Estatinas e risco cardiovascular: guiar por LDL ou sempre usar de alta potência?

Estudo incluiu pacientes com DAC estável ou síndrome coronariana aguda em 12 centros para comparar as duas estratégias de uso de estatinas.

Pacientes com doença arterial coronariana (DAC) são de alto ou muito alto risco para ocorrência de novos eventos vasculares maiores e a redução do colesterol LDL com uso de estatinas reduz essa ocorrência.

Alguns guidelines recomendam iniciar estatina de alta potência com objetivo de reduzir o LDL em pelo menos 50% do valor basal e manter na dose máxima tolerada independente do alvo ter sido atingido. Uma alternativa seria iniciar estatinas de intensidade moderada e ajustar de acordo com o LDL, porém essa estratégia não foi testada em estudos randomizados. Baseado nisso foi feito um estudo comparando as duas estratégias.

Estatinas e risco cardiovascular: guiar por LDL ou sempre usar de alta potência?

Métodos do estudo e população envolvida

Foi um estudo multicêntrico, randomizado, aberto, de não inferioridade, que incluiu pacientes com DAC estável ou síndrome coronariana aguda em 12 centros da Coreia do Sul. Os pacientes eram randomizados para receber estatina de alta potência ou guiada por metas de LDL. Os pacientes de cada grupo eram novamente randomizados para receber rosuvastatina ou atorvastatina e sua intensidade foi dividida em moderada (rosuvastatina 10 mg ou atorvastatina 20 mg) ou alta (rosuvastatina 20 mg ou atorvastatina 40 mg).

A meta de LDL definida para o grupo guiado por metas foi 70 mg/dL. Pacientes que já usavam estatina e tinham LDL menor que 70 mg/dL tinham a medicação trocada por uma de intensidade equivalente. Caso o LDL fosse maior que 70 mg/dL a intensidade da estatina era aumentada. No seguimento, a intensidade da estatina era aumentada se o LDL estivesse maior que 70 mg/dL, mantida se estivesse entre 50 e 70 mg/dL e reduzida se estivesse abaixo de 50 mg/dL. No grupo estatina de alta potência a medicação era mantida sem ajustes.

O desfecho primário era composto por eventos cardíacos e cerebrovasculares maiores, definidos como mortalidade por todas as causas, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou qualquer revascularização coronária em 3 anos.

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Resultados

Entre 2016 e 2019 foram randomizados 2.200 pacientes para cada grupo, cujas características de base eram semelhantes. A maioria dos pacientes (75%) tinha mais de 1 ano de diagnóstico na randomização e neste momento, 25% estavam usando estatina de alta potência e 57% de potência moderada.

No grupo guiado por metas, a estatina foi aumentada em 17%, reduzida em 9% e não teve alteração em 73%. Ao final do seguimento, 56% dos pacientes deste grupo estavam em uso de estatina de alta potência, comparado a 89% do grupo estatina de alta potência.

No período total do estudo, 43% dos pacientes do grupo guiado por metas usaram estatina de moderada potência e 54% de alta potência. Ezetimibe foi usado mais frequentemente no grupo guiado por metas.

Na avaliação inicial, em 6 semanas, o LDL do grupo guiado por metas era maior que o estatina de alta potência (69,6 x 66,8; p < 0,001). Após 6 semanas não houve mais diferença entre os grupos e o LDL médio dos 3 anos foi 69,1 mg/dL no grupo guiado por metas e 68,4 no grupo estatina de alta potência (p = 0,21). O desfecho primário ocorreu em 8,1% e 8,7% respectivamente nos grupos guiado por metas e alta potência (p < 0,001 para não inferioridade).

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Comentários e conclusão sobre as estratégias de uso de estatinas

Neste estudo, o uso de estatinas guiado por metas foi não inferior ao uso de estatinas de alta potência no seguimento de 3 anos. Essas duas estratégias de tratamento, amplamente utilizadas, ainda não haviam sido diretamente comparadas em relação a efetividade ou segurança.

Guiar-se por metas leva em consideração a variabilidade individual da resposta à medicação e pacientes bons respondedores não necessitam de estatinas de alta potência, o que facilita a manutenção da medicação, com menos suspensão por efeitos colaterais como dores musculares, hepatotoxicidade e toxicidade renal.

Alguns pontos precisam ainda ser definidos, como qual o alvo ideal de LDL a ser atingido (alguns guidelines utilizam 70 mg/dL, outros 50 ou 55 mg/dL). Além disso, é importante manter o alvo de LDL atingido ao longo do tempo.

Os resultados desse estudo reforçam a possibilidade de usar a estatina guiada pelo LDL, respeitando as respostas individuais de cada paciente à medicação e possivelmente reduzindo efeitos colaterais e melhorando aderência.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Hong S-J, et al. Treat-to-Target or High-Intensity Statin in Patients With Coronary Artery Disease: A Randomized Clinical Trial. JAMA. 2023;329(13):1078-1087. DOI: 10.1001/jama.2023.2487