O Vírus Chikungunya (CHIKV) pode causar prejuízo cognitivo em idosos a longo prazo?

Foi divulgado um estudo pela UFRN que estabelece que o Vírus Chikungunya pode desencadear prejuízo cognitivo em idosos em longo prazo.

Cabe destacar que a doença causada pelo o Vírus Chikungunya (CHIKV) se trata de uma infecção viral causada pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypt e embora a fase aguda tenha uma duração de 5 a 10 dias, alguns sintomas podem perdurar de 3 meses até 6 anos.

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Nesse contexto, os principais sintomas relatados são artralgia musculoesquelética e neuropática, mas também observam-se os seguintes sintomas:

  • Alterações cerebelares;
  • Distúrbios do sono;
  • Alterações da memória;
  • Déficit de atenção;
  • Alterações do humor;
  • Turvação visual;
  • Depressão;
  • Neurite óptica;
  • Síndrome de Guillain-Barré;
  • Encefalomielite.

Diante do exposto, é possível compreender que o CHIKV possui capacidade de induzir doença neurológica, ou seja, neurovirulência, e que os quadros são mais comuns em pessoas acima de 60 anos. Apesar da neurovirulência, ainda não foi possível confirmar com base em nenhum estudo que esse quadro pode desencadear alterações cognitivas.

Além disso, é importante ressaltar que a cognição se refere à autonomia do indivíduo, visto que se trata de aquisição, armazenamento manipulação e recuperação de informações que podem ser utilizadas no dia a dia para auxiliar atividades domésticas e rotineiras. Também é necessário mencionar que durante o processo de envelhecimento é possível identificar fatores que influenciam na cognição, como a demência leve.

Nesse sentido, o estudo intitulado “Disfunção cognitiva da infecção pelo vírus Chikungunya em adultos mais velhos” traz à reflexão acerca da possibilidade de alterações cognitivas a longo prazo em pessoas que foram infectadas pelo CHIKV e não necessariamente tiveram sintomas neurológicos na fase aguda.

Metodologia do estudo

Para a realização do estudo foram escolhidos 135 voluntários entre 60 e 90 anos, com escolaridade acima de 4 anos e que tiveram Chikungunya sem comprometimento neurológico na fase aguda. Como critérios de exclusão foram considerados: as pessoas que já apresentavam declínio cognitivo, problemas psiquiátricos descontrolados, Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou parada cardíaca recentes.

O estudo transversal observou os participantes de outubro a dezembro de 2019, no município de Natal (RN) por meio de diversos instrumentos, inclusive do Montreal Cognitive Assessment (MoCA) versão brasileira.

Resultados 

Os resultados foram avaliados mediante a 121 idosos (95 afetados pelo CHIKV e 26 saudáveis, para controle). Cabe informar que metade dos participantes tinham entre 60 e 68 anos e a média de idade dos participantes foi de 68,91. Com relação às queixas, 66,7% dos idosos relataram problemas de memória – e 44% deles informaram que os sintomas iniciaram após a Chikungunya. Outros sintomas foram observados, tais como depressão (presente em 20% dos participantes), insônia (relatado por 36%, embora 27% tiveram início após a Chikungunya).

Diante do contexto, foi possível observar que os sintomas de alterações cognitivas estavam mais presentes em idosos que foram afetados pelo CHIKV e que esses indivíduos apresentaram maiores alterações identificadas na aplicação do MoCA. Os participantes que tiveram Chikungunya, por exemplo, tiveram piores resultados em funções rotineiras como: a flexibilidade cognitiva, o controle inibitório, a velocidade de processamento e a memória episódica e semântica.

Saiba mais: Afinal, de onde veio o vírus chikungunya?

Embora existam algumas limitações, o estudo conseguiu sugerir que a infecção pelo Vírus Chikungunya pode desencadear prejuízo cognitivo a longo prazo em idosos. Esses dados são de extrema importância para a saúde pública, pois reforçam a importância do combate ao vetor, e, também, aos profissionais que atuam com pacientes em envelhecimento, que devem manter-se atualizados com relação as doenças que têm capacidade de desenvolver neurovirulência e, por consequência, auxiliar o manejo clínico do indivíduo.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Peixoto VGMNP, Azevedo JP, Luz KG e Almondes KM. Cognitive Dysfunction of Chikungunya Virus Infection in Older Adults. Frente. Psiquiatria 13:823218, 2022. Acesso em: 15/08/2022. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2022.823218/full
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5th ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção Básica Chikungunya: Manejo Clínico. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

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