a maioria foi conduzida na China, o que pode gerar um viés regional. Considerando as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas da tigeciclina e os resultados desfavoráveis em trabalhos anteriores, novos estudos, capazes de fornecer maior nível de evidência, são necessários antes que recomendações para o uso desse antibiótico para pneumonias hospitalares possam ser feitas.

Referência bibliográfica:

  • Mei, H, Yang, T, Wang, J, Wang, R, Cai, Y. Efficacy and safety of tigecycline in treatment of pneumonia caused by MDR Acinetobacter baumanni: a systematic review and meta-analysis. J Antimicrob Chemother 2019 doi:10.1093/jac/dkz337

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