Pessoas doentes deixaram de procurar atendimento durante a pandemia no Brasil?

Qual terá sido, de fato, a repercussão da pandemia na procura dos pacientes por atendimento médico no Brasil?

Em março de 2020, com a chegada da pandemia por Covid-19 no Brasil, uma série de medidas de isolamento social foram postas em ação. Para evitar o contágio, durante os momentos de alta de casos, diversos serviços e estabelecimentos permaneceram fechados e unidades de saúde, muitas vezes, restringiram atendimentos de modo a priorizar os casos de infecção por coronavírus. A essas restrições, soma-se o receio da própria população em contrair a doença, os quais provavelmente causaram uma diminuição da busca por consultas, exames e atendimentos em geral pelos pacientes. Essa redução de acesso ao cuidado em saúde pode ter implicações importantes no controle de doenças e na prevenção de agravos, a curto, médio e longo prazos. Mas qual terá sido, de fato, a repercussão da pandemia na procura dos pacientes por atendimento médico no Brasil?

Pessoas doentes deixaram de procurar atendimento durante a pandemia no Brasil

Análise recente

Em estudo de abrangência nacional, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas realizaram entrevistas domiciliares em 133 áreas urbanas, entre 24 e 27 de agosto de 2020, com o objetivo de avaliar a proporção da população de que tenha apresentado algum tipo de problema de saúde, entre março e agosto de 2020, mas que tenha deixado de procurar atendimento. Perguntou-se aos indivíduos se, desde o início da pandemia, haviam sofrido algum problema de saúde mas não haviam procurado atendimento, ou se haviam deixado de realizar consultas ou exames de rotina.

No total, 33.250 pessoas foram entrevistadas. Destes, 23,9% (IC95%: 23,4-24,4) relataram que haviam deixado de procurar atendimento apesar de estarem doentes (11,8% do total) e/ou haviam deixado de comparecer a consultas de rotina ou triagem (17,3% do total).

Mulheres apresentaram maior chance de não buscar atendimentos do que homens, mesmo apresentando alguma doença ou tendo alguma consulta marcada. Pessoas de nível socioeconômico mais baixo também apresentaram chance maior de não procurarem atendimento. O mesmo ocorre com pessoas que moram no Norte e Nordeste do Brasil, quando comparadas àquelas moradoras do Sul e Sudeste.

Leia também: Adoecimento sociogênico coletivo e a pandemia de covid-19

Com relação às razões de não buscar atendimento, o fechamento ou a restrição das unidades de saúde foi o principal motivo alegado por pessoas com doenças prévias à pandemia e por aqueles com menor nível socioeconômico, enquanto que o medo de contrair a doença foi mais citado por indivíduos de maior poder aquisitivo.

Conclusão

Percebe-se que a pandemia atingiu mais fortemente os mais vulneráveis, também com relação à diminuição de acesso aos serviços de saúde. Enquanto indivíduos com maior nível socioeconômico costumeiramente possuem opções de acessar serviços particulares de saúde, os mais pobres tendem a depender apenas do seu serviço público de referência, com frequência a Unidade Básica de Saúde perto de sua casa. Assim, para diminuir essas iniquidades, é essencial fortalecer a Atenção Primária à Saúde, apoiando o atendimento baseado na comunidade. A saúde da população brasileira já apresentava fragilidades importantes antes da pandemia e a restrição de atendimentos apresentada certamente causará atrasos no cuidado e no diagnóstico de doenças, com suas consequências possivelmente surgindo em um futuro próximo.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Horta BI, et al. COVID-19 and outpatient care: a nationwide household survey. Cadernos de Saúde Pública 2022; 38(4):e00194121. DOI: 10.1590/0102-311X00194121

Especialidades