Fatores de risco associados à infecção por coronavírus em profissionais de saúde

Uma das grandes preocupações durante a epidemia é a possibilidade de contaminação dos profissionais de saúde no atendimento de pacientes com coronavírus.

Uma das grandes preocupações durante a epidemia é a possibilidade de contaminação dos profissionais de saúde durante o atendimento de pacientes com coronavírus. Estudos epidemiológicos demonstraram transmissão nosocomial e, em diversos países, profissionais da saúde têm se contaminado. Um estudo chinês recente procurou avaliar fatores de risco associados à infecção

Profissionais de saúde higienizando ambiente na pandemia do Covid-19, para diminuir os fatores de risco associados à infecção por coronavírus.

Fatores de risco para coronavírus

Trata-se de um estudo retrospectivo conduzido em um hospital de referência para tratamento de casos de Covid-19. Médicos e enfermeiros maiores de 18 anos que trabalharam com atendimento de casos suspeitos e confirmados de Covid-19 e que apresentaram sintomas respiratórios agudos. Esses foram definidos pela presença de pelo menos um dos seguintes: tosse, febre, bradipneia, desconforto torácico, cefaleia, hemoptise, outros sintomas relacionados à doença respiratória e diarreia.

Os profissionais foram categorizados em dois grupos baseado no risco de exposição. O grupo de alto risco de exposição foi definido como os trabalhadores em departamentos considerados de alto risco, em que há realização de procedimentos médicos ou cirúrgicos com potencial de gerar aerossol, incluindo departamentos de Pneumologia, Infectologia, UTIs e departamentos cirúrgicos. Outros departamentos foram classificados como grupos gerais.

Os profissionais incluídos no estudo foram submetidos a questionários online com informações sociodemográficas, tempo até início de sintomas, história de contato, prática médica, higienização das mãos e uso adequado de EPI. O desfecho foi diagnóstico de Covid-19 por meio de PCR.

Resultados

Um total de 83 questionários foram coletados, dos quais 72 foram considerados válidos (taxa de efetividade de 86,75%). Destes 72, 39 pertenciam a profissionais classificados como de baixo risco (grupos gerais) e 33 foram classificados como alto risco. As idades variaram de 21 a 66 anos, com média de 31 anos. A média de horas trabalhadas era de 8h/dia.

Vinte e oito participantes foram diagnosticados com Covid-19. Os sintomas mais comuns foram febre (85,71%), tosse (60,71%), bradipneia (7,14%), desconforto torácico (7,14%), cefaleia (7,14%), diarreia (7,14%) e hemoptise (7,14%).

Em relação à história epidemiológica, contato com caso confirmado de Covid-19 em familiar, contato com paciente com caso confirmado e contato com paciente com caso suspeito apresentaram significância estatística como fatores de risco, com riscos relativos de 2,76 (IC 95% = 2,02 – 3,77; p < 0,01), 0,36 (IC 95% = 0,22 – 0,59; p < 0,01) e 0,49 (IC 95% = 0,27 – 0,89; p < 0,05), respectivamente.

Outros fatores encontrados que mostraram associação com infecção foram higienização das mãos inadequada (RR = 2,64; IC 95% = 1,04 – 6,71; p < 0,05), higienização das mãos antes do contato com o paciente subótima (RR = 3,10; IC 95% = 1,43 – 6,73; p < 0,01), higienização das mãos depois do contato com o paciente subótima (RR = 2,43; IC 95% = 1,34 – 4,39; p < 0,01) e EPI inapropriado (RR = 2,82; IC 95% = 1,11 – 7,18; p < 0,05). A realização de procedimentos, incluindo reanimação cardiopulmonar e aspiração de secreções, não mostrou associação com infecção dos profissionais. Não houve casos de intubação orotraqueal incluídos na análise.

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Avaliando-se à classificação de risco, o grupo que trabalhava em departamentos considerados de alto risco teve um risco 2,13 maior de diagnóstico por Covid-19 em comparação aos trabalhadores de outros departamentos (RR = 2,13; IC 95% = 1,45 – 3,95; p < 0,05). A análise estatística também mostrou que a proporção de profissionais livres de doença diminuiria com aumento de carga horária diária.

Embora seja um estudo pequeno e retrospectivo, cujo desenho está sob risco de viés de recordação, os resultados mostram associações interessantes e que podem ser alvos de intervenção.

Mensagens práticas

  1. Embora contatos com pacientes sejam um vínculo epidemiológico importante, contatos com familiares diagnosticados com Covid-19 também foram um fator associado à infecção dos profissionais.
  2. Febre e tosse foram os sintomas encontrados mais comuns.
  3. Higienização inadequada das mãos se mostrou um fator com RR maior do que inadequação de EPI, reforçando a importância da adesão dessa medida no manejo desses pacientes.
  4. Longas horas de trabalho também se mostraram como fatores de risco. Limitação do número de horas de turnos e revezamento de equipes podem passar a fazer parte das estratégias para evitar a infecção dos profissionais de saúde que lidam diretamente com a assistência de pacientes diagnosticados com Covid-19.

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Referências bibliográficas:

  • Ran, L, Chen, X, Wang, Y, Wu, W, Zhang, L, Tan, X. Risk Factors of Healthcare Workers with Coronavirus Disease 2019: A Retrospective Cohort Study in a Designated Hospital of Wuhan in China. Clinical Infectious Diseases, ciaa287, https://doi.org/10.1093/cid/ciaa287

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