Nirmatrelvir para tratamento de casos graves da variante ômicron

A liberação do nirmatrelvir foi realizada com base em estudos randomizados em pacientes não hospitalizados. Saiba mais.

O surgimento da variante ômicron do vírus da covid-19 levou ao ressurgimento de novos casos graves da doença no final de 2020, devido à sua alta capacidade de infecção e por se apresentar bastante difundida na população mesmo em pacientes com alto grau de imunidade adquirida. Em dezembro de 2021, a Food and Drug Administration (FDA) autorizou o uso da medicação antiretroviral oral nirmatrelvir para o tratamento de casos moderados de covid-19. A liberação dessa droga foi realizada baseada em estudos randomizados em pacientes não hospitalizados, como o publicado no New England Journal of Medicine no último dia 1 de setembro, que avaliou mais de 100 mil pacientes. 

caixa de remedio aberta

O estudo 

Foram elegidos 109.254 pacientes de alto risco, sintomáticos, sem imunização prévia ou com imunização por vacina ou por infecção pregressa. A medicação era administrada por via oral, durante cinco dias consecutivos até cinco dias após inicados os sintomas. O estudo teve como objetivo analisar a eficácia do uso do nirmatrelvir em pacientes com imunidade para covid-19 infectados especificamente pala variante ômicron 

Métodos  

Foi realizado um estudo observacional, retrospectivo com análise do banco de dados eletrônicos de membros da instituição de saúde israelense Clalit Health Services (CHS), no período de janeiro a março de 2022. Foram selecionados os pacientes acima de 40 anos, com diagnóstico positivo para covid-19 por PCR, não hospitalizados e que apresentavam riscos para desenvolver forma grave da doença. 

A idade média era de 60 anos, sendo 39% dos pacientes acima de 65 anos e 60% eram mulheres. As comorbidades mais comumente associadas eram obesidade, hipertensão e diabetes. De uma maneira geral, 78 % eram pacientes com imunidade adquirida por vacina ou infecção prévia. 

De acordo com o protocolo terapêutico da CHS, a administração de nirmatrelvir foi realizada da forma mais precoce possível após o exame positivo e seguindo as recomendações da FDA.  Cada unidade distrital da CHS foi responsável pela distribuição e acompanhamento da aderência correta ao tratamento de cada distrito respectivo.  

Pacientes que moravam em abrigos ou que foram hospitalizados logo antes ou durante o diagnóstico de covid-19 e aqueles que receberam alguma outra droga antiretroviral distinta foram excluídos do estudo. Os dois pontos básicos do estudo foram os índices de hospitalizações durante a terapêutica e de óbitos por covid-19 com a administração da droga em questão.  

Os pacientes considerados de risco seguiam uma tabela realizada pela própria CHS e pacientes com score de dois pontos ou mais foram incluídos. Todos os pacientes selecionados que não apresentavam contraindicação para o uso da droga receberam nirmatrelvir. Foi então realizado um follow up de até 35 dias após o diagnóstico da covid-19.   

Resultados

Dos pacientes selecionados, 4% receberam pelo menos uma dose de nirmatrelvir, sendo a maioria desses maiores de 65 anos ou com comorbidades como câncer ou imunossupressão. A média de início do tratamento foi de dois dias após o diagnóstico e 97% dos pacientes realizaram o tratamento completo por cinco dias.  

Em relação à primeira análise, dos 42.821 pacientes acima de 65 anos, 11 precisaram ser hospitalizados (14,7 casos por 100.000 pacientes/dia) contra 766 pacientes sem tratamento (58,9 casos por 100.000 pacientes/dia).  

Dos 66.433 pacientes entre 40 e 65 anos, sete pacientes tratados precisaram ser hospitalizados (15,2 casos por 100.000 pacientes/dia) contra 327 pacientes não tratados (15,8 casos por 100.000 pacientes/dia).  

O índice de hospitalização estava diretamente relacionado a falta de imunização prévia e a ocorrência de hospitalizações prévias.  

Em relação ao índice de óbitos, dentre os pacientes acima de 65 anos, houve duas mortes para 2.484 pacientes tratados e 158 mortes em 40.337 pacientes não tratados. E, no grupo de pacientes abaixo de 65 anos, houve um óbito para 1.418 pacientes tratados contra 16 mortes em 65.015 pacientes não tratados.  

Considerações 

Durante o início do surgimento da nova variante da covid-19, a ômicron, as autoridades israelenses tomaram duas condutas para proteger a população que apresentava maiores riscos de desenvolver formas graves: vacinação com segunda dose de reforço e terapia antiviral. A terapia com nirmatrelvir é atualmente recomendada como primeira opção de tratamento antiviral para pacientes de risco e não hospitalizados pela National Institutes of Health (NIH), independente do seu estado vacinal.  

O estudo em questão mostrou que o índice de hospitalização e óbitos em pacientes acima de 65 anos que receberam nirmatrelvir foi significativamente menor do que naqueles pacientes mais jovens que também receberam a medicação, sendo que os eventos adversos foram mais evidentes nos pacientes sem imunidade prévia. 

Algumas limitações do estudo foram o baixo número de pacientes que fizeram uso do nirmatrelvir e também a falta de explicações para essa baixa amostragem. Outra limitação baseia-se no fato dos pacientes apresentarem graus de imunidade diferentes, pois variavam em diferença de tempo e qualidade do tipo de imunidade que cada subgrupo apresentava.

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Mensagem prática 

Apesar das limitações do estudo, levando em consideração os fatores analisados, pode-se afirmar que os índices de severidade pós infecção pela variante ômicron da covid-19 foram menores nos pacientes acima de 65 anos que receberam o antiviral nirmatrelvir comparados aos que não receberam. Porém, nenhum benefício evidente foi encontrado na população mais jovem.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Arbel R,et al. Nirmatrelvir Use and Severe Covid-19 Outcomes during the Omicron Surge. N Engl J Med 2022; 387:790-798.