Novos critérios de classificação para doença por depósito de pirofosfato de cálcio

A doença por depósito de pirosfosfato de cálcio (CPPD) é uma artropatia microcristalina causada pela deposição tecidual de cristais de mesmo nome (pirofosfato de cálcio).

Trata-se de uma condição comum em indivíduos idosos, capaz de levar à inflamação articular significativa, porém o estudo da doença por depósito de pirosfosfato de cálcio (CPPD) foi historicamente dificultado pela ausência de padronizações e consensos. Nesse sentido, um consórcio internacional do ACR e da EULAR foi formado, visando a criação de critérios de classificação para facilitar estudos sobre a doença.

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Novos critérios de classificação para doença por depósito de pirofosfato de cálcio

Métodos

Foram seguidas quatro fases: (1) geração de itens, (2) redução e refinamento dos itens, (3) definição de peso dos itens e dos pontos de corte para classificação, (4) validação.

Nesse processo, participaram especialistas que fizeram sugestões e análises desses critérios, análise de casos da CPPD e seus mimetizadores e validação dos critérios em diferentes populações.

Critérios de classificação ACR/EULAR 2023 para doença por depósito de pirosfosfato de cálcio (CPPD)

Antes de se aplicar o sistema de pontos gerados, três perguntas precisam ser respondidas:

  • Critérios de entrada: o paciente já apresentou pelo menos um episódio de dor ou edema articular? Caso a resposta seja positiva, devemos seguir para a próxima pergunta. Do contrário, o paciente não deve ser classificado como CPPD;
  • Os sintomas são mais provavelmente explicados por uma outra condição? Se não, devemos passar para a próxima pergunta. Caso a resposta seja sim, o paciente não deve ser classificado como CPPD;
  • O paciente apresenta identificação de cristais de pirofosfato de cálcio na sinovianálise ou identificação da síndrome do dente coroado? Se sim, ele deve ser automaticamente classificado como CPPD. Se não (ou não realizada), os critérios ponderados podem ser aplicados.

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Os critérios ponderados estão representados na tabela abaixo. Dentro de cada domínio, devemos pontuar apenas o maior valor, caso mais de um critério esteja presente. Os critérios podem ser pontuados se presentes em qualquer momento da vida. Além disso, pelo menos um exame de imagem de uma articulação sintomática deve ser realizado.

Domínios e itens Pontos
Domínio 1: Idade de início
≤ 60 anos 0
> 60 anos 4
Domínio 2: curso da doença e sintomas da artropatia inflamatória
Não persistente ou artrite típica 0
Artrite persistente 9
Um episódio agudo de artrite 12
Mais de um episódio agudo de artrite 16
Domínio 3: Sítios típicos de artrite periférica
Primeira metatarsofalangiana -6
Sem episódios típicos 0
Articulações além dos punhos, joelhos ou primeira metatarsofalangiana 5
Punho 8
Joelho 9
Domínio 4: Doenças metabólicas associadas (hemocromatose hereditária, hiperparatireoidismo primário, hipomagnesemia, síndrome de Gitelman, hipofosfatasia, história familiar de CPPD)
Nenhuma 0
Presente 6
Domínio 5: sinovianálise com pesquisa de cristais em articulação sintomática
Cristais de pirofosfato de cálcio ausentes em 2 ocasiões -7
Cristais de pirofosfato de cálcio ausentes em 1 ocasião -1
Não realizada 0
Domínio 6: osteoartrite (OA) de mãos/punhos documentada por imagem (Kellgren-Lawrence ≥ 2)
Nenhuma alteração ou imagem de mão/punhos não realizada 0
OA das radiocárpicas bilateralmente 2
≥ 2 alterações das seguintes: OA escafotrapeziotrapezoide sem OA da primeira carpometacárpica, OA da segunda metacarpofalangiana, OA da terceira metacarpofalangiana. 7
Domínio 7: evidência de CPPD (calcificação de fibrocartilagem ou cartilagem hialina) em articulações periféricas sintomáticas.
Nenhuma evidência no ultrassom, TC ou DECT (TC com dupla emissão) — ausência na radiografia convencional ou não realizada -4
Nenhuma evidência na radiografia convencional — US, TC e DECT não realizados 0
Evidência na radiografia convencional, ultrassom, TC ou DECT 16
Domínio 8: Número de articulações periféricas com evidência de CPPD em qualquer modalidade de imagem, independente de sintomas.
Nenhuma 0
1 16
2-3 23
≥ 4 25

Caso o paciente apresente uma soma de pontos > 56, ele deve ser classificado como CPPD.

Comentários

Os novos critérios para CPPD apresentaram altas sensibilidade (99,2%) e especificidade (92,5%), na coorte de validação.

Vale sempre destacar que os critérios de classificação não são desenvolvidos para fins diagnósticos, apenas para criação de grupos homogêneos para pesquisa clínica. No entanto, esses novos critérios podem ser usados para endossar um diagnóstico clínico, laboratorial ou por imagem de doença por depósito de pirosfosfato de cálcio (CPPD).

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Abhishek A, Tedeschi SK, Pascart T, et al. The 2023 ACR/EULAR classification criteria for calcium pyrophosphate deposition disease. Ann Rheum Dis. 2023;82:1248–1257. DOI: 10.1136/ard-2023-224575