Smart Drugs: vale a pena usar psicofármacos para melhorar desempenho?

O uso de estimulantes prescritos (drogas inteligentes ou smart drugs) tem aumentado entre estudantes e empregados visando melhorar produtividade.

As evidências que legitimam o uso de drogas inteligentes ou smart drugs para melhorar cognição são, no mínimo, ambíguas. O estudo de Bowman et al. visou avaliar o papel de três medicações popularmente utilizadas como smart drugs [metilfenidato (MPH), modafinil (MOD) e dextroanfetamina (DEX) (não comercializada no Brasil)], comparando-as com placebo, de uma forma que pudesse ser representativa da dificuldade das tarefas que os humanos estão expostos na vida moderna.

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Para isso, eles utilizaram o problema da mochila (knapsack problem), um problema de otimização combinatória, onde é necessário preencher uma mochila com capacidade de peso limitada com objetos de diferentes pesos e valores, de modo que se preencha a mochila com o maior valor possível. O teste foi apresentado de forma a diminuir a influência da memória de trabalho e da aritmética.

Smart Drugs vale a pena usar psicofármacos para melhorar desempenho

Métodos

Quarenta participantes com idades entre 18 e 35 anos participaram do ensaio clínico randomizado duplo cego, placebo controlado, com administração das seguintes doses das medicações (30 mg de metilfenidato, 15 mg de dextroanfetamina e 200 mg de modafinil) antes da resolução de oito instâncias do problema da mochila. Participantes tentaram cada instância duas vezes, com um tempo limite de 4 minutos. Os participantes participavam de 4 encontros, com intervalo de no mínimo 1 semana entre eles, em cada um deles usando uma medicação e o placebo. De modo a poder comparar os resultados atuais com estudos anteriores, os participantes também responderam 5 tarefas do CANTAB Cognitive Battery.

Resultados

Habilidade dos participantes de resolver uma instância: foi estimado um modelo relacionando o desempenho à dificuldade da instância e à medicação, considerando possíveis interações e efeitos aleatórios específicos do participante. Não houve efeito das medicações estatisticamente significantes (p=0,11).

Efeito das medicações sobre o valor obtido na tentativa: encontrou-se uma correlação negativa entre o uso das medicações e o valor obtido (menores valores em uso de medicação) (p=0,02).

Esforço despendido: foi avaliado a partir do tempo gasto em uma instância. Participantes gastaram mais tempo nas instâncias sob o efeito das medicações [p<0,0001 (MPH e DEX), p=0,10 (MOD)]. Participantes gastaram quase a mesma quantidade de tempo na instância mais simples sob o uso de ritalina e na instância mais complexa com uso de placebo.

Número de movimentação dos itens: o uso das medicações aumentou o número de movimentação dos itens (DEX: 7,2 movimentos e MPH: 6,1 com p<0,0001, MOD: 1,9 p>0,1). Como tanto o tempo quanto o número de movimentações foi maior com uso de medicações, o efeito das medicações na velocidade não foi claro. Se medirmos motivação a partir do tempo e movimentação dos itens, as medicações claramente aumentaram a motivação. Se, a motivação for evidenciada pela velocidade, a evidência é ambígua.

Diminuição da qualidade do esforço: produtividade foi definida a partir do ganho médio por movimentação. A produtividade é uniformemente menor em todas as medicações (p<0,001).

Reversão na qualidade do esforço: houve uma reversão no desempenho com o uso das medicações (menores médias com o uso da medicação se comparado com placebo) (p<0,001).

Qualidade do esforço diminui porque os movimentos se tornam mais aleatórios: o uso das medicações torna a primeira solução mais aleatória (segundo trabalhos prévios a primeira solução está associada ao desempenho nas demais tentativas), o que sugere que sob o uso das medicações as abordagens para solução de problemas complexos são menos sistemáticas.

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Escores no CANTAB tasks não prediz o efeito das medicações

Discussão

Há uma queda no desempenho sob o efeito das medicações (o uso das medicações não alterou a chance de encontrar uma solução para o problema, mas soluções piores foram dadas).

Há um aumento do esforço, mas uma queda na qualidade do esforço porque os participantes ficaram mais erráticos nas suas escolhas sob o efeito das medicações. Isso afetou mais os participantes que ficaram acima da média usando placebo e que tenderam a ficar abaixo da média com as medicações; os participantes que ficaram abaixo da média com placebo tiveram uma pior qualidade de esforço simplesmente porque gastaram mais tempo na atividade.

Como as medicações interferem na recompensa subjetiva, há uma redução no esforço percebido com seu uso, mas à custa de uma perda de eficácia. Ou seja, o uso das medicações interfere na motivação para a atividade, mas não melhora sua execução.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bowman E, Coghill D, Murawski C, Bossaerts P. Not so smart? "Smart" drugs increase the level but decrease the quality of cognitive effort. Sci Adv. 2023 Jun 16;9(24):eadd4165. DOI: 10.1126/sciadv.add4165