O impacto global da COVID-19 na epidemiologia de paradas cardiorrespiratórias

As paradas cardiorrespiratórias são muito fatais, tendo ainda um aumento na sua incidência por conta da Covid-19. Saiba mais.

As paradas cardiorrespiratórias (PCR) são uma das principais causas de morte a nível mundial. Com a pandemia da COVID-19, a estatística global da PCR foi modificada, com uma tendência de aumento na sua incidência, em relação aos anos anteriores. Tanto PCRs extra-hospitalares quanto intra-hospitalares apresentaram aumento de suas taxas, com piora dos desfechos. 

enfermeiro tratando as paradas cardiorrespiratórias do paciente

Cenário Extra-Hospitalar

Um estudo americano incluiu 19.303 pacientes adultos. Consistiu em estudo do tipo “antes e depois” que comparou o período de março a abril de 2020 (pós pandemia), em relação ao mesmo período em 2019 (pré-pandemia). Foi evidenciado um aumento na taxa de PCRs extra-hospitalares, média de 88,5 vs. 69,7 residentes por milhão, quando comparamos 2020 com 2019. A taxa de retorno à circulação espontânea (RCE) e de sobrevida foi significativamente menor durante a pandemia (23 vs. 29.8% e 6.6 vs. 9,8%, respectivamente). (1)

Além desse estudo, revisão sistemática recente realizada com dez estudos, incluindo 35.379 PCRs extra-hospitalares, confirmou o mesmo achado do estudo anterior (3). Ambos os estudos evidenciaram que durante a pandemia, houve um maior número das PCRs por ritmos não-chocáveis, assim como das paradas cardiorrespiratórias que ocorreram em casa, dois fatores associados à piores desfechos. 

Outra causa potencial para o cenário acima pode estar relacionada a uma maior restrição ou atraso no acesso a cuidados de emergência. A maioria dos estudos da revisão sistemática citada anteriormente documentou maiores períodos de resposta do Serviço Médico de emergência americano, o que pode ter refletido uma maior carga de trabalho do período. 

Além disso, hospitalizações por Síndrome Coronariana Aguda reduziram durante os picos da pandemia na Europa e nos Estados Unidos (2), provavelmente pelo receio dos pacientes em procurar auxílio hospitalar e contrair a COVID-19. Isso pode ter resultado em aumento da gravidade dos episódios de Síndrome Coronariana Aguda e insuficiência cardíaca. 

Cenário Intra-Hospitalar

Assim como no cenário extra-hospitalar, as paradas cardiorrespiratórias intra-hospitalares (PCRIH) também aumentaram e estiveram associadas à pior prognóstico. Estudo realizado em Nova Iorque, durante o primeiro pico da pandemia, evidenciou 125 PCRIHs (79% COVID-19 positivo) em 2,5 meses (Março a Maio de 2020). Tal valor foi maior que o número de PCRIHs durante todo o ano anterior (117 episódios), um aumento de quase cinco vezes (3). 

A taxa de sobrevida hospitalar foi menor em 2020, com 3% (4 episódios), quando comparado com 2019, com uma taxa de 13% (p = 0,007). Além disso, no ano de 2020, um maior número de PCRIHs ocorreu em enfermarias do que em UTIs (46% vs. 33%). Sendo diferente do ano anterior, no qual o local principal desses episódios foi a UTI (19% vs 60%). Os autores do estudo levantaram o ponto da escassez de leitos de UTI, levando a um maior número de internações em enfermaria. 

Leia também: Epinefrina na parada cardiorrespiratória: seu uso e controvérsias

Mensagens Práticas

  •  A pandemia modificou a epidemiologia das paradas cardiorrespiratórias extra-hospitalares, uma vez que o acesso a serviços de emergências tornou-se limitado, principalmente no caso de outras condições ameaçadoras à vida. Além disso, criou-se um receio por parte de pacientes na procura por serviços de emergência por conta do medo de contrair a COVID-19;
  •  Durante a pandemia, vários hospitais atuaram e ainda atuam além da sua capacidade, o que torna cada vez mais desafiador o reconhecimento precoce e a assistência imediata a casos de PCR.
  • Tanto as PCRs extra-hospitalares quanto intra-hospitalares sofreram aumento em seus índices, o que reflete a maior mortalidade imposta pela COVID-19 assim como as alterações provocadas nos sistemas de saúde (sobrecarga das redes).  

 

Referências bibliográficas: 

  • Chan PS, et al. Outcomes for Out-of-Hospital Cardiac Arrest in the United States During the Coronavirus Disease 2019 Pandemic. JAMA Cardiol. 2021;6(3):296–303. doi: 10.1001/jamacardio.2020.6210
  • Lim ZJ, et al. Incidence and outcome of out-of-hospital cardiac arrests in the COVID-19 era: A systematic review and meta-analysis. Resuscitation vol. 157 (2020): 248-258. doi: 10.1016/j.resuscitation.2020.10.025
  • Miles JA, et al. “Characteristics and Outcomes of In-Hospital Cardiac Arrest Events During the COVID-19 Pandemic: A Single-Center Experience From a New York City Public Hospital.” Circulation. Cardiovascular quality and outcomes vol. 13,11 (2020): e007303. doi: 10.1161/CIRCOUTCOMES.120.007303
  • Sandroni C, et al. The impact of COVID-19 on the epidemiology, outcome and management of cardiac arrest [published online ahead of print, 2021 Feb 24]. Intensive Care Med. 2021;1-3. doi:10.1007/s00134-021-06369-3

 

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