Exposição à poluição do ar pode ter relação com depressão e suicídio?

Pesquisadores apontam que uma menor exposição a materiais particulados, da poluição do ar, pode reduzir em até 15% o risco de depressão.

Pesquisadores do Reino Unido apontam que uma menor exposição a materiais particulados, presentes no ar poluído, pode reduzir em até 15% o risco de depressão, ansiedade e até suicídio.

O estudo publicado no periódico Environmental Health Perspectives, em dezembro de 2019, afirma que se fosse reduzida a concentração de materiais particulados no ar – de 44 microgramas por m³ para 25 microgramas por um período maior do que um ano –, o risco de depressão poderia cair em até 15%.

chaminés de fábricas causando poluição do ar, que pode ter relação com depressão

Poluição e depressão

Os pesquisadores afirmaram que as novas evidências reforçaram ainda mais os apelos para enfrentar o que a Organização Mundial de Saúde chama de “emergência silenciosa da saúde pública” do ar sujo.

“Mostramos que a poluição do ar pode estar causando danos substanciais à nossa saúde mental, tornando a questão de limpar o ar que respiramos ainda mais urgente. Você pode prevenir 15% da depressão, assumindo que exista um relacionamento causal. Seria um impacto muito grande, porque a depressão é uma doença muito comum e está aumentando”, alertou Isobel Braithwaite, da University College London (UCL), pesquisadora líder, em entrevista ao jornal The Guardian.

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A análise do estudo se concentrou nos materiais particulados, que contêm sulfato, nitrato e carbono negro, e que estão associados a uma maior recorrência de problemas de saúde relacionados com a poluição.

“Sabemos que algumas das menores partículas do ar poluído podem navegar pelo sistema sanguíneo até o cérebro, mas ainda não entendemos completamente como a poluição pode afetar a saúde mental. Um dos mecanismos mais prováveis para explicar isso é a inflamação dos tecidos cerebrais, o que é associada ao aparecimento de doenças mentais, ao aumento do risco de depressão e a mudanças na produção do cortisol, conhecido como o hormônio do estresse”, afirmou Isobel Braithwaite.

Revisão de estudos publicados

Os pesquisadores utilizaram critérios rigorosos de qualidade para selecionar e agrupar dados de pesquisas de 16 países publicados durante 43 anos (de 1974 a setembro de 2017) em seis periódicos científicos com foco na poluição do ar e materiais particulados, e suas relações com doenças mentais.

Isso revelou uma forte ligação estatística entre ar tóxico, a depressão e o suicídio. A descoberta é apoiada por pesquisas mais recentes, incluindo estudos que vincularam a poluição do ar à “mortalidade extremamente alta” em indivíduos com transtornos mentais e um risco quadruplicado de depressão em adolescentes.

Entre as 1.826 citações encontradas, 22 atenderam aos critérios e nove foram incluídas na meta-análise. Os estudos envolveram uma população adulta, acima de 18 anos. Foram excluídas análises envolvendo grávidas e crianças, e doenças relacionadas ao uso do cigarro ou à atividade profissional.

Poluição do ar causa 7 milhões de mortes por ano

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição do ar causa a morte de 7 milhões de pessoas anualmente, pelo acúmulo de partículas finas que penetram no pulmão e no sistema cardiovascular, causando acidentes vasculares cerebrais (AVC), doenças cardíacas, câncer de pulmão e infecções respiratórias. Nove em cada dez pessoas respiram ar altamente poluído no mundo, afirma a OMS.

O estudo cita evidências de que inflamações no sistema nervoso central, causada pelas micropartículas, estão associadas a patologias como depressão e psicose. Outros estudos também apontam relação entre as micropartículas e um menor desenvolvimento cognitivo, além de elevação do risco de demência e de estresse.

“A pesquisa aponta evidências de que animais e seres humanos expostos a materiais particulados são induzidos ao estresse oxidativo e à inflamação do sistema neurológico, assim como a neurotoxicidade está associada a mudanças na estrutura do cérebro. Também foram encontradas evidências de que a produção do hormônio do estresse está associada à exposição a materiais particulados”, diz o artigo.

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Entretanto, as evidências permanecem limitadas e são necessárias mais pesquisas.

Os pesquisadores afirmaram que caminhar, andar de bicicleta e mais espaços verdes não apenas reduzem a poluição do ar, mas também melhoram a saúde mental.

“Todos precisamos fazer o possível para reduzir nossa própria contribuição para a poluição do ar, seja a pé ou de bicicleta. Mas também precisamos pensar em mudanças no sistema, o que significa políticas governamentais que ajudam a reduzir os níveis gerais de poluição do ar”, disse Isobel Braithwaite.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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