O impacto da covid-19 na incidência de conjuntivites virais

Conheça o estudo que analisa a relação dos hábitos de higiene praticados na pandemia com a diminuição da incidência de conjuntivites virais.

No final de 2019, pacientes com pneumonia viral por agentes microbianos não identificados foram reportadas em Wuhan e a covid-19 cresceu substancialmente, sendo declarada uma pandemia pelo OMS em março de 2020. As vias de transmissão entre humanos são similares as de outros coronavírus, através de secreções de pessoas contaminadas, principalmente gotículas respiratórias, mãos e fomites contaminados, seguido de contato com a boca, nariz ou mucosa conjuntival.

Em muitos países foi decretado o fechamento de atividades não essenciais, o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene de mãos com água e sabão ou álcool gel. Os estudos mostram que essa situação foi associada à diminuição de doenças infecciosas em adultos e crianças, já que a maioria dos vírus são transmitidos através da via respiratória ou contato direto.

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A diminuição da incidência dos casos de conjuntivite também pareceu ocorrer. Uma das infecções oculares mais prevalente é a conjuntivite viral, sendo a principal causa de conjuntivite (80% dos casos). Muitas são causadas pelo adenovírus (especialmente os subtipos 7,11 e 18) que produzem duas entidades comumente associadas que são a faringoconjuntivite e a ceratoconjuntivite epidêmica. A conjuntivite pode aparecer isolada ou associada a infecções virais sistêmicas como a infecção do trato respiratório superior ou o sarampo.

A maioria dos casos são causados indiretamente por inalação respiratória, enquanto a conjuntiva raramente serve como porta de entrada do vírus, por contato com secreções de um paciente infectado ou em certos locais com grande concentração viral.

Após um período de incubação de cinco a 15 dias os sintomas se iniciam. Os pacientes apresentam conjuntivite folicular uni ou bilateral, podendo ter linfadenopatia préauricular. O quadro é agudo, autolimitado e muito contagioso.

Um trabalho publicado nos Archivos de la Sociedad Española de Oftalmología este ano estudou a hipótese de a redução de casos de conjuntivite estar associada às medidas higiênicas sociais tomadas durante a pandemia da covid-19. 

Mulher com a mão no olho por causa de conjuntivite ou uveíte

Métodos e resultados 

O estudo foi retrospectivo e comparou a incidência de conjuntivite viral na emergência de um hospital terciário em março a setembro de 2019 antes da pandemia e em março a setembro de 2020, durante a pandemia. 436 pacientes foram atendidos antes de covid, 38,5% com conjuntivite viral, 14,5% de conjuntivite alérgica e 5,7% de conjuntivite bacteriana. 121 casos foram atendidos durante a pandemia e o principal tipo foi alérgica e traumática (em 19%), viral e bacteriana corresponderam a 12,3% cada.

Quatro casos eram de covid-19, mas apenas um se manifestou com conjuntivite folicular aguda. A queda de 2019 para 2020 na incidência foi de 72,24%. Além da diminuição dos casos obviamente relacionada ao estado de emergência e ao confinamento, de todos os tipos de conjuntivite admitidos na emergência, a conjuntivite viral teve a maior diminuição. De acordo com a porcentagem relativa, a conjuntivite viral diminuiu 48,5% em 2020 em contraste com 2019. O segundo tipo, a conjuntivite alérgica só reduziu 13% de 2020 para 2019. 

Considerações

É sabido que a visita as emergências diminuíram mais de 70% durante a pandemia (pelo isolamento em si e pelo medo de se contrair covid-19). Os vírus que causam a conjuntivite, principalmente o adenovírus, compartilham a forma de transmissão com o coronavírus, significando que medidas aplicadas para conter a pandemia poderiam afetar também a propagação da conjuntivite.

Esse estudo pode ser o primeiro a demonstrar os benefícios de medidas higiênicas sociais implementadas durante a pandemia na prevenção da propagação da conjuntivite viral. A limitação principal do estudo é a de que casos de conjuntivite podem não ter ido à emergência por preferir ficar em casa para evitar contaminação. De qualquer forma, nesse caso a diminuição de casos afetaria todos os tipos de conjuntivite e não só os tipos virais.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Conde Bachiller, B. Puente Gete, L. Gil Ibáñez, G. Esquivel Benito, M. Asencio Duran, J.V. Dabad Moreno. COVID-19 pandemic: Impact on the rate of viral conjunctivitis, Archivos de la Sociedad Española de Oftalmología (English Edition), Volume 97, Issue 2, 2022.