O resultado da oximetria de pulso pode variar entre etnias diferentes?

Será que pacientes de etnias diferentes, com a mesma saturação “real” de oxigênio, podem ter resultados de oximetria de pulso diferentes?

A pandemia por Covid-19 trouxe ainda mais importância para a aferição da oximetria de pulso. Os oxímetros já eram rotineiramente usados em unidades de saúde ao redor do mundo como um método rápido e não invasivo para estimar a oxigenação sanguínea. No entanto, potenciais vieses nos seus resultados, relacionados à etnia do paciente, poderiam influenciar diretamente na qualidade da decisão clínica tomada a partir dessa aferição. Será que pacientes de etnias branca e negra, por exemplo, com a mesma saturação “real” de oxigênio, podem ter resultados de oximetria de pulso diferentes?

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O resultado da oximetria de pulso pode variar entre etnias diferentes

Análise recente

Para avaliar essa questão — se a acurácia da medição da saturação periférica de oxigênio (SpO2), quando comparada à saturação arterial (SaO2) — varia de acordo com a etnia, um estudo recente na Inglaterra analisou, de maneira retrospectiva, atendimentos de quatro hospitais do National Health Service (NHS, o “SUS da Inglaterra”) na região urbana de Birmingham, uma das maiores do país. As diferenças entre pares de medidas de SpO2 e SaO2 em um mesmo paciente, com intervalos de até 20 minutos entre elas, foram comparadas entre grupos de etnias autodeclaradas diferentes, com os devidos ajustes para outras variáveis.

Um total de 16.818 pacientes, entre 2017 e 2021, tiveram suas medidas comparadas, composto por pessoas de etnias autodeclaradas como branca (81%), asiática (11%), negra (4%) e “outras” (3%). Entre todos os participantes, independente da etnia, já foi identificada divergência: a SpO2 se mostrou significativamente mais alta que a SaO2, (média de 0,5% mais alta), com essa diferença aumentando consideravelmente para casos de SaO2 menores que 90% e diminuindo para SaO2 maiores que 95%.

As diferenças entre SpO2 e SaO2 também variaram de acordo com a etnia, sendo maior (0,8 pp) entre os pacientes da etnia negra, quando comparado aos da etnia branca. Essa diferença resultou em uma classificação de 8,7% dos pacientes negros como tendo oximetria normal, quando na verdade estavam com hipóxia; enquanto que entre os pacientes brancos essa situação ocorreu em apenas 6,1% deles. Esse efeito também foi observado quando comparados os grupos asiáticos e brancos, mas com menor impacto.

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Mensagem final

Nesse sentido, é importante estar atento às possíveis superestimações da saturação de oxigênio, pela oximetria de pulso, principalmente naqueles casos com valores abaixo do considerado “normal”. Atenção especial deve ser dada à população negra, que possui maior tendência para essa divergência. Apesar de o estudo não demonstrar o suficiente, em termos de evidências, para mudanças sistemáticas na prática clínica, é válido que nos mantenhamos atentos ao risco de eventos relacionados à hipoxemia não detectada pela oximetria de pulso, principalmente em pacientes negros e naqueles com valores próximos aos limites da normalidade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bangash MN, et al. Impact of ethnicity on the accuracy of measurements of oxygen saturations: A retrospective observational cohort study. The Lancet eClinical Medicine. 2022; 48:101428. DOI: 10.1016/j.eclinm.2022.101428