Ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea precoce na PCR extra-hospitalar

Um estudo comparou RCP extracorpórea à RCP convencional na sobrevida com desfecho favorável em pacientes com PCR extra-hospitalar.

Uma das principais causas de parada cardiorrespiratória (PCR) extra-hospitalar são as arritmias ventriculares e o tratamento preconizado é baseado em compressões torácicas de qualidade e desfibrilação precoce. Porém, quando essas medidas falham, a chance de sobrevivência cai de forma drástica. 

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) extracorpórea, que consiste na utilização de uma membrana de oxigenação extracorpórea, do inglês extracorporeal membrane oxigenation (ECMO) restaura a perfusão, com objetivo de reduzir a lesão cerebral isquêmica e possibilitar a identificação e tratamento da causa da PCR. Porém, as evidências para utilização destes dispositivos são controversas, com poucos estudos mostrando resultados conflitantes. 

Foi feito então um estudo para comparar a RCP extracorpórea à RCP convencional em relação a sobrevida com desfecho neurológico favorável em pacientes com PCR extra-hospitalar refratária e com ritmo inicial de arritmia ventricular.  

ecmo venovenosa

Métodos do estudo 

Foi estudo multicêntrico, randomizado e controlado realizado em dez centros no período de 2017 a 2021. Os critérios de inclusão eram idade entre 18 e 70 anos com PCR extra-hospitalar testemunhada e refratária, com ritmo inicial de fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV). A refratariedade era considerada quando não havia retorno da circulação espontânea (RCE) com pelo menos 15 minutos de suporte avançado de vida. 

A partir deste tempo os pacientes eram transportados enquanto reanimados e, na ausência de critérios de exclusão, eram submetidos à randomização para o grupo intervenção, com utilização do dispositivo de ECMO ou não, com realização do tratamento convencional. Os cuidados pós PCR eram os recomendados pelas diretrizes e padronizados nas instituições. 

O desfecho primário era sobrevida com desfecho neurológico favorável, definido como escore 1 ou 2 (normal ou com disfunção, porém independente) da Categoria de Performance Cerebral (CPC). 

Resultados 

A análise final incluiu 70 pacientes no grupo RCP extracorpórea e 64 no grupo RCP convencional. A idade média foi 54 anos no primeiro grupo e 57 anos no segundo e as demais variáveis analisadas eram semelhantes entre eles.  

O tempo médio desde o reconhecimento da PCR até a chegada da ambulância foi de oito minutos nos dois grupos e o tempo médio até a chegada ao hospital foi de 36 e 38 minutos nos grupos RCP extracorpórea e RCP convencional, respectivamente.   

Dos 70 pacientes do grupo RCP extracorpórea, 18 não receberam este tratamento, sendo os motivos RCE, falha na instalação do dispositivo ou cessação da RCP. Dos 64 pacientes do grupo RCP convencional, 12 não receberam este tratamento, sendo os motivos RCE e instalação de ECMO mesmo não sendo designados para o grupo intervenção. RCE estável ocorreu em 26% do grupo intervenção e 31% do grupo controle. 

O desfecho primário ocorreu em 20% dos pacientes do grupo RCP extracorpórea e em 16% do grupo RCP convencional, sem diferença estatística (OR 1,4; IC95% 0,5 – 3,5; P = 0,52). Maior proporção de pacientes do primeiro grupo sobreviveu até a admissão na UTI e proporção semelhante entre os dois grupos sobreviveu até a alta hospitalar. A sobrevida com desfecho neurológico favorável também foi semelhante em seis meses. 

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Comentários e conclusão  

Neste estudo não houve melhora dos desfechos de sobrevida com status neurológico favorável com uso de dispositivo para RCP extracorpórea precoce na PCR extra-hospitalar refratária. 

Um ponto que pode ter influenciado os resultados foi a alta taxa de RCE antes da instalação do dispositivo (26% no grupo intervenção e 31% no grupo controle), provavelmente decorrente da randomização precoce. Além disso, a instalação do dispositivo foi um pouco mais demorada que em estudos prévios, que tiveram resultados positivos, como o ARREST. Outra limitação foi que não havia padronização dos protocolos em relação ao dispositivo, porém isso torna os resultados mais generalizáveis.  

O potencial dos dispositivos de circulação extracorpórea é muito grande, porém são equipamentos complexos e que demandam recursos e treinamento adequados, estando ainda longe da realidade da maior parte dos serviços brasileiros, principalmente no contexto do atendimento da PCR extra-hospitalar. Mais estudos poderão trazer informações em relação às suas indicações e preditores de desfechos e talvez tenhamos algum subgrupo de pacientes com benefício na utilização precoce no contexto avaliado.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • N Engl J Med 2023;388:299-309. DOI: 10.1056/NEJMoa2204511 

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