Recomendações na abordagem da população LGBTQIA+ na Atenção Primária à Saúde

Megan C. McNamara trouxe uma revisão sobre preocupações que médicos devem ter na abordagem de pessoas LGBTQIA+ na Atenção Primária. Saiba mais.

Dia 28 de junho foi o Dia do Orgulho LGBTQIA+ e a PEBMED trouxe uma série de conteúdos específicos relacionados ao tema. Nesse sentido, revisar as características da abordagem clínica a populações pertencentes a esse grupo é muito pertinente.

Em março de 2021, foi realizado o congresso virtual de Medicina Interna da American College of Physicians, o Internal Medicine Meeting 2021: Virtual Experience. A professora Megan C. McNamara apresentou uma revisão sobre quais as principais preocupações que o médico deve ter na abordagem de pessoas LGBTQIA+ na Atenção Primária, bem como recomendações de rastreamento. Tendo em vista que essa população é plural e que possui pontos em comum em termos de prevalência de doenças, ela apresentou alguns tópicos que devem ser lembrados na condução das consultas.

LGBTQIA+

As recomendações no atendimento à população LGBTQIA+

“Há uma correlação bem documentada entre experiências de discriminação e marginalização e desfechos ruins de saúde física e mental. Populações que enfrentam estigma e discriminação difundidos possuem mais chance de apresentar pior saúde em geral e são mais vulneráveis a uma gama de condições patológicas físicas e mentais.” Iniciando com essa constatação realizada a partir de estudos de 2015 e 2016 do Centro Nacional de Igualdade de Gênero dos Estados Unidos, a professora apresenta a premissa que sustenta a necessidade de abordagem diferenciada à população LGBTQIA+. As recomendações que se seguem partem da identificação das práticas sexuais, sendo diferenciadas em “homens que fazem sexo com homens” (HSH) e “mulheres que fazem sexo com mulheres” (MSM), bem como da identidade do paciente como LGBTQIA+.

Com relação à abordagem do grupo HSH, os problemas de saúde relacionados à identidade LGBTQIA+ que devem vir à mente inicialmente são os de saúde mental, de uso abusivo de tabaco e de álcool. Para justificar isso, ela apresenta dados de estudos publicados no JAMA em 2016 que comparam homens heterossexuais, bissexuais e gays com relação a esses problemas. O risco de apresentá-los é maior entre homens bissexuais e gays, quando comparados aos homens heterossexuais. Por isso, é importante ativamente rastrear essas condições nesses grupos, incluindo depressão, ansiedade e risco de suicídio.

As questões relacionadas à prática sexual desse grupo envolvem, segundo a professora, o rastreio de lesões de sífilis, clamídia e gonorreia em região genital e extragenital (reto e faringe). Também se baseando em estudos publicados, ela aponta a alta prevalência dessas doenças entre HSH, com lesões muitas vezes passando despercebidas pelos médicos, principalmente quando em sítios que não os genitais.

Além disso, ainda sobre o grupo HSH, destaca-se a alta prevalência de novos diagnósticos de HIV, principalmente em pacientes jovens. Por isso, é importante avaliar a indicação de PrEP (profilaxia pré-exposição) para a doença. Os critérios de elegibilidade de início de PrEP apresentados pela professora são: ser HIV negativo; ter tido parceiros sexuais homens nos últimos 6 meses; não estar em uma relação monogâmica; ter praticado sexo anal nos últimos 6 meses ou ter tido alguma infecção sexualmente transmissível de origem bacteriana nos últimos 6 meses. É importante lembrar que podem haver diferenças nas indicações de PrEP de acordo com os critérios do SUS, no Brasil.

Leia também: Acolhimento e o processo de cuidado da população LGBTQIA+

Para pacientes do grupo MSM (mulheres que fazem sexo com mulheres), tendo em vista a identidade LGBTQIA+, além dos já mencionados problemas de saúde mental e abuso de tabaco e álcool, a professora destaca a importância de se rastrear risco cardiovascular. Quando comparadas a mulheres heterossexuais, tanto mulheres lésbicas, quanto bissexuais, apresentam uma maior probabilidade de apresentarem sobrepeso e obesidade, segundo estudos citados na apresentação. Quando comparadas entre si, as mulheres lésbicas chegam a ter mais do que o dobro de chances de apresentarem obesidade do que as mulheres bissexuais. Portanto, soma-se ao aconselhamento ativo sobre abuso de substâncias (álcool e tabaco) o relacionado à perda de peso.

Cuidados com o grupo MSM

Tendo em mente o tipo de prática sexual desse grupo, a professora cita, também, a importância de abordar o HPV, lesões de herpes e vaginose bacteriana, condições essas particularmente prevalentes entre MSM. Destaca-se o cuidado ao HPV e ao câncer de colo de útero: estudos mostram que mulheres lésbicas têm menores chances de completarem o esquema vacinal contra o HPV. Além disso, podem ter mais dificuldades (inclusive causadas por preconceitos do próprio serviço de saúde) de realizar a rotina de rastreamento de CA de colo de útero através do exame papanicolau. Por isso, ao abordar mulheres desse grupo, deve-se atentar ativamente para a abordagem dessas questões, de acordo com as recomendações de acompanhamento mais recentes.

Considerações 

A abordagem de pessoas LGBTQIA+ deve, portanto, levar em consideração especificidades e riscos diferenciados de adoecimento. Tanto o estigma e o preconceito enfrentados por essa população, quanto as práticas sexuais (HSH e MSM), contribuem para características específicas na prevalência de doenças e no impacto delas na saúde dos pacientes. Os médicos que atuam na Atenção Primária devem sempre ter em mente a necessidade de abordar saúde mental, tabagismo e alcoolismo, risco cardiovascular (este principalmente para MSM) e infecções sexualmente transmissíveis, com foco para HIV em HSH e para HPV em MSM, lembrando das indicações de PrEP e de rastreamento de câncer de colo uterino.

 

Referência bibliográfica:

  •  Megan C. McNamara, MD, MS, Member. LGBTQ Health: A Practical Approach. Internal Medicine Meeting 2021: Virtual Experience. American College of Physicians. Mar. 2021. doi: 10.3949/ccjm.83a.15148

 

 

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