Revascularização percutânea é benéfica para pacientes com disfunção ventricular?

A revascularização percutânea é uma alternativa a cirurgia, mas estudos que comparam os dois excluem pacientes com disfunção ventricular.

Sabemos que alguns pacientes com disfunção ventricular esquerda sistólica têm recuperação da função após revascularização cirúrgica. O estudo STICH mostrou que pacientes submetidos a revascularização cirúrgica tinham benefício em mortalidade quando comparados a pacientes mantidos em tratamento clínico após 10 anos de seguimento. Isso se deve provavelmente a presença de miocárdio hibernante, um mecanismo de adaptação à isquemia crônica.  

A revascularização percutânea é uma alternativa a cirurgia, mas geralmente os estudos que comparam os dois excluem pacientes com disfunção ventricular importante e não sabemos se há benefício do procedimento neste grupo de pacientes. 

Baseado nisso, o REVIVED trial avaliou se angioplastia associada a tratamento clínico otimizado (TCO) para insuficiência cardíaca (IC) comparado a TCO apenas melhoraria sobrevida de pacientes com disfunção ventricular sistólica importante e viabilidade presente.

Representação gráfica de um coração que pode sofrer de Insuficiência cardíaca devido a anormalidades no nível de potássio

Métodos 

Foi um estudo prospectivo, multicêntrico, randomizado e aberto. Os pacientes tinham fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo (VE) menor ou igual a 35%, doença arterial coronária extensa e viabilidade em pelo menos quatro segmentos passíveis de serem revascularizados com angioplastia. 

Os critérios de exclusão eram infarto nas últimas quatro semanas antes da revascularização e IC descompensada ou arritmias ventriculares sustentadas nas 72 horas pré randomização. 

Os pacientes foram divididos em dois grupos: tratamento percutâneo (do inglês ICP) associado a TCO e TCO apenas. No grupo ICP era realizada tentativa de revascularização completa. 

O desfecho primário foi mortalidade por todas as causas ou internação por IC no seguimento de 24 meses. Desfechos secundários maiores eram a FEVE em 6 e 12 meses, os questionários KCCQ, o EQ-5D-5L e a classe funcional da New York Heart Association (NYHA), que avaliam qualidade de vida e sintomas. 

Resultados 

Os 700 pacientes foram incluídos de 2013 a 2020, sendo 347 para o grupo ICP e 353 para o grupo TCO. As características de base dos dois grupos eram semelhantes entre si e a mediana de tempo para ICP após a randomização foi de 35 dias, com angioplastia realizada de forma estagiada em 80 pacientes. A revascularização foi realizada em 71% de todas as lesões programadas e o seguimento médio foi de 41 meses em ambos os grupos. 

O desfecho primário ocorreu em 37,2% no grupo ICP e 38% no grupo TCO, com mortalidade em 31,7% e 32,6% e internações por IC em 14,7% e 15,3% respectivamente, sem diferença estatística em nenhum desses componentes. 

A FEVE foi semelhante nos dois grupos nos seguimentos de seis e doze meses. O escore KCCQ pareceu favorecer o grupo ICP em seis e doze meses, porém houve melhora progressiva no grupo TCO com o tempo, sem diferença em 24 meses, achado semelhante ao se analisar os outros escores. A classe funcional pela NYHA foi semelhante entre os dois grupos. 

Em relação a outros desfechos secundários, a taxa de infarto foi semelhante entre os dois grupos (10,7% e 10,8%), porém IAM periprocedimento ocorreu apenas no grupo ICP e a taxa de IAM espontâneo foi maior no grupo TCO, assim como a necessidade de mais revascularização não planejada. 

Comentários 

Esse estudo comparou tratamento percutâneo associado a tratamento clínico com tratamento clínico apenas em pacientes com disfunção ventricular sistólica importante, doença arterial coronária estável e evidência de viabilidade miocárdica.  

Não houve diferença entre os grupos em relação a mortalidade por todas as causas e internações por IC. Inicialmente houve benefício em melhora de qualidade de vida no grupo ICP, porém este benefício diminuiu ao longo do tempo e em 24 meses não havia mais diferença entre os grupos. A função ventricular melhorou ao longo do tempo nos dois grupos, independente do tipo de tratamento.

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Conclusão 

Como conclusão temos que não parece haver benefício em melhora da função ventricular ou em qualidade de vida em pacientes com disfunção ventricular esquerda importante de origem isquêmica, mesmo com viabilidade comprovada. Importante ressaltar que quase a totalidade dos pacientes não tinham angina e esses resultados não podem ser extrapolados para a população sintomática, na qual há benefício em melhora de sintomas e qualidade de vida.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Divaka Perera, M.D., et al. Percutaneous Revascularization for Ischemic Left Ventricular Dysfunction. N Engl J Med 2022;387:1351-60. doi: 10.1056/NEJMoa2206606 

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