Oclusão de veia central da retina bilateral associada à Covid-19

Um artigo reportou um caso de um homem com pneumonia por Covid-19, trombose venosa profunda e oclusão da veia central da retina bilateral.

Desde que se iniciou a pandemia de Covid-19 no mundo tivemos diversos relatos de olho vermelho e irritação ocular, sugerindo que a conjuntivite poderia ser uma manifestação ocular primária em grande parte dos indivíduos. Além disso, um artigo recente sugeriu que pacientes com Covid-19 poderiam ter manchas algodonosas e micro-hemorragias no fundo de olho. Um artigo publicado na American Journal of Case Reports no final de 2020 reportou um caso de um homem de 40 anos com pneumonia grave por Covid-19, trombose venosa profunda e oclusão da veia central da retina bilateral.

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Oclusão de veia central da retina bilateral associada à Covid-19

At the hospital. Selective focus of ophthalmological equipment with a nice professional doctor examining her patients eyesight in the background

Características do paciente

O caso era de um homem de 40 anos com uma história de dificuldade respiratória, febre, tosse e dor no lado direito do tórax há 3 dias que teve contato recente com alguém positivo para Covid-19. A história patológica pregressa incluía hipertensão controlada e obesidade mórbida. Não era tabagista e não tinha história de câncer ou doença tromboembólica. Ao exame apresentava frequência cardíaca de 106 bpm, pressão sanguínea de 132/77 mmhg, frequência respiratória de 28 ipm, temperatura 37 graus e saturação de oxigênio 97% com cânula nasal com 4L O2/min. O pulmão estava limpo na ausculta. Tinha edema da perna direita e marcadores inflamatórios elevados como ferritina de 1518 micrograma/L, LDH de 402 IU/L, D dímero > 20 micrograma/mL, PCR de 68 mg/L e interleucina-6 de 87.1 pg/ml, mas os níveis de procalcitonina, função renal e série vermelha eram normais.

A infecção por SARS-CoV-2 foi confirmada por PCR do swab nasofaríngeo. A tomografia mostrou achados da pneumonia por Covid-19. O doppler de membros inferiores demostrou trombose venosa extendendo da veia femoral média para a superficial e descendo para a veia peroneal distal direita. A ecocardiografia demonstrou dilatação grave do ventrículo direito com aumento da pressão ventricular direita e sobrecarga de volume, consistente com achados de insuficiência cardíaca direita com possível associação com um tromboembolismo pulmonar no contexto da trombose venosa profunda. Foi iniciada heparina de baixo peso molecular. No dia 2 de admissão, o paciente se queixou de visão borrada em ambos os olhos e pior em olho esquerdo. Não tinha sinais neurológicos focais. A ressonância magnética afastou qualquer evento vascular encefálico ou patologias orbitárias.

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Na avaliação oftalmológica o paciente tinha acuidade visual de 20/30 em OD e 20/60 em OE. A fundoscopia indireta demostrou veias tortuosas e dilatadas bilateralmente, manchas algodonosas, hemorragias intrarretinianas e edema de disco. Os achados eram mais pronunciados no olho esquerdo. Baseado nesses achados foi feito o diagnóstico de oclusão da veia central da retina. Na semana seguinte, com a condição geral do paciente melhor e com ele fora do oxigênio, foi possível realizar a biomicroscopia que revelou um segmento anterior normal. O exame fundoscópico se manteve similar ao anterior. Além disso tinha 2 hemorragias parafoveais no olho esquerdo na tomografia de coerência óptica (OCT), o que explicava a pior visão do paciente neste olho. O OCT não revelava edema macular clinicamente significativo. A acuidade visual era de 20/20 em OD e 20/40 em OE e foi decidido observar. Não foi realizada angiografia fluoresceínica. Dez dias após admissão no hospital o paciente teve 2 PCR negativos e teve alta com melhora do quadro clínico. Não retornou a esse hospital para avaliações oftalmológicas subsequentes.

Mensagem final

A oclusão de veia central da retina é uma desordem vascular caracterizada por dilatação, engurgitamento e tortuosidade dos vasos retinianos. O resultado é sangramento intraretiniano, edema macular, desenvolvimento de áreas retinianas isquêmicas, edema de disco óptico e redução da acuidade visual. Hipertensão, vasculite, altos níveis de colesterol e diabetes são os fatores mais comumente associados com doenças vasculares como a oclusão arterial. O aumento da viscosidade sanguínea, mutação do fator V de Leiden, trombofilia e deficiência de proteína S ou C podem ter papel importante na etiologia da oclusão de veia central da retina em pacientes jovens. O paciente do caso tinha hipertensão, obesidade e dilatação ventricular direita, mas seus exames para trombofilia eram negativos. A infecção por Covid 19 sabidamente pode causar um estado hiperinflamatório e com maior propensão ao tromboembolismo venoso. Esse é o primeiro caso relatado de oclusão da veia central da retina bilateral associado a Covid 19.

Referências bibliográficas:

  • Gaba WH, et al. Bilateral Central Retinal Vein Occlusion in a 40-Year-Old Man with Severe Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Pneumonia. Am J Case Rep. 2020; 21: e927691-1–e927691-5. doi: 10.12659/AJCR.927691

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