Os primeiros mil dias e a prevenção da obesidade infantil

Os chamados “mil dias do bebê” são considerados uma fase crítica para o desenvolvimento da criança e para a prevenção da obesidade infantil.

Um recente estudo publicado no jornal Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria, mostrou que um programa abrangente de implementação de mudanças na gestação e na primeira infância foi associado à redução do excesso de peso de bebês e a maiores cuidados maternos pós-parto entre díades de baixa renda. As taxas de obesidade infantil estão em níveis historicamente elevados nos Estados Unidos.

Infelizmente ainda existem poucas intervenções que promovam ganho de peso saudável em crianças desde o início da gestação até os 2 anos de idade: os chamados “mil dias do bebê” são considerados uma fase crítica para o desenvolvimento da criança e para a prevenção da obesidade infantil. Dessa forma, o objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da intervenção dos primeiros mil dias na prevalência de sobrepeso infantil e retenção de peso e cuidado materno no período pós-parto. 

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Os primeiros mil dias e a prevenção da obesidade infantil

Metodologia

A intervenção aplicada foi chamada de “Programa Primeiros Mil Dias”, iniciado no primeiro trimestre da gravidez com foco em famílias de baixa renda, que apresentam o maior risco de obesidade infantil. As metas do programa englobam a promoção da adoção de comportamentos saudáveis em mulheres e seus bebês e a proporção de mudanças sistemáticas no atendimento clínico a esses pacientes. 

As ações individuais do programa consistiram em:

  • Busca ativa do paciente para apoiar a adoção de comportamentos de saúde infantil pelos pais, avaliar as necessidades sociais e reforçar a integração dos serviços de saúde (até três chamadas telefônicas desde o nascimento até os 24 meses do bebê);
  • Orientação e coordenação de cuidados de saúde (até três ligações desde o nascimento até 24 meses) para mulheres e bebês considerados de alto risco para obesidade com base no índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional, ganho de peso acelerado na gravidez e/ou ganho rápido de peso infantil. 

Em relação ao sistema de saúde, o programa incluiu:

  • Treinamento padronizado de prevenção da obesidade infantil para médicos e equipes pediátricas, incluindo visitas domiciliares;
  • Rastreamento aprimorado do ganho de peso do bebê, por meio de ferramentas de apoio à decisão clínica e vigilância por treinadores de saúde nos primeiros 1.000 dias;
  • Triagem universal para comportamentos adversos à saúde e fatores sócio contextuais nas idades de 1, 6 e 12 meses;
  • Materiais educacionais e mensagens de texto duas vezes por semana para educar as famílias sobre os comportamentos de saúde no início da vida e para encorajar a mudança de comportamento (até os 24 meses de idade). 

Através de um desenho quase experimental, os pesquisadores avaliaram os efeitos do programa entre 995 bebês (nascidos a termo) e suas mães (com baixa renda) recebendo cuidados em dois centros de saúde comunitários de intervenção e 650 díades em dois centros de saúde para comparação, em Massachusetts. Os centros para comparação implementaram os cuidados habituais. Nos bebês, os resultados foram avaliados aos seis e 12 meses, incluindo o escore-z para peso de acordo com a estatura e sobrepeso (peso para comprimento acima ou igual ao percentil 97,7). Também foram analisados a retenção de peso materno e o recebimento de cuidados seis semanas após o parto.

Resultados

O peso médio dos bebês ao nascer foi de 3,34 kg. Destaca-se que 57% dos bebês eram hispânicos e 66% tinham seguro público de saúde. Aos seis meses, os bebês tiveram menores escores-z de peso para comprimento e menores chances de excesso de peso do que bebês nos centros para comparação. Além disso, os pesquisadores observaram que as diferenças persistiram em um ano. As mães submetidas à intervenção tiveram retenção de peso modestamente menor, mas não significativa, em seis semanas pós-parto e maiores chances de completar a visita pós-parto do que as mães submetidas aos cuidados padrão.

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Conclusão

O “Programa Primeiros Mil Dias” mostrou que a adoção de intervenções individuais e no sistema se saúde durante a gestação e a primeira infância foi associada a melhores desfechos no peso dos bebês e aos cuidados de saúde das mães no pós-parto. Portanto, esse estudo é extremamente relevante em termos de saúde pública, pois essas medidas parecem muito promissoras para melhorar a saúde da população de mulheres e crianças por meio de centros de saúde comunitários e programas de saúde que atendam populações de baixa renda e com diversidade racial e étnica.

 

Referências bibliográficas:

  • Taveras EM, et al. Twelve-Month Outcomes of the First 1000 Days Program on Infant Weight Status. Pediatrics. 2021;

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