Historicamente, as espondiloartrites axiais (axSpA) foram associadas a pacientes do sexo masculino. No entanto, com o avanço dos métodos diagnósticos, percebemos uma menor desproporção entre sexos, chegando a uma relação próxima de 1:1 nas formas não radiográficas da doença. Assim, o estudo dos desfechos gestacionais relacionados às axSpA vem ganhando importância mais recentemente.
Em meta-análises recentes, diferentes grupos encontraram um aumento no risco de desfechos gestacionais ruins em pacientes com axSpA, como maior necessidade de cesariana (principalmente eletiva) e fetos pequenos para a idade gestacional. Dados relativos à pré-eclâmpsia, parto pretermo, baixo peso ao nascer ou malformações congênitas foram menos conclusivos.
Meissner et al. fizeram uma análise dos dados de registro europeus de gestação (EuNeP) para fornecer mais informações a esse respeito.
Métodos
Trata-se de um estudo de coorte que fez uso secundário de dados coletados prospectivamente em diferentes coortes europeias de gestação em pacientes com doenças reumáticas (EGR2 da França, RePreg da Suíça, RevNatus da Noruega, Rhekiss da Alemanha), reunidas com sob o termo EuNeP.
Os desfechos primários analisados foram diversos desfechos gestacionais (pré-eclâmpsia, parto pretermo e via de parto) e neonatais (baixo peso ao nascer < 2.500 g, macrossomia > 4.000 g, pequeno para idade gestacional <p10 e grande para idade gestacional >p90)
Entre os desfechos secundários, foram analisadas atividade de doença 6 meses antes da concepção, a cada trimestre e 6 meses após parto. O uso de anti-TNF também foi avaliado nesses mesmos períodos.
Resultados
Foram analisadas 332 gestações em 304 pacientes com axSpa; dessas, apenas 3 foram de gêmeos e 1 de trigêmeos. A maioria das gestações resultou em nascidos vivos (98,8%); foram relatadas 3 perdas gestacionais após 12 semanas e 1 natimorto. A idade das pacientes no momento da concepção foi de 31,4 anos, com tempo médio entre o diagnóstico da axSpA e a concepção de 5 anos.
A grande maioria (78,4%) das pacientes receberam aconselhamento pré-concepcional. Cerca de 50% das pacientes receberam tratamento com anti-TNF, sendo que 27,5% fizeram uso no primeiro trimestre e 21,4% no terceiro.
Saiba mais: Como identificar precocemente a espondiloartrite axial em parentes de primeiro grau
As taxas de morbidade gestacional foram as seguintes: 2,2% de pré-eclâmpsia, 4,9% de partos pré-termo, 3,1% de baixo peso ao nascer e 9,5% de fetos pequenos para a idade gestacional. As taxas de cesariana foram de 27,7% (47,4% foram de urgência). As pacientes se mantiveram em bom controle da doença (BASDAI < 4) em todos os períodos de tempo analisados.
Comentários
Como o corpo de conhecimento a respeito da gestação nas axSpA está em construção, esse estudo é importante por trazer dados de vida real provenientes de diversos centros especializados na Europa.
Os autores encontraram taxas de morbidade gestacional inferiores àquelas descritas em outros estudos. Isso pode ser resultado de um melhor controle da doença, uma vez que as pacientes eram acompanhadas em centros com expertise no tratamento das axSpA. Desse modo, esses resultados não representam, necessariamente, as taxas observadas em outras populações com menor acesso ao tratamento especializado, como o Brasil.
Como aprendizado, podemos inferir que um bom controle da doença e um bom aconselhamento pré-concepcional podem auxiliar na obtenção de melhores resultados obstétricos nas pacientes com espondiloartrites axiais (axSpA). Esses alvos devem ser buscados em todas as gestações nesse grupo de pacientes.
19 mar. 2024 
5 min. 
