Rastreio de depressão e suicídio em adultos: recomendações da USPSTF

A recomendação de rastreio se aplica a despeito da existência de fatores de risco, como história familiar de depressão e outros.

A depressão caracteriza-se por uma condição crônica, com períodos de remissão e recorrência, iniciando-se na adolescência e início da vida adulta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ela ocupa o 1º lugar quando se considera o tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%). De acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Há evidências contundentes de desigualdades raciais e étnicas no tratamento e desfecho da depressão.  

Leia mais: Cetamina ou ECT no tratamento de depressão não psicótica resistente ao tratamento?

A depressão é comum durante a gestação e período perinatal, estando associada a piores desfechos obstétricos e maternos-fetais, comprometendo a qualidade da ligação mãe-bebê, com reverberações no neurodesenvolvimento.  

No mundo, segundo a OMS, uma em cada 100 mortes é por suicídio (800 mil mortes por suicídio a cada ano). O Brasil tem contrariado uma tendência mundial de diminuição de suicídio nas últimas décadas, com aumento de aproximadamente 220% entre 1979 até 2016. Transtornos psiquiátricos e tentativas prévias de suicídio aumentam o risco de suicídio.  

depressão e suicídio em adultos

Benefício do rastreio  

O rastreio para transtorno depressivo maior (TDM) em contextos de atenção primária tem um benefício moderado. A evidência é insuficiente para fazer uma ponderação entre os riscos e benefícios. A recomendação se aplica a adultos maiores de 18 anos que não tenha um diagnóstico de transtorno mental ou sinais reconhecíveis de depressão ou risco de suicídio. A recomendação se restringe a TDM e não se aplica a outros transtornos depressivos. Estima-se que somente 50% dos pacientes com transtorno depressivo maior são identificados. 

A recomendação de rastreio se aplica a despeito da existência de fatores de risco, como história familiar de depressão, episódio depressivo prévio, diagnóstico de outro transtorno mental, história de trauma ou eventos adversos ao longo da vida ou história de doenças clínicas.  

Vale lembrar que mulheres têm duas vezes mais risco de depressão que homens, bem como adultos jovens de minorias étnicas. São fatores de risco para depressão perinatal estresse, baixo suporte social, histórico de depressão, insatisfação com o/a parceiro/a e história de abuso.  

Os potenciais riscos do rastreio inclui resultados falso positivos levando a tratamentos desnecessários. 

 Como fazer o rastreio 

O US Preventive Services Task Force sugere os seguintes instrumentos para rastreio de depressão: Patient Health Questionnaire (PHQ) e Center for Epidemiologic Studies Depression Scale (CES-D) para adultos; The Geriatric Depression Scale (GDS) para idosos e Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) para pessoas grávidas e no pós-parto. Todos os instrumentos têm traduções validadas em português.  

O USPSTF sugere os seguintes instrumentos para rastreio de suicídio: Beck Hopelessness Scale, The SAD PERSONS Scale e SAFE-T. Há versão em português da escala SAD PERSONS.  

Não há temporalidade estabelecida para o intervalo de rastreio. Assim, devem ser rastreados todos aqueles que ainda não foram, e a repetição do rastreio deve se basear no julgamento clínico.  

Veja também: Como diagnosticar TDAH em adultos?

Acurácia dos Instrumentos de Rastreio 

Nas meta-análises de dados de pacientes individuais, o PHQ-9 identificou 85% dos participantes com depressão maior e 85% daqueles sem depressão maior (ponto de corte de 10 ou mais), quando comparado com entrevista semiestruturada (sensibilidade, 0,85 [IC 95%, 0,79-0,89]; especificidade, 0,85 [IC 95%, 0,82-0,87]; 47 estudos [n = 11 234]). O PHQ-2 (ponto de corte 2 ou mais) foi mais sensível do que o PHQ-9, identificando 91% dos participantes com depressão maior (sensibilidade, 0,91 [IC 95%, 0,88-0,94]; 48 estudos [n = 11 703]).

No entanto, a especificidade nesse ponto de corte foi menor, identificando 67% dos participantes sem depressão (especificidade, 0,67 [IC 95%, 0,64-0,71]; 48 estudos [n = 11.703]). O CES-D foi tão preciso quanto o PHQ-2, assim como o EPDS (com sensibilidade entre 81-90% e especificidade entre 83-88% com ponto de corte de 11 e 12). O GDS-15 com ponto de corte de 5 apresentou sensibilidade de 0,94 [IC 95%, 0,85-0,98]; I2 = 85,7% e especificidade de 0,81 [IC 95%, 0,70-0,89]; I2 = 99,2%).  

Benefícios da detecção precoce  

A triagem foi associada à menor prevalência de depressão e sintomatologia depressiva 6 meses após o início do acompanhamento OR: 0,6 [IC 95%, 0,50-0,73]; 8 ensaios clínicos randomizados [n = 10 244] e maior probabilidade de remissão OR: 1,58 [IC 95%, 1,23-2,02]; 8 ensaios clínicos [n = 2302] I2 = 0%. A evidência na população idosa demonstrou efeitos menores.  

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Recomendações 

O USPSTF recomenda a triagem para depressão na população adulta, incluindo grávidas e puérperas, bem como adultos mais velhos, mas conclui que as evidências disponíveis são insuficientes para determinar o risco versus benefícios da triagem.  

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  •  
  • DAMIANO, Rodolfo F.; LUCIANO, Alan C.; CRUZ, Isabella D’Andrea Garcia da; et al. Compreendendo o suicídio. São Paulo: Editora Manole, 2021. 
  • Jin J. Screening for Depression and Suicide Risk in Adults. JAMA. 2023;329(23):2102. 
  • Ministério da Saúde [Internet]. Depressão [cited 2023 Jul 28]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao
  • :~:text=Estudos%20mostram %20preval%C3%AAncia%20ao%20longo   ‌