Novo escore para estratificação de risco no infarto agudo do miocárdio tipo 2

O infarto agudo do miocárdio tipo 2 é secundário a desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio na ausência de ruptura de placa aterosclerótica.

O infarto agudo do miocárdio tipo 2 geralmente ocorre no contexto de outra doença sistêmica ou cardiovascular aguda. O desfecho desses pacientes é ruim e mais de dois terços morrem em 5 anos, geralmente em decorrência de outras complicações. O pior prognóstico se dá pela idade mais avançada e maior número de comorbidades quando comparados a pacientes com IAM tipo 1, decorrente de ruptura de placa aterosclerótica.

Alguns estudos recentes vêm sugerindo que a taxa de eventos cardiovasculares é semelhante a de pacientes com IAM tipo 1. A estratificação precoce de risco tem papel importante para estimar o prognóstico e guiar o tratamento desse grupo, sendo os escores mais utilizados o GRACE e o TIMI. Esses escores foram desenvolvidos antes da utilização da troponina ultrassensível (US) e da classificação do IAM pela sua etiologia.

Baseado nisso, foi criado e validado um novo escore de risco, chamado T2-risk, com objetivo de identificar o risco de um novo evento em pacientes com IAM tipo 2.

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agudo do miocárdio tipo 2

Métodos

As variáveis de risco foram obtidas de uma coorte do estudo High-STEACS, um estudo controlado e randomizado que avaliou a implementação da troponina I US em pacientes com dor torácica suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) em 10 centros da Escócia entre 2013 e 2016.

Umas das coortes de validação foi obtida de um único centro que incluiu, de forma consecutiva, pacientes com mais de 25 anos com dor torácica e pelo menos uma dosagem de troponina entre 2011 e 2014. A outra coorte de validação foi obtida do estudo APACE, multicêntrico, prospectivo, que incluiu pacientes de 5 países europeus entre 2006 e 2018. Esses países tinham dor torácica ao repouso ou mínimos esforços, com início até 12 horas da chegada a emergência.

O desfecho primário era novo IAM ou morte por qualquer causa em um ano e o desfecho secundário novo IAM ou morte por causa cardiovascular (morte por IAM, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca (IC), morte súbita ou morte 7 dias após intervenção cardíaca) em um ano.

As variáveis utilizadas para elaboração do escore foram variáveis objetivas e facilmente disponíveis para os médicos: idade, taxa de filtração glomerular, frequência cardíaca, troponina, anemia, doença cardíaca isquêmica, diabetes, internação prévia por IC e presença de isquemia no eletrocardiograma.

Além disso, o poder discriminativo do escore foi comparado ao GRACE 2.0.

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Resultados

A coorte inicial, do estudo High-STEACS, era formada por 48.282 pacientes consecutivos com suspeita de síndrome coronariana aguda. Desses, 9.115 tinham injuria miocárdica, sendo 1.121 (12%) diagnosticados com IAM tipo 2. A coorte de validação unicêntrica tinha 22.589 pacientes consecutivos, dos quais 3.853 tinham injuria miocárdica e, desses, 250 (7%) tinham IAM tipo 2. Já a coorte de validação multicêntrica tinha 6684 pacientes, dos quais 2529 tinham injuria miocárdica e, desses, 253 (10%) tinham IAM tipo 2.

Os pacientes com IAM tipo 2 tinham idade semelhante nas três coortes (74, 72 e 69 anos respectivamente). A proporção de homens foi um pouco maior na coorte multicêntrica (65% x 45% na coorte do estudo High-STEACS e 50% na coorte unicêntrica). Além disso, doença cardíaca isquêmica foi mais prevalente na coorte de validação unicêntrica que nas outras duas. As outras características foram semelhantes.

O escore T2-risk mostrou excelente poder discriminativo tanto para o desfecho primário (AUC: 0,76; IC95%: 0,73-0,79) quanto secundário (AUC: 0,75; IC95%: 0,70-0,79), inclusive melhor que do escore GRACE 2.0 (AUC: 0,71; IC95% 0,67-0,74), p = 0,038. Na validação externa a área sob a curva se manteve, ou seja, o poder discriminativo foi muito bom.

Quando o escore foi avaliado de forma contínua, o quartil mais alto era o com taxa de eventos esperados maior que 34% e o mais baixo com taxa de eventos esperados menor que 13%. Na coorte de avaliação inicial, a taxa de eventos foi de 51% em um ano nos pacientes de alto risco e 7% nos de baixo risco. Nas coortes de validação unicêntrica e multicêntrica foram de 60% e 3% e 35% e 5% respectivamente. Para o desfecho secundário, os resultados foram semelhantes.

Comentários e conclusão

Esse estudo utilizou um novo escore para avaliar o risco de eventos após um ano em pacientes com infarto agudo do miocárdio tipo 2 e encontrou bons resultados. O escore T2-risk utiliza variáveis facilmente obtidas no atendimento dos pacientes e mostrou uma ótima performance, inclusive melhor que do escore GRACE, nestas coortes de pacientes.

Mensagem prática

Futuramente esse escore pode auxiliar na identificação de pacientes de alto risco, possibilitando uma abordagem diferenciada deste grupo no intuito de redução do risco. Além disso, a identificação de pacientes de baixo risco auxilia na decisão de não seguir com medidas mais invasivas, que não trarão benefício e podem trazer complicações.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Taggart C, et al. Improving Risk Stratification for Patients With Type 2 Myocardial Infarction. Journal of the American College of Cardiology. 2023;81(2):156-168. DOI: 10.1016/j.jacc.2022.10.025

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