Candidemia é uma condição associada à alta mortalidade e com potencial para gerar focos de infecção à distância. Por esse motivo, diante de um diagnóstico do isolamento de Candida spp. em amostras de hemocultura, recomenda-se a procura sistemática por focos infecciosos metastáticos.
Os guidelines da Infectious Diseases Society of America (IDSA) recomendam que todos os pacientes com candidemia tenham uma avaliação oftalmológica em até uma semana do diagnóstico — para os pacientes não neutropênicos — ou quando houver recuperação da contagem de neutrófilos — para os pacientes neutropênicos.
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Entretanto, essa conduta não é unânime. A American Academy of Ophthalmology (AAO) recomenda que o rastreio para endoftalmite em pacientes com candidemia seja realizado somente na presença de sinais e sintomas de infecção ocular.
Análise recente sobre acometimento ocular por Candida spp
Em uma revisão sistemática, definiu-se endoftalmite por Candida como achados oculares anormais, incluindo vitrite e coriorretinite, especificamente atribuídos a infecções por Candida spp. baseados em exame direto realizado por oftalmologista. Já o termo candidíase ocular inclui quaisquer anormalidades intraoculares em pacientes com candidemia, como vitrite, coriorretinite e outros achados inespecíficos em retina. A prevalência dessas duas condições foi considerada o desfecho primário para a revisão e a meta-análise.
Resultados
Após o processo de análise e exclusão, 70 estudos foram incluídos na revisão e na meta-análise de candidíase ocular, dos quais 35 incorporaram a meta-análise de endoftalmite por Candida. No total, 5 estudos foram incluídos na meta-análise de fatores de risco associados à endoftalmite por Candida.
A prevalência de candidíase ocular encontrada pelos autores foi de 10,70% (IC 95% = 8,41 – 13,51%) dos pacientes que foram rastreados para complicações oftalmológicas. Em relação à presença de endoftalmite por Candida, a prevalência foi de 3,08% (IC 95% = 2,08 – 4,54%) dos pacientes rastreados. Em uma subanálise por grupos, estudos da Ásia apresentaram uma prevalência de endoftalmite por Candida de 3,64% (2,87% – 4,61%), maior do que a encontrada em estudos conduzidos na Europa (1,40%; IC 95% = 0,38 – 5,02%) e na América (1,44%; IC 95% = 0,95 – 2,20%). Não houve diferença de prevalência entre adultos e crianças.
Para a metanálise, os autores buscaram possíveis fatores que pudessem estar associados ao desenvolvimento de endoftalmite por Candida. Somente 4 fatores foram encontrados de forma consistente em pelo menos 3 estudos, sendo incorporados na meta-análise: C. albicans, Candida não albicans, presença de cateter venoso profundo e presença de nutrição parenteral total (NPT).
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Candidemia por C. albicans e uso de NPT estiveram associados como fatores de risco para endoftalmite por Candida, com uma OR estimada de 3,02 (IC 95% = 1,67 – 5,46; p < 0,01) e de 6,92 (IC 95% = 3,58 – 13,36; p < 0,01), respectivamente. Já candidemia por espécies não albicans esteve associada com uma menor chance de endoftalmite (OR = 0,33; IC 95% = 0,18 – 0,60; p < 0,01). A presença de cateter venoso profundo não esteve associada à endoftalmite de forma estatisticamente significativa.
Mensagens práticas
- Esse estudo com revisão sistemática e meta-análise encontrou uma elevada prevalência de acometimento ocular em pacientes com candidemia.
- Candidemia por C. albicans e a presença de NPT foram encontrados como fatores de risco para endoftalmite, embora poucos estudos tenham sido incluídos na análise.
3 abr. 2024 
5 min. 
