Nas farmácias do eixo Rio-São Paulo, pacientes têm notado a falta do medicamento clortalidona. No site Reclame Aqui, os relatos apontam que o desabastecimento começou a ser sentido pela população em janeiro. No ambulatório de hipertensão arterial do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), em Niterói, município litorâneo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, muitos pacientes perceberam a falta do remédio há mais de um mês.
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Sobre o uso da clortalidona
“Clortalidona é um diurético de excelente potência, que indicamos muito para os nossos pacientes com hipertensão arterial. Na sua ausência, estamos receitando os outros tipos de diuréticos dessa classe, uma vez que é o mesmo mecanismo de ação. São esses a hidroclorotiazida, que é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). E a indapamida, que é um pouco mais cara que a clortalidona”, contou o médico cardiologista Ronaldo Gismondi, coordenador do ambulatório de hipertensão arterial do HUAP, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), além de coordenador da cardiologia do Niterói D’Or e editor médico do Whitebook/Pebmed, em entrevista ao portal.
Em São Paulo, a médica Rica Dodo Delmar Buchler, diretora de Cardiologia do Exercício do Instituto Dante Pazzanese e que atua em seu consultório particular na Vila Mariana, também teve que mudar as receitas de pacientes que sentiram a falta do medicamento clortalidona nas farmácias.
“Um dos meus pacientes usava um remédio genérico losartana + clortalidona. Na falta do segundo medicamento, receitei um medicamento que possui as duas fórmulas associadas”, disse a cardiologista, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.
Resposta da Anvisa
Procurada pelo Portal de Notícias da PEBMED, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), respondeu que não houve notificação à agência sobre uma descontinuação de fabricação ou importação (conforme RDC 18/2014) por parte de nenhuma das empresas detentoras de registro dos medicamentos à base de clortalidona na forma isolada no Brasil. Considerando alguns questionamentos recebidos pela Anvisa quanto à indisponibilidade de medicamentos contendo clortalidona, as empresas responsáveis pelos registros foram notificadas a prestar informações.
A Anvisa acrescentou que, em 05/05/2022, foi publicada a Resolução Nº 1.420, de 4 de maio de 2022, suspendendo a importação de todos os insumos farmacêuticos produzidos pela empresa Menadiona, S.L, em decorrência de inspeção sanitária realizada na empresa pela agência reguladora de 24/02/2022 a 28/02/2022. Dentre os insumos cuja importação foi suspensa consta a clortalidona.
“A Menadiona é uma das fornecedoras de insumos farmacêuticos para empresas no Brasil, e o cenário de suspensão de importação de insumos desta empresa pode ter levado à situação de indisponibilidade relatada de medicamentos à base de clortalidona na forma isolada. Destaca-se que o mercado de medicamentos é dinâmico e apresenta flutuações relativas aos procedimentos de importação, estocagem, cadeia de distribuição, dentre outros. Por isso, há possibilidade de faltas pontuais de produtos em alguns pontos de vendas, o que não significa situação de descontinuação”, concluiu a Anvisa, em nota enviada para a redação do Portal de Notícias da PEBMED.
Mecanismo de ação
Os diuréticos continuam sendo a classe de fármacos anti-hipertensivos mais utilizada pela sua eficácia terapêutica e do baixo custo, embora possuam diferenças entre si quanto à duração e ao local de ação no néfron.
Os diuréticos tiazídicos agem preferencialmente inibindo o transporte de sódio e cloro na membrana da parte proximal do túbulo contorcido distal, com consequente redução do volume plasmático e extracelular. O seu uso crônico faz o volume plasmático retornar parcialmente ao normal, porém provoca queda da resistência vascular periférica.
Hidroclorotiazida (HCTZ), clortalidona e indapamida são os diuréticos mais utilizados na prática clínica em monoterapia ou em associação com outros fármacos anti-hipertensivos. Os tiazídicos reduzem de forma satisfatória a pressão arterial quando utilizados em baixas doses e possuem excelente ação quando associados aos inibidores da enzima conversora da angiotensina II (IECAs), bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II (BRAs) e bloqueadores dos canais de cálcio (BCC).
“Esses medicamentos agem no túbulo renal, diminuindo a resistência vascular e, por sua vez, a eliminação de sódio, ou seja, aumenta a diurese e diminui a resistência periférica. São as drogas de primeira indicação para reduzir a hipertensão arterial. É importante ressaltar que não se deve receitar associados dois diuréticos que agem no mesmo lugar, como é o caso da hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida”, explicou a cardiologista Rica Dodo Delmar Buchler.
Clortalidona
A clortalidona, especificamente, é um remédio diurético utilizado para tratar a hipertensão arterial, inclusive devido a insuficiência cardíaca, insuficiência hepática e síndrome nefrótica, diabetes insipidus e acidose tubular renal. Além disso, é administrada para prevenir cálculos renais à base de cálcio.
Ingerida por via oral, os seus efeitos começam a ser sentidos pelos pacientes em torno de três horas e duram até três dias.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem baixo teor de potássio no sangue, baixo nível de sódio no sangue, alto nível de açúcar no sangue, tontura e disfunção erétil. Também pode favorecer o desenvolvimento de gota, baixo nível de magnésio no sangue, alto nível de cálcio no sangue, reações alérgicas e pressão arterial baixa.
4 abr. 2024 
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