Erisipela versus celulite: aspectos práticos

Infecções de pele e partes moles são uma condição comum na prática clínica, tanto no contexto ambulatorial quanto hospitalar.

Embora, por vezes, sejam muito semelhantes, algumas características da erisipela e da celulite podem auxiliar o profissional de saúde a diferenciar essas condições. Confira alguns aspectos práticos sobre a clínica e o manejo dessas infecções tão prevalentes.

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Erisipela versus celulite: aspectos práticos

Etiologia

Os quadros de erisipela são causados por bactérias da espécie Streptococcus pyogenes, cocos gram-positivos residentes da microbiota normal da pele, como resultado de reação cutânea a toxinas. Embora quadros de celulite possam ser causados por S. pyogenes, essa condição médica também pode ser resultante da ação de outros microrganismos residentes da pele, notadamente Staphylococcus aureus.

A presença de linfedema é considerada fator de risco para o desenvolvimento de erisipela, enquanto traumas cutâneos, mesmo que pequenos, favorecem a evolução para celulite.

Outras condições, como presença de diabetes mellitus, mordeduras, contato com correntes de água, entre outros, podem estar associados com celulite por bactérias específicas, tais como S. agalactiae, Pasteurella multocida ou Capnocytophaga canimorsus, e Aeromonas hydrophila, respectivamente.

Quadro clínico

Classicamente, episódios de erisipela são descritos como tendo início súbito, sendo marcadas por eritema intenso com margens bem definidas, edema e dor. A evolução costuma ser rápida, podendo incluir bolhas flácidas superficiais que se desenvolvem em 2 a 3 dias. Febre e leucocitose também podem estar presentes. O edema pode seguir progredindo, mesmo que outros sinais e sintomas, como febre, dor e eritema, já tenham começado a reduzir. Após um período de 5 a 10 dias, as lesões evoluem para descamação. Face e membros inferiores são os locais mais comuns e idosos são os mais afetados.

Já as celulites são caracterizadas por uma condição inflamatória que afeta pele e subcutâneo que cursa com dor localizada, eritema, edema e calor. Um aspecto que auxilia no diagnóstico diferencial entre celulites e erisipelas é a característica do eritema: enquanto na erisipela a transição para pele sã é bem-marcada e o tom do rash costuma ser intenso, o rash da celulite é descrito como mais evanescente e de margens indefinidas. Sintomas sistêmicos – como febre, mal-estar e calafrios – podem acompanhar o quadro.

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Tratamento

O tratamento para ambas as condições é baseado nas etiologias mais prováveis. Diante de um quadro de erisipela, antibioticoterapia com cobertura para S. pyogenes é suficiente, podendo ser realizado com penicilina ou seus derivados. Já para quadros de celulite, é importante que o antibiótico escolhido tenha ação contra S. pyogenes e contra S. aureus.

Como a prevalência de penicilinases é alta nos últimos, um inibidor de beta-lactamase deve ser associado caso uma penicilina seja utilizada. Cefalosporinas de segunda geração, como cefalexina ou cefuroxima, são boas opções, podendo ser utilizadas em ambas as condições.

Atenção deve ser dada a aspectos que podem afetar a eficácia do tratamento. Um dos mais comuns é a necessidade de ajuste de dose segundo o peso, já que doses mais altas podem ser necessárias em indivíduos obesos. Outra avaliação a ser feita é em relação a melhor via de administração.

Embora, na maioria dos casos, a via oral seja adequada, algumas condições, como infecção extensa, presença de comorbidades que possam afetar a circulação na área afetada ou a ingesta oral, podem fazer com que terapia parenteral seja necessária.

Por fim, em casos de celulite, é importante também avaliar a presença de fatores de risco para infecção por MRSA. Na literatura, os fatores mais frequentemente associados à colonização por MRSA incluem a presença de lesões de pele (como em condições dermatológicas), atividades de contato (como em atletas de alguns esportes) e crianças.

Quando há forte suspeita de infecção por MRSA, antibióticos cujo espectro inclua esses organismos devem ser prescritos, em monoterapia ou em terapia combinada, dependendo do perfil local. Sulfametoxazol-trimetoprim e clindamicina são exemplos de medicações com excelente biodisponibilidade por via oral e que podem ser utilizados nessa situação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Stevens DL. Chapter 9: Cellulitis, pyoderma, abscesses and other skin and subcutaneous infections. In: Cohen, J, Powderly, WG, Opal, SM. Infectious Diseases. Third Edition. Elsevier. 2010.