Manejo clínico da chikungunya (CHIKV) nas fases crônica e aguda

A chikungunya (CHIKV) é uma doença viral transmitida aos seres humanos pelo mosquito Aedes e foi descrita pela primeira vez em 1952.

Em 2004 houve um surto de chikungunya (CHIKV) que acometeu mais de 100 países com mais de dez milhões de infecções e, em 2013, houve outro grande surto da doença na América Latina. Vários fatores contribuem para a disseminação da doença, como controle limitado de mosquitos em áreas urbanas densamente povoadas, mudanças climáticas e falta de vacinas e tratamentos específicos e eficazes.

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A CHIKV tem uma apresentação clínica diversa que pode ser classificada em três fases: aguda, subaguda e crônica. A fase aguda se caracteriza por uma doença febril com poliartralgia, rash cutâneo e cefaleia. Essa fase pode ser seguida pela fase subaguda que pode durar até três meses. Embora a infecção aguda raramente seja grave, em recém-nascidos, idosos (acima de 65 anos), gestantes e pessoas com comorbidades, ela pode ser fatal. A fase crônica acomete cerca de 40% dos infectados e inclui sintomas debilitantes de artralgia, artrite e prostração que podem levar à incapacitação com diminuição da qualidade de vida e, consequentemente, impacto laborativo que pode durar até 6 anos.

Uma revisão publicada na revista The Lancet no dia 28 de setembro de 2022 reúne diretrizes de manejo de 2017 para frente.

Manejo clínico da chikungunya nas fases crônica e aguda

Métodos

Nesta revisão sistemática foram incluídos 28 guidelines, 54% produzidos há mais de 5 anos e a maior parte com baixa qualidade de evidência, além de discordarem no manejo de populações de risco, sequelas a longo prazo e prevenção de disseminação da doença. Assim, como os próprios autores salientam, é essencial a atualização das diretrizes existentes para que forneçam informações com evidência científica de qualidade. Além disso, mais pesquisas são necessárias principalmente para o manejo das fases aguda e crônica.

  • Fase aguda
    • A maior parte das diretrizes recomendou o manejo sintomático, além de repouso e hidratação. Porém, de forma geral, houve uma falta de detalhamento para orientar os cuidados de suporte.
    • O paracetamol foi indicado pela maioria dos guidelines como analgésico de primeira escolha, podendo escalonar para tramadol, codeína ou opiáceos (associando ou não ao paracetamol) para dor de difícil controle.
    • Houve orientação variada e contraditória com relação ao uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES).
    • Houve heterogeneidade significativa nas recomendações de corticoesteroides, com estudos inclusive desaconselhando na fase aguda.
    • Metade dos guidelines citou a falta de antivirais eficazes.
    • Metade recomendou internação para os casos graves sendo os critérios de internação qualquer sinal de instabilidade hemodinâmica, quadros atípicos, dor de difícil controle e descompensação de comorbidades prévias.
    • As recomendações de suporte para os casos graves incluíram reposição de fluídos intravenosos, monitoramento hemodinâmico, infusão de hemocomponentes, suporte em terapia intensiva e imunoglobulina nos casos de polineuropatia relacionada à CHIKV.
  • Fase crônica
    • A maior parte recomendou analgesia com AINES, paracetamol e opiáceos.
    • Corticoesteroides foram recomendados para artrite/artralgia incapacitante refratária a outros tratamentos, assim como para sintomas neuropáticos, tendinite, bursite com evidência de sinovite grave, edema articular e elevação persistente de marcadores inflamatórios. Houve variação considerável em qual medicação usar, dosagem e tempo de tratamento.
    • Medicamentos antirreumáticos modificadores de doença e antimaláricos derivados da cloroquina foram considerados para tratamento de sequelas e sintomas crônicos. 65% recomendaram metotrexato como primeira linha e 24%, cloroquina/hidroxicloroquina.
    • As diretrizes aconselharam o uso de medidas de pontuação quantitativa (escalas visuais, escores clínicos e questionários estruturados) para medir desfechos como dor, envolvimento articular, qualidade de vida e capacidade funcional.
  • Populações de risco
    • A maior parte das diretrizes identificou crianças e recém nascidos como grupos de risco para doença grave, porém, os critérios de encaminhamento e monitoramento divergiram, assim como as medidas para reduzir a transmissão transplacentária, como o uso de imunoglobulina anti-CHIKV.
    • Houve também limitação no aconselhamento do manejo em idosos e pessoas com comorbidades.

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Considerações sobre chikungunya

A chikungunya (CHIKV) é um grave problema de saúde global e não há tratamento específico ou vacina aprovada, embora algumas estejam em fase de teste em humanos. Assim, o suporte é essencial e uma revisão sistemática recente buscou avaliar o que há de evidência científica no manejo da CHIKV.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Webb E, et al. An evaluation of global Chikungunya clinical management guidelines: A systematic review. The Lancet. 2022;54:101672. DOI: 10.1016/j.eclinm.2022.101672