Risco de tromboembolismo venoso em usuárias de anticoncepcionais orais

Os resultados do estudo indicam um risco aumentado de tromboembolismo venoso, particularmente em mulheres com alta predisposição genética.

Um estudo recentemente aceito para publicação no American Journal of Obstetrics and Gynecology objetivou estimar o risco de tromboembolismo venoso (TEV) dentro de dois anos do início de contraceptivo hormonal oral e durante o uso contínuo em mulheres com alta predisposição genética a TEV. 

Mais de 150 milhões de mulheres em todo o mundo usam contraceptivos orais (ACO) e o uso desses aumenta o risco de TEV em uma proporção de três a cinco vezes. E sabe-se que mulheres com trombofilia hereditária e portadoras de certas variantes genéticas, como mutação do fator V de Leiden e mutação da protrombina apresentam risco aumentado de TEV, especialmente em combinação com o uso de contraceptivos orais. 

TEV tem um componente poligênico, ou seja, existe um fator de risco hereditário que não está associado a uma única variante no genoma, mas sim a centenas ou milhares de variantes que representam o risco derivado de uma diversidade de vias biológicas. Cada variante coloca um risco pequeno ou moderado que integra numa pontuação global única que pode ser avaliada juntamente com outros fatores de risco e estilos de vida. Estudos analisando o risco poligênico para TEV em usuárias de ACO não foram explorados ainda na literatura. 

Saiba mais: Risco de tromboembolismo venoso na gota

Risco de tromboembolismo venoso em usuárias de anticoncepcionais orais

Risco de tromboembolismo venoso em usuárias de anticoncepcionais orais

Metodologia 

Trata-se de um estudo prospectivo no qual 244.420 participantes do UK Biobank foram acompanhados desde o nascimento. O UK Biobank é um estudo de coorte de base populacional que recrutou mais de 500.000 pessoas com idades entre 37 e 72 anos de 22 centros de avaliação na população geral do Reino Unido entre 2006 e 2010. 

Os autores investigaram o risco de TEV associado ao ACO em participantes do sexo feminino dessa coorte. O efeito do uso de contraceptivos orais durante os dois primeiros anos e nos demais anos de uso sobre o risco de tromboembolismo venoso foi estimado por meio de regressão de Cox, com variável de exposição dependente do tempo.  

As mulheres foram estratificadas de acordo com seus escores de risco poligênico e se eram portadores de variantes do fator V de Leiden e/ou protrombina. 

Resultados 

Um total de 244.420 mulheres foram incluídas nas análises, das quais 10.856 tiveram o primeiro evento de TEV durante o acompanhamento. Um total de 193.371 iniciaram ACO em alguns momentos durante o acompanhamento. 

Quando o risco genético não foi considerado, um risco aumentado de tromboembolismo venoso foi observado durante os primeiros dois anos de uso de contraceptivos orais (taxa de risco = 3,09; IC 95% = 3,00 – 3,20), mas não durante o uso continuado (taxa de risco =0,92; IC95%, 0,80 – 1,05).  

No entanto, quando o risco genético foi considerado, as mulheres com as maiores pontuações de risco poligênico tiveram um risco mais pronunciado de TEV durante os primeiros dois anos de tratamento com ACO (taxa de risco = 6,35; IC 95% = 4,98 – 8,09), e foi observado um alto risco para portadoras da mutação do fator V Leiden (taxa de risco, 5,73 [IC 95% = 5,31-6,17]) e portadores da variante da protrombina (taxa de risco, 5,23 [IC 95% = 4,67 – 5,87]).  

E quando analisado uma alta pontuação de risco poligênico em combinação com ser fator V Leiden variante e portador da variante de protrombina resultaram no maior risco de TEV durante os primeiros dois anos de uso de contraceptivos orais (taxa de risco, 14,8 [IC 95% = 9,28 – 23,6]). 

 Leia também: Tromboembolismo pulmonar na pediatria

Conclusões 

Mulheres com maior risco poligênico têm risco de TEV aumentado em mais de 6 vezes durante os primeiros dois anos de uso de ACO risco. Com o uso continuado de contraceptivos orais, o risco aumentado é menos pronunciado. 

Esses resultados destacam a necessidade de considerar os efeitos poligênicos do TEV, além das variantes de trombofilia hereditária bem conhecidas, quando as mulheres iniciam o uso de ACO. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Lo Faro V, Johansson T, Johansson Å, The risk of venous thromboembolism in oral contraceptive users: the role of genetic factors—a prospective cohort study of 240,000 women in the UK Biobank, American Journal of Obstetrics and Gynecology (2023), doi: https://doi.org/10.1016/ j.ajog.2023.09.012.