Nutrição no paciente renal crônico: o que precisamos saber

Recentemente, a NEJM publicou uma revisão sobre recomendações nutricionais no paciente com doença renal crônica (DRC).

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Recentemente, a NEJM publicou uma revisão sobre recomendações nutricionais no paciente com doença renal crônica (DRC). Nosso objetivo hoje aqui é resumir os principais pontos discutidos no artigo, de forma prática para você.

A doença renal crônica é uma patologia frequente, com uma prevalência estimada em 10% da população, e as etiologias mais comuns são hipertensiva e diabética. Nas fases iniciais da doença, estágios I e II (TFGe > 60 ml/min/m²), o quadro é oligossintomático, e a prevenção é o caminho a ser seguido. Contudo, a partir da fase III, em especial quando TFGe < 45 ml/min/m² (estágio IIIb), as complicações começam a aparecer, sendo as mais comuns:

  • Hipervolemia
  • Hipertensão
  • Hipercalemia
  • Acidose
  • Uremia: encefalopatia, vômitos
  • Anemia
  • Doença óssea

A nutrição tem papel fundamental no tratamento destes pacientes e há evidências científicas que:

– Retarda a progressão da doença: a melhor evidência é para proteinúria. A dieta com restrição proteica reduz a perda urinária de proteínas e, como tal, a perda da TFG. Outros estudos sugerem que a dieta hipossódica também pode exercer ação similar.
– Diminui os sintomas e, com isso, podem adiar a necessidade de diálise: é o papel mais estudado. A redução da ingestão de proteínas, sódio e potássio formam o tripé do tratamento nutricional do renal crônico.

E quais são as mudanças dietéticas recomendadas?

Modificação Observações
Dieta com restrição proteínas Mecanismos: redução da hiperfiltração glomerular e da produção de ureia
0,6 a 0,8 g/kg/dia se TFGe < 30-45 ml/min/m² e/ou proteinúria > 300 mg/d
Estuda-se o benefício de restrição < 1,0 g/d em pessoas de maior risco (ex: DRC I e II)
50% de proteínas de “alto valor” (laticínios) e 50% origem vegetal
Após início de diálise, a restrição diminui para 1,2-1,5 g/d
Sódio* < 4g sódio/dia
Pode ser < 3g/dia se hipervolemia e/ou proteinúria excessiva
Água < 1,5 L/d a partir estágio III
Considerar volume maior em locais quentes
Potássio** < 3 g/d se houver tendência à hipercalemia e/ou estágio IV
Nos demais é evitar ingestão excessiva
Fósforo A maior fonte são produtos animais e processados
< 800 mg/d a partir estágio IV
Cálcio*** 800-1000 mg/d a partir estágio III/IV
*Em pacientes cardiopatas, pode haver necessidade de maior restrição de sódio. Evite reduções excessivas (< 1,5 g/d) em pacientes com hiponatremia.
**O potássio tem ação benéfica em pacientes cardiopatas e hipertensos. Contudo, na DRC, trabalhos mostram uma relação entre maior ingestão de potássio e pior prognóstico, inclusive mortalidade. Acredita-se que possa haver hipercalemia em fases precoces, com maior risco de arritmias. Por outro lado, os vegetais são ricos em potássio, e uma dieta muito restritiva pode não ser saudável “para a saúde como um todo”. Constipação é outro efeito colateral comum neste tipo de alimentação.
***A menor produção renal da vitamina D reduz a absorção intestinal de cálcio. Por isso, em fases moderadas da DRC, há necessidade de uma ingestão “normal” de cálcio. Contudo, com o avançar da doença, o hiperparatireoidismo tende a aumentar o cálcio sérico e o duplo produto cálcio-fósforo elevado pode causar calcifilaxia. Desse modo, nos estágios IV e V pode ser necessário reduzir a ingestão de cálcio em paralelo ao tratamento da doença óssea renal.

Outras recomendações:

  • Dieta vegetariana: não há evidências que uma dieta estritamente vegetariana seja melhor que a dieta tradicional em termos da progressão da DRC. Contudo, um alto teor de fibras e a ingestão de > 50% dos alimentos de origem vegetal foram associados com menor risco de progressão da DRC.
  • Fibras: altamente benéficas. Ajudam a reduzir o pico hiperglicêmico e a constipação, esta última associada com risco de hipercalemia e piora da uremia.
  • Não há recomendação para dietas “low-fat”, mas é desejável aumentar a proporção de gorduras mono e poli-insaturadas, bem como de ômega-3.

É médico e também quer ser colunista do Portal PEBMED? Clique aqui e inscreva-se!

Referências:

  • Nutritional Management of Chronic Kidney Disease. Kamyar Kalantar-Zadeh, M.D., M.P.H., Ph.D., and Denis Fouque, M.D., Ph.D. N Engl J Med 2017; 377:1765-1776. November 2, 2017. DOI: 10.1056/NEJMra1700312

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades