Uma das respostas mais comuns na consulta de puerpério sobre a indicação da cesárea, dada pelas mulheres, é a “falta de passagem”. No entanto, na prática, observa-se pelo relato das mulheres que elas se internaram no que temos chamado na obstetrícia de fase latente de trabalho de parto e continuaram nessa fase até ser realizada a cesárea. Trata-se de uma definição didática e, por isso, a mesma pode sofrer variações de acordo com a individualização dos casos. Mas, de forma geral, é considerada como o período que a mulher apresenta contrações uterinas que não são capazes de provocar modificação cervical acima de 4 ou 5 centímetros.
Todavia, a fase latente e as contrações que a acompanham podem ser consideradas pela mulher e família como iminência do parto, e requerem, além da avaliação física, a compreensão do conhecimento da mulher e família sobre o assunto. Observa-se que quando as mulheres e acompanhantes estão convictos que o parto é iminente, ainda nessa fase, a demanda por internação e em alguns casos, até intervenções desnecessárias são maiores.
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Além disso, quando a equipe de assistência não compreende o comportamento da fase latente, a condução do trabalho de parto (quando o parto é estimulado por técnicas artificiais) é mais comum, assim como as cesáreas, e em alguns casos, iatrogenias. No Brasil, a definição e condução da fase latente estão previstas na diretriz nacional de assistência ao parto normal, desenvolvida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC).
Escopo do documento
O documento define como fase latente quando há contrações uterinas dolorosas e há alguma modificação cervical, incluindo apagamento e dilatação até 4 cm. Nesse momento, quando a dilatação é menor ou igual a 3 centímetros e o trabalho de parto não está estabelecido, é recomendado que a mulher não seja internada, mas receba suporte emocional e métodos de alívio da dor, e retorne para casa, considerando a distância e compreensão do processo de trabalho de parto pela mulher e família.
Ademais, o enfermeiro, por meio do histórico de enfermagem bem colhido é capaz de discutir o caso com a mulher, família e equipe multiprofissional, e juntos decidirem qual o melhor momento para internação, considerando a evolução do pré-natal, e os fatores de risco para desfechos desfavoráveis. Ressalta-se que a diretriz de assistência ao parto normal trata principalmente de gestantes de pré-natal de risco habitual.
Mensagem final
A fase latente tem duração indeterminada, que varia de dias a horas, de acordo com cada mulher. A mesma pode ser entendida como o momento do parto, sem corresponder de fato a esse período. Por isso, além do conhecimento da fisiologia do parto, técnicas de comunicação assertiva, intervenções com foco no alívio da dor e da ansiedade devem ser adotadas pelo enfermeiro, a fim de garantir a assistência obstétrica segura e satisfatória para a família em questão.
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A fase latente se encerra com a esperada fase ativa de trabalho de parto. Nesse momento, as contrações são regulares e a dilatação do colo uterino é maior que 4 centímetros. Em primíparas, essa fase dura geralmente de 8 a 18 horas, e em multíparas, de 5 a 12 horas. Nessa fase é indispensável a monitorização frequente dos sinais vitais da mulher, das contrações uterinas, eliminações urinárias e perdas vaginais, além do acompanhamento fetal, por meio da ausculta dos batimentos cardíacos fetais e da movimentação fetal.
Referências bibliográficas:
- CONITEC. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal: relatório. Brasília. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, CONITEC; 2016. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Consultas/2016/Relatorio_Diretriz-PartoNormal_CP.pdf