Pediatras comentam sobre diretriz para tratar a obesidade infantil da AAP

Especialistas argumentam que é necessário um estilo de vida saudável como a melhor forma de combater a obesidade infantil e prevenir doenças,

A Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou uma nova diretriz sobre como tratar a obesidade infantil depois de 15 anos, alegando que a alimentação saudável e a prática de exercícios nem sempre são o suficiente. A recente orientação indica que a intervenção médica contra a obesidade infantil deve ser realizada de forma mais ampla e complexa do que apenas recomendar mudanças na alimentação e na prática de exercícios físicos. E, pela primeira vez, passa a indicar o uso de medicamentos como parte do tratamento. Sugerindo ainda que adolescentes obesos graves maiores de 13 anos possam ser encaminhados para cirurgia bariátrica 

“O tratamento médico e a prevenção precisam andar de mãos dadas. A obesidade é uma condição médica crônica e, além de mudanças saudáveis no estilo de vida, mostramos que a medicação funciona e a cirurgia também funciona”, disse a pediatra Nazrat Mirza, que é uma autora das diretrizes.

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Mirza ressaltou que as diretrizes querem quebrar as barreiras que as pessoas com obesidade enfrentam – como ouvir que é uma “questão de força de vontade” – e tornar os tratamentos médicos prontamente disponíveis, como são para qualquer outra condição. “Na hipertensão arterial, você diria a alguém para cortar o sal, mas se a pressão ainda estiver alta, você vai dar remédios”, alegou.  

Pediatras comentam sobre diretriz para tratar a obesidade infantil da AAP

Pediatras comentam sobre diretriz para tratar a obesidade infantil da AAP

Especialistas falam sobre recomendações 

Médicos especialistas argumentam que é necessária a promoção de um estilo de vida saudável como a melhor forma de combater a obesidade infantil e prevenir doenças ao longo da vida, como diabetes. Pediatras americanos, em especial, estão preocupados com a ênfase na intervenção precoce intensiva. 

A médica Katy Miller, que trabalha com adolescentes afetados por distúrbios alimentares, teme que essas diretrizes possam estar preparando as crianças para um relacionamento complicado com seus corpos.  

“Estamos propondo estratégias de tratamento que são caras e, mesmo nas melhores circunstâncias, muitas vezes não são bem-sucedidas”, enfatizou.  

Ela considera que o foco deveria ser mais nos fatores sociais que afetam a obesidade infantil. “Como podemos pedir a alguém que faça dieta quando não estamos tratando de questões como pobreza, escassez de alimentos saudáveis e instabilidade habitacional? Tive um paciente de 15 anos que foi instruído pelos médicos a perder peso e sua família vive em extrema pobreza. Eles tiveram uma melhora em suas circunstâncias financeiras e ele me disse ‘ você sabe qual é a melhor parte de ter dinheiro? Você pode comprar frutas que não estão mofadas'”, contou.  

Já na visão do médico endocrinologista Igor Barcelos, a entidade americana está correta em incentivar o tratamento medicamentoso precoce em determinados casos, uma vez que existem remédios eficazes e com baixo potencial de efeitos colaterais atendendo ao público pediátrico.  

“A APP reconhece que a obesidade é uma condição crônica, complexa e de difícil controle. É necessário enxergar a obesidade como uma doença crônica, multifatorial e que necessite de terapia efetiva, de forma intensiva. O uso de terapia medicamentosa não vem para substituir a adoção de um estilo de vida saudável, mas sim, potencializar a eficácia na perda de peso, sempre somadas às estratégias. Atualmente, contamos com medicamentos eficazes e com baixo potencial de efeitos colaterais, atendendo ao público pediátrico. Segundo a APP, o tratamento deve ser iniciado de forma precoce, pois não existem evidências que adiar o tratamento traga benefícios ao paciente. Já falhamos por anos permitindo que as nossas crianças ganhem cada vez mais peso e sejam expostas a diversas outras enfermidades, como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas e cânceres. Concordo com o posicionamento da APP, que vem no sentido de alertar os médicos da urgência de reconhecer a obesidade como uma doença, e agir rapidamente para evitar maiores consequências”, apoia Igor Barcelos. 

Leia também: Pontuações do IMC de 14.121 crianças nos Estados Unidos em um período de 15 anos

Visões de outros profissionais de saúde sobre a obesidade infantil

Para a nutricionista escolar e materno infantil, Alexandra Marinho, a união da atividade física e uma alimentação saudável não deve ser desvalorizada. No entanto, ela enfatiza que cada caso precisa ser avaliado individualmente. 

“Não sou a favor de remédio para emagrecer, muito menos em crianças e adolescentes a não ser que o paciente já tenha uma doença preexistente e/ou outras complicações de saúde, além da inflamação que gera a obesidade. A educação nutricional realizada de forma certa e preventiva sempre será a melhor opção. Mas, claro que cada caso é um caso e existem crianças que precisam também de um tratamento médico, que deve abranger muitas vertentes, começando pela mídia e terminando nos consultórios, escolas e residências, sempre acompanhado por uma equipe multidisciplinar. A inflamação que causa uma obesidade é sistêmica, portanto é um trabalho de um organismo inteiro a ser melhorado”, ressaltou Alexandra Marinho, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED. 

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • https://publications.aap.org/pediatrics/article/151/2/e2022060640/190443/Clinical-Practice-Guideline-for-the-Evaluation-and?autologincheck=redirecte%3fautologincheck%3dredirected