Pacientes com glaucoma possuem risco ao dirigir?

O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo, sendo caracterizada por dano no nervo óptico progressivo.

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O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo, sendo caracterizada por dano no nervo óptico progressivo. A deficiência visual do glaucoma pode afetar diversos aspectos da qualidade de vida e das atividades diárias como ler, andar, trabalhar e dirigir. A questão relacionada à capacidade de dirigir é significativa para muitos pacientes, principalmente nas regiões onde dirigir é fundamental para a manutenção da independência.

Pacientes que param de dirigir podem ter sintomas de depressão, isolamento social e acesso pior aos serviços de saúde. Apesar de o teste de acuidade visual ser o parâmetro mais comum para as provas de carteira de motorista, os estudos encontram nenhuma ou pouca associação entre a acuidade e as colisões, sugerindo que deveria haver um melhor parâmetro para essa avaliação associada ao ato de dirigir.

O padrão-ouro para avaliação do dano funcional no glaucoma é o exame de campo visual. Porém esse exame também foi pouco associado ao risco de colisões. Uma revisão publicada nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, este ano, analisou vários métodos que acessam a habilidade de dirigir em pacientes com glaucoma.

Um estudo com mais de 10 mil motoristas na Califórnia mostrou que indivíduos com perda grave bilateral de campo visual tem duas vezes mais chance de se envolver em colisões. Outro estudo mostrou que motoristas com glaucoma tem 65% mais risco de se envolver em colisões nos primeiros cinco anos de follow up do que pacientes sem a doença.

Resultados de estudos usando simuladores de direção mostram que uma restrição de 90 graus de campo visual podem reduzir drasticamente a habilidade de identificar sinais na estrada e evitar obstáculos, além de aumentar o tempo de reação ao estímulo visual. Muitos pacientes perdem a capacidade de perceber sua piora de performance ao dirigir porque lentamente se adaptam às habilidades reduzidas. Esse fato confere um risco adicional ao indivíduo e à sociedade.

No Brasil, a legislação obriga a avaliação da motilidade ocular intrínseca e extrínseca, acuidade visual, campo visual, visão de cores, avaliação da estereopsia, teste de glare e visão noturna. A acuidade visual melhor ou igual a 0.5 em cada olho, ou melhor ou igual a 0.66 em apenas um olho, com isóptero horizontal maior ou igual a 60 graus em cada olho ou maior ou igual a 120 graus em apenas um olho, é exigido para a carteira tipos A e B. Apesar de muitos estudos mostrarem que a presença de defeitos de campo bilaterais está associada com aumento no risco de colisões, alguns estudos não conseguiram reportar uma associação clara entre a perda de campo e as taxas de colisão.

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Haymes et al. encontraram uma alta taxa de colisão em pacientes com glaucoma, mesmo após ajustar para a perda de campo visual, sendo possível, portanto, a sugestão de que o risco de colisão possa não estar mesmo totalmente associado aos defeitos de campo, existindo outros fatores que possam aumentar esse risco.

Dirigir envolve o uso da visão central e periférica, enquanto questões visuais e não visuais podem surgir durante o processo. A percepção do ambiente pode mudar rapidamente e o motorista precisa manter a atenção, já que eventos críticos podem ocorrer. A habilidade de dividir atenção requer a habilidade de responder a uma informação enquanto simultaneamente outra ocorre.

Vários testes de campo de visão útil que incluem processamento de velocidade, atenção compartilhada e atenção visual seletiva foram feitos (UFOV – Useful field of view) e diferentes estudos observaram uma relação entre o resultado e as colisões. Apesar de parecer válido para detectar pacientes sob risco, eles também possuem um grau alto de variabilidade e dependem de um efeito aprendizado significativo. Esses testes têm sido sugeridos como uma ferramenta para screening em idosos.

Em relação ao uso de simuladores de direção, esses tem sido testados em diversas situações, incluindo no Alzheimer, Parkinson e desordens de déficit de atenção, além de acessar os efeitos de distratores, como celulares, álcool e uso de drogas no ato de dirigir. No glaucoma, alguns estudos tem encontrado boa aplicabilidade. A habilidade de dividir atenção tem sido testada medindo o tempo de reação durante estímulos distratores.

Os simuladores e os testes de campo de visão útil são mais fortemente correlacionáveis com o risco de colisão no trânsito em pacientes com glaucoma do que os testes convencionais como acuidade visual e campo visual.

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Referências bibliográficas:

CORREA, Priscila C. et al . Assessing driving risk in patients with glaucoma. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo , v. 82, n. 3, p. 245-252, June 2019;

Owsley C, Ball K, McGwin G Jr, Sloane ME, Roenker DL, White MF, et al. Visual processing impairment and risk of motor vehicle crash among older adults. JAMA. 1998;279(14):1083-8;

McCloskey LW, Koepsell TD, Wolf ME, Buchner DM. Motor vehicle collision injuries and sensory impairments of older drivers. Age Ageing. 1994;23(4):267-73.

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