Imunobiológicos na asma: uma realidade também na Pediatria

Diversas opções de imunobiológicos para tratamento da asma alérgica/eosinofílica patologia têm sido aprovadas pela Anvisa nos últimos 2 anos.

Embora os medicamentos imunobiológicos já sejam usados há anos em especialidades, como a reumatologia, apenas recentemente este grupo de medicamentos tem se tornado realidade no tratamento das doenças alérgicas. Ainda assim, a maior parte destas drogas é estudada e direcionada para adultos, havendo constante atraso na disponibilidade das mesmas para crianças e adolescentes.  

Felizmente, tem havido uma tendência de maior atenção para a população pediátrica o que, sem dúvida, possibilita melhora da qualidade de vida destes pacientes.   

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As doenças alérgicas que atualmente têm como alternativa terapêutica os imunobiológicos incluem asma, dermatite atópica, urticária crônica e esofagite eosinofílica, dentre outras. A asma alérgica/eosinofílica é uma das patologias mais estudadas neste sentido e diversas opções de imunobiológicos para tratamento desta patologia têm sido aprovadas pela Anvisa nos últimos 2 anos.  

Em março deste ano, a JACI (Journal of Allergy and Clinical Immunology), uma das mais importantes revistas médicas internacionais dentro da Alergia e Imunologia, publicou uma revisão dos medicamentos imunobiológicos atualmente disponíveis para o tratamento da asma na criança e no adolescente. 

Opções de imunobiológicos na asma  

Omalizumabe 

Trata-se de um anticorpo monoclonal humanizado que se liga à IgE livre, impedindo a ligação deste anticorpo ao seu receptor de alta afinidade em células como basófilos e mastócitos, responsáveis pela liberação dos mediadores envolvidos nos sintomas alérgicos mediados por IgE. O omalizumabe (Xolair®) foi o primeiro imunobiológico aprovado para tratamento de asma alérgica e, atualmente, está indicado a partir de 6 anos de idade para tratamento de asma moderada/grave, reduzindo a gravidade das exacerbações e uso de corticosteroides orais.  

Dupilumabe 

Por ser capaz de bloquear duas citocinas importantes na inflamação do tipo 2, a IL-4 e a IL-13, o dupilumabe (Dupixent®) se destaca com excelentes resultados no tratamento de doenças que envolvem esse tipo de inflamação, incluindo a asma alérgica/eosinofílica. Trata-se de um anticorpo monoclonal humano cujo alvo é a cadeia alfa do receptor de IL-4, componente do complexo de receptores de ambas as citocinas citadas.

Assim como o omalizumabe, já está liberado em bula para crianças a partir de seis anos de idade no caso da asma e até mesmo para crianças a partir de 6 meses de idade para tratamento de dermatite atópica moderada/grave. Embora todas as drogas citadas reduzam gravidade das exacerbações, o dupilumabe é o único que demonstra melhora da função pulmonar de forma consistente e relevante.  

Mepolizumabe e Benralizumabe 

Ambas as medicações são opções para fenótipo de asma eosinofílica, pois bloqueiam de formas diferentes a via da IL-5, um importante mediador da resposta por eosinófilos. O mepolizumabe (Nucala®, liberado a partir de 6 anos de idade) bloqueia diretamente esta interleucina, enquanto o benralizumabe (Fasenra®, liberado a partir de 12 anos de idade) se liga a cadeia alfa do receptor de IL-5, gerando rápida depleção de eosinófilos via citotoxicidade celular dependente de anticorpos. O perfil de segurança e eficácia é semelhante, sendo geralmente bem tolerados.  

Tezepelumabe 

A TSLP (linfopoietina estromal tímica) é derivada do epitélio e sinaliza injúrias na via aérea, estimulando tanto a resposta inflamatória do tipo 2 quanto a não-tipo 2. O tezepelumabe (Tezspire®) é um anticorpo monoclonal humano que inibe a TSLP, impedindo que se ligue ao seu receptor. Diferente dos outros imunobiológicos, não é necessário demonstrar a inflamação do tipo 2 para indicar a medicação.  

Considerações gerais  

Todos os imunobiológicos citados têm se mostrado seguros em diferentes faixas etárias, justamente por serem medicamentos que atuam em porções muito específicas da resposta imune alérgica.  

Um dado importante a se considerar é que todas estas medicações são de uso subcutâneo, o que pode ser um desafio para o público pediátrico. Além disso, eles tendem a ter um custo mais elevado em comparação com os tratamentos convencionais para a asma. É essencial avaliar cuidadosamente os benefícios e riscos de cada opção terapêutica, levando em consideração a gravidade da doença e a resposta individual de cada paciente.  

Deve-se considerar ainda a ausência de estudos de eficácia e segurança em longo prazo, não estando claro como proceder após controle da doença no sentido da descontinuação da medicação. Em adultos, usualmente há retorno da atividade da doença após suspensão da droga.  

Conclusões  

Os biológicos são uma opção promissora para o tratamento da asma grave em crianças e adolescentes. Eles oferecem uma abordagem mais direcionada e personalizada, visando os mecanismos específicos da inflamação das vias aéreas.

A eficácia no controle dos sintomas asmáticos e na redução das exacerbações em diferentes subtipos de asma foi demonstrada em todas as opções citadas. No entanto, é importante considerar o modo de administração, o custo e a avaliação individualizada dos riscos e benefícios antes de iniciar o tratamento com biológicos em crianças e adolescentes com asma grave. 

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Mensagem final 

A disponibilidade dos imunobiológicos na prática clínica é uma prova da evolução natural da ciência na direção da medicina de precisão, trazendo aumento da qualidade de vida e minimizando efeitos adversos relacionados ao tratamento. Infelizmente, ainda são medicamentos de alto custo e, por vezes, deixam de ser prescritos por desconhecimento ou mesmo insegurança.

De qualquer forma, esta classe de fármacos é uma grande opção no tratamento da asma moderada/grave e é dever do médico indicá-las quando necessário. Todas as medicações descritas estão disponíveis no Brasil.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • BACHARIER, Leonard B.; JACKSON, Daniel J. Biologics in the treatment of asthma in children and adolescents. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 151, n. 3, p. 581–589, 2023.