EM. PED 2023: Mel e sucralfato na ingestão de pilhas e baterias por crianças

Entre 7 a 25% dos casos de ingestão de corpo estranho por crianças ocorre com pilhas ou baterias e seu manejo deve ser o mais rápido possível.

O primeiro dia do 2°Congresso Sul-Americano e 4°Congresso Paulista de Urgências e Emergências Pediátricas contou com uma sessão muito interessante de temas livres. Um deles consistiu em uma revisão sobre o papel do mel e do sucralfato em acidentes com ingestão de pilhas e baterias nos departamentos de Emergência Infantil. O tópico foi apresentado pela Dra. Paola Suhet.  

A Dra. Paola iniciou a apresentação mostrando que, globalmente, 7 a 25% dos casos de ingestão de corpo estranho por crianças ocorre com pilhas ou baterias e seu manejo deve ser o mais rápido possível devido ao elevado risco de complicações e óbito: esses objetos em contato com a mucosa esofágica geram lesão local com rápida progressão para necrose tecidual.  

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De acordo com a palestrante, um estudo americano de 2021 descreveu que a ingestão de corpo estranho em menores de 6 anos de idade aumentou 91,5% desde 1995, sendo que a ingestão de baterias aumentou de 0,14% para 8,4%, devido ao aumento da utilização de eletrônicos pela população infantil. Infelizmente, a mortalidade por ingestão de corpo estranho sofreu uma majoração de 12,5% no período entre 1994 e 2017 e a ingestão de baterias foi responsável por 94% de todos os óbitos. 

O tratamento padrão para a ingestão de pilhas e de baterias é a remoção do objeto por endoscopia. No entanto, estudos recentes sugerem uma alternativa para diminuir a progressão da lesão com a utilização de mel e de sucralfato, com funções de neutralizar e formar uma barreira esofágica enquanto se aguarda a retirada por via endoscópica.  

Evidências do uso do mel na prevenção de lesão 

Diante dessas informações, o objetivo da revisão foi trazer evidências sobre a utilização do mel e do sucralfato na prevenção de lesão esofágica secundária à ingestão de pilhas e de baterias. Os autores realizaram uma revisão da literatura por meio do Pubmed.  

A bateria, quando em contato com a mucosa, gera hidrólise da água na junção do polo negativo e geração de íons hidróxidos, o que aumenta rapidamente o pH tecidual local de 12 a 13. Este ambiente altamente alcalino cria então uma necrose liquefativa que pode resultar em lesões cáusticas profundas no tecido esofágico. As baterias podem induzir lesões visíveis iniciais em até 15 minutos se alojadas no esôfago e lesões graves podem ocorrer em menos de 2 horas.  

Complicações severas relatadas na revisão, de acordo com a palestrante, foram: estenose esofágica, fistulação em estruturas adjacentes (por exemplo, traqueia e grandes vasos), paralisia de cordas vocais e mediastinite. Em alguns casos, houve necessidade de realização de traqueostomia e/ou gastrostomia. As principais causas de óbito incluíram hemorragia maciça de fistulação arterial (aórtica, subclávia e tireoidiana inferior), além de broncoaspiração. 

Características químicas  

O mel possui alta viscosidade e é frequentemente encontrado em ambiente domiciliar. Já o sucralfato consiste em uma substância aprovada para o tratamento de úlcera gástrica ou duodenal, sendo conhecido pelo seu efeito de proteção da mucosa. Como ácidos fracos, ambos garantem a neutralização do pH tecidual e diminuição da progressão de lesões em grau significativo. De forma mecânica, o mel fornece uma proteção adicional por agir como barreira física por ser bastante viscoso.  

Orientações de conduta 

A Dra. Paola destacou as seguintes orientações: 

  • O mel deve ser indicado somente para crianças acima de um ano de idade. Dose: 10 mL a cada 10 minutos (máximo: 6 doses); 
  • O sucralfato deve ser prescrito na dose de 10 mL a cada 10 minutos (máximo: 3 doses). 

Por fim, a palestrante comentou que, de acordo com a International Anesthesia Research Society, a retirada por endoscopia não deve ser adiada devido a qualquer ingestão recente por via oral, incluindo a ingesta de quantidades significativas de mel e/ou sucralfato, pois o risco de lesão esofágica supera muito o risco de broncoaspiração nesse caso.  

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Em suma 

  • O intervalo entre a ingestão da bateria ou pilha e sua retirada por endoscopia é um período crítico para intervenção. O objetivo é minimizar o rápido desenvolvimento de lesões graves; 
  • A recomendação, portanto, é de se usar o mel em ambiente domiciliar até que o paciente pediátrico possa dar entrada em uma unidade de saúde. Já o sucralfato deve ser usado no hospital até que a retirada aconteça. Tanto o mel quanto o sucralfato têm potencial de diminuir a gravidade da lesão esofágica, culminando com lesões mais localizadas e superficiais, minimizando a morbimortalidade; 
  • Essas medidas não devem atrasar a retirada da bateria ou pilha por via endoscópica; 
  • Não se deve induzir vômitos no paciente; 
  • Prevenir é a melhor alternativa: a prevenção deve ser sempre o foco principal de todo pediatra. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • SUHET, Paola Romani Ferreira; CORREA, Letícia Santos; LIMA, Alessandra Miramontes; DIAS, João Paulo Cardoso  O papel do mel e do sucralfato nos acidentes com ingestão de pilhas e baterias. 2° Congresso Sul-Americano e 4°Congresso Paulista de Urgências e Emergências Pediátricas. São Paulo/SP, 23 de março de 2023.