Parasitoses entre os yanomami atinge alto índice

O estudo incluiu uma ampla investigação sobre os vetores da malária em três diferentes áreas yanomami, com resultados já publicados.

Um levantamento avaliou e identificou a coinfecção por malária e parasitoses intestinais entre os yanomami no polo base de Marari, no Amazonas. O estudo foi realizado pelos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e revelou o alto índice das infecções nas aldeias indígenas. Foram identificados 81% de microrganismos causadores de enfermidades, como a amebíase e verminoses. Além disso, cerca de 15% dos indígenas sofriam, simultaneamente, de parasitose intestinal e malária.  

“O índice de parasitoses intestinais foi muito alto. Mais de 80% dos indígenas examinados possuíam duas ou mais espécies de parasitos intestinais. Em 20% dos casos, encontramos de quatro a seis espécies diferentes de microrganismos. A falta de saneamento nas aldeias indígenas e o contato contínuo com o ambiente contaminado propiciam a infecção por uma grande diversidade de parasitos”, observou a coordenadora do estudo, Joseli Oliveira Ferreira, pesquisadora do Laboratório de Imunoparasitologia do IOC, em entrevista ao portal do Instituto.  

Saiba mais: Quando suspeitar de malária em locais não endêmicos?

Parasitoses entre os yanomami atinge alto índice

Parasitoses entre os yanomami atinge alto índice

Investigação sobre vetores da malária 

Os resultados fazem parte de uma pesquisa iniciada em 2012, que incluiu uma ampla investigação sobre os vetores da malária em três diferentes áreas da terra indígena, com resultados já publicados. Foi estudada também a ocorrência de hepatites virais na população yanomami. 

O trabalho foi realizado em parceria com o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI Yanomami). Dentro do IOC, participaram da pesquisa os laboratórios de Imunoparasitologia, de Pesquisa em Malária, de Hepatites Virais, e de Simulídeos e Oncocercose & Entomologia Médica e Forense. O estudo integra a tese de doutorado de Mariana Pinheiro Alves Vasconcelos, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC, sob orientação de Joseli Ferreira.  

Diversidade de parasitas encontrados 

Cinco comunidades yanomami próximas da fronteira com a Venezuela fizeram parte do projeto. A coleta de amostras ocorreu em 2015, com a participação de 295 indígenas. Todos os habitantes das aldeias receberam atendimento médico necessário no período do estudo. 

O parasita intestinal mais encontrado foi a Entamoeba coli, detectado em 100% dos exames. Apesar do microrganismo possuir pouco potencial patogênico, em alguns casos pode determinar quadros clínicos de desconforto abdominal. A grande maioria das amostras apresentou simultaneamente infecção por mais de um microrganismos patogênicos.  

A Entamoeba histolytica, causadora da amebíase, foi detectada em 71% das amostras. Já vermes ancilostomídeos, que provocam o amarelão (ancilostomose), e Ascaris lumbricoides, popularmente chamado de lombriga, foram observados em torno de 20% das análises.  

Em menor frequência foram observadas a ocorrência do protozoário Giardia intestinalis, que provoca giardíase, dos vermes Trichuris trichiura, causador da tricuríase, e Enterobius vermicularis, que provoca enterobíase (também conhecida como oxiuríase).  

Todos os participantes da pesquisa receberam o tratamento adequado para as infecções, visando garantir a saúde e combater a desnutrição, que ameaça principalmente as crianças, como explica melhor a pesquisadora Joseli Ferreira.

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Metodologia aplicada para identificar a malária 

O alto índice de malária foi igualmente observado na pesquisa, sendo  diagnosticado em 15% dos participantes do estudo. Isso graças à utilização da metodologia de PCR (que significa em inglês Polymerase Chain Reaction ou reação em cadeia da polimerase), uma vez que permite detectar a presença do DNA dos parasitos no sangue.  

É importante pontuar que mais de 80% das infecções foram submicroscópicas, ou seja, não foram detectadas por meio do exame de microscopia de gota espessa, tradicionalmente utilizado no diagnóstico da malária. 

O mesmo padrão tinha sido observado no primeiro levantamento sobre a malária, realizado na região de Marari em 2014, em colaboração com pesquisadores do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas Gerais). 

Joseli Ferreira explicou que a diferença ocorre porque a metodologia de PCR consegue detectar pequenas quantidades de parasitos no sangue. “Em áreas endêmicas, os indivíduos adquirem imunidade por serem muito expostos à malária e acabam apresentando baixa parasitemia (presença de parasitos no sangue) sem sintomas. A maioria dos casos positivos no exame de gota espessa ocorreu em crianças, mulheres grávidas e adolescentes, que são mais vulneráveis à enfermidade”, concluiu a orientadora.  

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

 

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