Pressão Venosa Central (PVC) no paciente grave: dicas práticas

A pressão venosa central (PVC) é uma variável hemodinâmica importante. Neste artigo, veja como mensurar e interpretar no cuidado intensivo.

Você já deve ter ouvido falar da pressão venosa central (PVC) como guia para terapia de fluidos em pacientes graves. No entanto, nos últimos anos, o interesse pela PVC para este fim reduziu bastante, principalmente após a publicação dos guidelines da Surviving Sepsis Campaign em 2016, que deixou de recomendar a utilização do parâmetro para guiar o manejo de fluidos em pacientes sépticos.

A pressão venosa central (PVC) é uma variável hemodinâmica importante. É determinante para a função cardíaca global (via mecanismo de Frank-Starling), assim como para o status venoso, uma vez que é um componente pressórico que representa o retorno venoso e também a perfusão orgânica. 

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Acaba de ser publicado neste mês uma revisão interessante sobre a PVC na Intensive Care Medicine. A partir deste artigo, publicado pelo prof. Jean-Louis Teboul, separamos dicas práticas para a utilização da PVC. 

Pressão Venosa Central (PVC): como ela pode ajudar durante a ressuscitação volêmica

Como mensurar de forma adequada a PVC?

A qualidade da mensuração é um pré-requisito fundamental para a interpretação adequada da PVC.

A mensuração demanda um cateter venoso central conectado a um transdutor eletrônico de pressão e a um monitor com exibição contínua da curva de pressão. A ponta do cateter deve estar localizada na veia cava superior, próximo à junção da veia cava superior com o átrio direito.

O transdutor deve ser posicionado a nível do ponto flebostático. O mesmo localiza-se a uma distância vertical de 5 cm do ângulo esternal, correspondendo ao ponto médio do átrio direito. Isso representa, para fins práticos, o cruzamento do quarto/quinto espaço intercostal com a linha axilar média.

Atenção: o nivelamento adequado do transdutor de pressão é crucial. Pequenos erros no nivelamento podem resultar em importantes mudanças na interpretação do valor da PVC. 

A mensuração deve ser realizada no final da expiração (pressão intratorácica estará no seu menor valor). Em caso de respiração espontânea, o período expiratório final corresponde ao maior valor visto na curva. Em caso de ventilação mecânica, o valor expiratório final está próximo do menor valor evidenciado na curva.  

Você conhece o conceito da PVC transmural?

A PVC transmural é diferente da mensurada pelo monitor e envolve a necessidade de cálculo. É representada pela seguinte diferença: PVC final expiração – pressão intratorácica final expiração. 

Como calcular?

PVC final inspiração – PVC final expiração  

——————————————————–      x   PEEP 

               Pressão Platô – PEEP 

Quais interpretações da PVC?

  • Como reflexo da pressão de enchimento do ventrículo direito 

A PVC transmural reflete a pressão de enchimento do ventrículo direito (VD). Um valor elevado reflete disfunção de átrio direito. Nesse sentido, caso esse achado seja identificado, um ecocardiograma deve ser realizado. 

De acordo com Vieillard-Baron et al, a combinação da dilatação de VD com PVC ≥ 8 mmHg pode auxiliar na definição da falência de VD com implicações potenciais para o manejo hídrico. Nesse cenário, tamponamento cardíaco, TEP grave, isquemia extensa de VD, pneumotórax hipertensivo estão entre condições agudas que podem levar à falência de VD.

  • Como predição de fluidorresponsividade (não deve ser usada!)

Apesar da PVC transmural refletir a pressão de enchimento do VD, vários estudos já evidenciaram que a variável não deve ser usada para fins de predição de fluidorresponsividade. A PVC é um marcador estático de pré-carga.

Veja este artigo que escrevi sobre como a PVC pode ajudar durante o manejo de fluidos: https://pebmed.com.br/pressao-venosa-central-pvc-como-ela-pode-ajudar-durante-a-ressuscitacao-volemica/ 

  • Como reflexo da pressão de perfusão orgânica

A PVC faz parte do cálculo da pressão de perfusão de vários órgãos vitais (cérebro, rins…). A pressão de perfusão média é a diferença entre Pressão Arterial Média (PAM) e PVC. Nesse caso, consideramos a PVC mensurada. A pressão de perfusão orgânica está associada de forma independente à progressão para injúria renal aguda, a partir de um valor de 60 mmHg.  

Nos cenários de pressão de perfusão média insuficiente devido PVC elevada, a melhor opção é redução da PVC com retirada de líquidos, reduzindo o risco de congestão venosa (que contribui para disfunção orgânica). Se a PVC não pode ser rapidamente reduzida, o aumento da PAM é uma opção, no entanto não previne o risco de congestão venosa.

Mensagens práticas 

  • Diante das evidências atuais, a PVC pode nos fornecer informações sobre a função do ventrículo direito e perfusão orgânica; 
  • Não esqueça que o adequado nivelamento para mensuração é fundamental;
  • Cateteres venosos centrais são muito utilizados em vários pacientes com quadros de choque. A PVC deve ser levada em consideração no contexto da avaliação hemodinâmica, de acordo com suas especificidades; 
  • A PVC não deve ser usada para fins de interpretação de fluidorresponsividade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Hamzaoui O, Teboul JL. Central venous pressure (CVP) [published online ahead of print, 2022 Aug 11]. Intensive Care Med. 2022;10.1007/s00134-022-06835-6. doi:10.1007/s00134-022-06835-6 

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