Falta de sono e alimentação inadequada aumenta gordura visceral abdominal?

Infelizmente, a falta de sono adequado menos vem se tornando um hábito cada vez mais comum, principalmente entre os mais jovens.

Não dormir o suficiente por noite combinado a uma alimentação excessiva e inadequada aumenta o acúmulo de gordura abdominal total e visceral abdominal, o que é altamente prejudicial para a saúde, apontam as descobertas de um estudo cruzado controlado e randomizado conduzido pela pesquisadora em medicina cardiovascular da Mayo Clinic, Naima Covassin.

A pesquisa mostrou que horas de sono insuficientes levam a um aumento de 9% na gordura abdominal total e a uma elevação de 11% na gordura visceral abdominal, comparado com sono controlado. O trabalho foi publicado no último dia 5 de abril no Journal of the American College of Cardiology e financiado pelo Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue (sigla em inglês, NHLBI).

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Falta de sono e alimentação inadequada aumenta gordura visceral abdominal

Comportamentos perigosos para a saúde

Infelizmente, a falta de sono vem se tornando um hábito cada vez mais comum, principalmente entre os mais jovens.

Segundo o estudo, mais de um terço dos adultos americanos não dormem o suficiente, seja por conta do trabalho em turnos ou pelo aumento da utilização de dispositivos inteligentes e redes sociais durante os horários tradicionais de sono. Além disso, os jovens tendem a comer mais durante longos períodos em que estão acordados, sem aumentar a carga de atividade física.

“Nossas descobertas mostram que o sono encurtado, mesmo em indivíduos jovens, saudáveis e relativamente magros, está associado a um aumento na ingestão de calorias, a um aumento no peso e a uma elevação significativa no acúmulo de gordura na barriga”, explicou o diretor da Unidade Cardiovascular e da Unidade do Sono do Centro de Ciências Clínicas e Translacionais da Mayo Clinic, o professor Virend Somers.

De acordo com o especialista, a gordura é preferencialmente depositada subcutaneamente ou abaixo da pele. Porém, a falta de sono parece redirecionar essa gordura para o compartimento visceral, o que é mais perigoso.

“É importante ressaltar que, embora durante o sono de recuperação tenha havido uma diminuição na ingestão de calorias e no peso, a gordura visceral continuou a aumentar. Isso sugere que um sono inadequado é um gatilho previamente não reconhecido para o depósito de gordura visceral e que o sono de recuperação, pelo menos a curto prazo, não reverte o acúmulo de gordura visceral. A longo prazo, essas descobertas implicam o sono inadequado como um componente contribuidor para as epidemias de obesidade, doenças cardiovasculares e metabólicas”, esclareceu Somers.

Segundo o médico neurologista do Hospital Badim, Thiago Aguiar Rodrigues, é importante lembrar que é durante o sono que o cérebro se “reorganiza” e consolida memórias formadas durante o dia.

“A melatonina também é um importante agente contra a formação de radicais livres no cérebro, que favorecem o envelhecimento da rede neural. A falta de sono está relacionada ao desenvolvimento de enfermidades degenerativas, como o Alzheimer. A curto prazo, o indivíduo que não dorme também tem prejuízos na cognição: atenção e memória, tornando-o mais lento, desatento e vulnerável a erros. Além disso, pode desenvolver doenças psiquiátricas, como ansiedade e depressão”, destacou o neurologista do Hospital Badim, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Como foi realizado estudo

Doze indivíduos saudáveis ​​e não obesos (9 homens, faixa etária de 19 a 39 anos) completaram um estudo randomizado, controlado, cruzado, de 21 dias de internação, compreendendo quatro dias de aclimatação, 14 dias de restrição experimental do sono (com sono de apenas quatro horas) ou sono de controle (com sono de nove horas) e um segmento de recuperação de três dias.

Foram adquiridas medidas repetidas de ingestão energética, gasto energético, peso corporal, composição corporal, distribuição de gordura e biomarcadores circulantes.

Cada grupo teve acesso à livre escolha de alimentos durante todo o estudo. Os participantes consumiram mais de 300 calorias extras por dia durante a restrição do sono, comendo 13% mais proteína e 17% mais gordura, comparado com o período de adaptação. Esse aumento no consumo foi maior nos primeiros dias de restrição de sono e, então, reduzido gradativamente para os níveis iniciais durante o período de recuperação. O gasto de energia permaneceu basicamente o mesmo durante o processo.

Conclusões finais

O acúmulo de gordura visceral foi detectado apenas via tomografia computadorizada e seria despercebido de qualquer outra forma, especialmente porque o aumento de peso foi bem modesto (apenas cerca de meio quilo).

“Medidas de peso por si só seriam falsamente tranquilizadoras em termos de consequências de sono inadequado para a saúde. Também são preocupantes os efeitos potenciais de períodos repetidos de sono inadequado em termos de acúmulo e aumento progressivo de gordura visceral no decorrer dos anos”, disse Naima Covassin.

Na opinião dos próprios pesquisadores, mais estudos serão necessários para determinar como essas descobertas em jovens saudáveis se relacionam com indivíduos de maior risco, como aqueles que já estão obesos ou têm uma síndrome metabólica ou diabetes.

“Mesmo assim, trata-se de um estudo de muita relevância, pois aponta mais um fator de risco para doenças cardiovasculares, além do aumento da gordura visceral, esteatose hepática, esteatohepatite não alcoólica (NASH) e outras doenças hepáticas graves. A questão da falta de sono teve uma piora significativa na pandemia de Covid-19 e resultou no grande aumento da prescrição de indutores do sono e benzodiazepínicos inclusive entre os jovens’, ressaltou a médica clínica e cardiologista Eliene Pinto de Souza, plantonista no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva e da unidade Cardiointensiva do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Saiba mais: Quantas horas de sono são suficientes?

Orientações aos médicos

É sempre importante explicar aos pacientes no momento da consulta sobre como realizar uma boa higiene do sono, como adotar certas medidas comportamentais que ajudam a induzir o sono e, assim, melhorar a sua saúde e qualidade de vida.

“A atividade física também é fundamental. Em vez de simplesmente prescrever remédios para dormir e calmantes, deve-se procurar a origem do problema com uma boa anamnese. E investigar: a insônia é inicial, intermediária ou final? O paciente fica ruminando pensamentos na cama à noite? Seu cônjuge reclama de roncos ou movimentos durante a noite? Quando você notou a mudança no padrão de sono? E também solicitar exames, como a polissonografia, quando necessário’, concluiu o neurologista Thiago Rodrigues.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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