O potencial da APS no cuidado da Síndrome de Wellens

Com desfecho da história natural desfavorável, a Síndrome de Wellens tem uma alta incidência de sintomas recorrentes de angina.

Um dos exames mais solicitados na atenção primária é o eletrocardiograma (ECG). De baixo custo, muitas vezes disponível na própria unidade solicitante, o ECG traz diagnósticos importantes e de alto impacto para o plano de cuidado do paciente. Contudo, pode assustar os profissionais de saúde na hora de organizar a sua interpretação clínica ou aplicação em cenários de vida real. 

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Uma das condições de saúde diagnosticáveis através do ECG, por exemplo, é a estenose da artéria descendente anterior (ADA), conhecida como Síndrome de Wellens (SW). A SW é uma condição rara, e cujo desfecho da história natural é desfavorável, além de uma alta incidência de sintomas recorrentes de angina. O padrão de apresentação se assemelha muito à angina instável. 

Nessa condição de saúde, o principal sintoma presente é a dor torácica, que tem um claro padrão anginoso. A dor torácica corresponde a até 4% das causas de procura aos serviços de urgência nos Estados Unidos, mas até 50% tem origem não cardíaca, e daqueles com causas cardíacas até 30% podem ter estudos hemodinâmicos normais.  

Logo, manejar a dor torácica na atenção primária à saúde é fundamental, especialmente para pacientes egressos de visitas à unidade de pronto atendimento por queixa desse sintoma e cujo diagnóstico não tenha ficado definido. E em especial com relação à Síndrome de Wellens, o conhecimento sobre essa possível etiologia entre os profissionais de APS irá mudar os desfechos e experiências clínicas do usuário do serviço de saúde. 

O manejo da Síndrome de Wellens na APS irá se assemelhar aos manejos de outras dores torácicas crônicas, e daí a importância do ECG no suporte do profissional de saúde na APS. A grande diferença da SW em relação às demais causas de dores torácicas é a etiologia (estenose da ADA). Contudo, os fatores de risco serão os mesmos da doença aterosclerótica coronariana (obesidade, hipertensão, diabetes mellitus, tabagismo, história família, dislipidemia e sedentarismo). 

Com isso, na ausência da dor, os achados do ECG serão definidores do próximo passo de abordagem: o estudo hemodinâmico para confirmação e intervenção (e aqui é necessário tomar muito cuidado para não indicar teste ergométrico como investigação para o paciente, pois pode colocá-lo em risco ainda maior de um infarto de parede anterior). E como muitas vezes, a visita ao serviço de APS ocorre na ausência imediata da dor, os fatores de risco presentes e um achado compatível no ECG já deve guiar o profissional para o acionamento e articulação das redes de cuidado secundário e terciário. 

Na APS, a depender dos recursos locais, os marcadores de necrose miocárdica podem estar disponíveis de modo imediato, e, nesse caso, podem ser normais ou pouco elevados nos resultados laboratoriais, o que torna o ECG de fato o exame que irá contribuir mais para o raciocínio clínico em um paciente cuja a história é compatível. Portanto, ao realizar o ECG na unidade devemos observar os seguintes sinais como preditores da presença de Síndrome de Wellens: 

  • Ondas T invertidas ou bifásicas em V2 e V3;
  • Pequeno ou ausência de supra de ST;
  • Ausência de ondas Q nas derivações precordiais;
  • Evolução normal da onda R em derivações precordiais 

Independentemente da presença de dor na hora do ECG com esses achados, esse paciente deve ser encaminhado rapidamente para estudo hemodinâmico pelo alto risco de evolução para infarto agudo do miocárdio (IAM).

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Seja no diagnóstico ou no acompanhamento dos casos de dor torácica, especialmente aqueles com cuidado intermitente em serviços de saúde de modo descoordenado, a APS é fundamental para modificação da história natural dessa condição de saúde. O treinamento clínico dos profissionais com a adequada interpretação do ECG é essencial para esse processo.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • SASSO, Grace Dal et al. Eventos agudos em situações clínicas: Dor torácica-PROVAB. 2014. 
  • ZWAAN C, et al. Characteristic electrocardiographic pattern indicating a critical stenosis high in left anterior descending coronary artery in patients admitted because of impending myocardial infarction. Am Heart J. 1982;103(4 Pt 2):730-6. 
  • RHINEHARDT J, et al. Electrocardiographic manifestations of Wellens' syndrome. Am J Emerg Med 2002; 20:638.