Risco de tromboembolismo venoso na gota

Estudo recente analisou a relação temporal entre crises agudas de gota e a ocorrência de eventos tromboembólicos venosos (TEV).

A gota é a artropatia inflamatória mais comum no mundo: estima-se que 4% da população norte-americana possua essa doença. Os quadro de crise aguda de artrite são sua manifestação mais marcante, com características geralmente típicas: dor intensa, grande incapacidade funcional, edema e eritema articular e periarticular.

Estudos de base populacional encontraram associação entre a gota e a ocorrência de eventos tromboembólicos venosos (TEV). No entanto, a relação temporal com as crises agudas nunca foi explorada.

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Cipolletta et al. publicaram recentemente um estudo cujo objetivo principal foi avaliar se a ocorrência das crises agudas de gota poderiam se associar temporalmente com o risco de ocorrência de TEV.

Risco de tromboembolismo venoso na gota

Métodos

Trata-se de um estudo de coorte que utilizou os pacientes fora do período de crise aguda de gota como controles deles mesmos. O período de tempo analisado foi de 01 de janeiro de 1997 a 31 de dezembro de 2020.

Foi utilizada uma base de dados do Reino Unido para coleta das informações necessárias ao estudo. Os critérios de inclusão foram: ≥ 18 anos e gota incidente (definida como diagnóstico de gota registrado no clínico geral há menos de um ano).

A exposição analisada foi a crise aguda de gota (definida como código para crise aguda de gota, prescrição de AINE, corticoide ou colchicina na mesma data da consulta com o clínico ou hospitalização devido à gota). Já o desfecho analisado foi a ocorrência de TEV (definida como diagnóstico de trombose venosa profunda [TVP] ou tromboembolismo pulmonar [TEP] + prescrição de anticoagulação dentro de 90 dias do diagnóstico, hospitalização por TVP ou TEP + prescrição de anticoagulação dentro de 90 dias do diagnóstico, ou episódio fatal de TEV ou morte por qualquer causa dentro de 30 dias do diagnóstico de TVP ou TEP). As análises das razões de taxas de incidência ajustadas foram realizadas considerando três períodos de 30 dias.

Resultados

Foram incluídos 314 pacientes. A incidência de TEV foi estatisticamente superior após a crise aguda de gota, com razão de taxas de incidência ajustada de 1,83 (IC 95% 1,30-2,59).

Isso ocorreu principalmente por um aumento risco de TEV nos primeiros 30 dias da crise (razão de taxas de incidência ajustada de 2,31 — IC95% 1,39-3,82). Não houve diferenças estatisticamente significativas 31-60 dias e 61-90 dias. Os resultados foram consistentes após análise de sensibilidade.

Comentários

Esse estudo é interessante por demonstrar que existe uma associação temporal entre a crise aguda de gota e a ocorrência de TEV.

Atualmente, sabemos que os fatores de risco cardiovascular de maneira geral, frequentemente presentes nos pacientes com gota, também contribuem para a ocorrência de eventos tromboembólicos venosos. Isso poderia justificar a associação entre a doença e TEV.

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Durante a crise, o paciente passa por um período de grande liberação de mediadores inflamatórios, que também podem ativar a cascata de coagulação, levando a eventos trombóticos. Além disso, os pacientes em crise aguda de gota, principalmente acometendo os membros inferiores, passam por períodos de imobilidade. Dessa maneira, existe plausibilidade biológica para uma maior ocorrência de TEV nos primeiros dias após a crise aguda de gota, o que justifica os achados deste estudo.

Conclusão e mensagem prática

Assim, os autores concluíram que existe um aumento transitório no risco de TEV após crise aguda de gota, particularmente nos primeiros 30 dias.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Cipolletta E, Tata LJ, Nakafero G, et al. Risk of venous thromboembolism with gout flares. Arthritis Rheumatol. 2023 Feb 20. DOI: 10.1002/art.42480. 

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