Sobrevida de diabéticos que sofrem PCR intra-hospitalar e fazem uso de metformina

Os efeitos cardioprotetores e neuroprotetores da metformina são estudados há alguns anos. Saiba mais no Portal PEBMED.

A taxa de sobrevivência após parada cardiorrespiratória (PCR) vem sofrendo um discreto aumento ao longo das últimas décadas. Embora este aumento esteja ocorrendo, ainda estamos muito aquém do que gostaríamos, sendo que em torno de 300 mil pacientes ao ano sofram PCR intra-hospitalar (dados estadunidenses)¹. 

Por causa das baixas taxas de sobrevivência à PCR estamos sempre à procura de fatores, intervenções e condutas que possam melhorar o desfecho desses pacientes. Pensando nisso uma equipe de pesquisadores dos departamentos de farmacologia e medicina de emergência da Korea University em Seul (Coreia do Sul) resolveu determinar a associação entre o uso de metformina em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e a taxa de sobrevivência após PCR intra-hospitalar².  

Os efeitos cardioprotetores e neuroprotetores da metformina são estudados há alguns anos, incluindo estudos em modelos animais no contexto de parada cardíaca e isquemia-reperfusão. 

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Métodos 

Trata-se de estudo observacional retrospectivo realizado em um hospital terciário na Coreia do Sul (880 leitos, sendo 44 de terapia intensiva). A abordagem à PCR e os cuidados após o retorno da circulação espontânea seguiam as diretrizes da American Heart Association de 2020. 

Todos os pacientes maiores de 18 anos submetidos à reanimação cardiopulmonar no período de abril de 2017 a março de 2022 (durante a internação hospitalar) tiveram seus prontuários revisados quanto ao uso de medicamentos antidiabéticos nas 24h que precederam o evento (dados de prontuário eletrônico). Caso o paciente sofresse a PCR nas primeiras 24h de internação, o uso de medicamentos era questionado ao paciente e/ou seu acompanhante. 

O desfecho primário definido foi a taxa de sobrevida até a alta hospitalar, sendo desfecho secundário o estado neurológico na alta hospitalar. 

A análise estatística se deu por regressão logística multivariada com o intuito de identificar associação independente entre as medicações antidiabéticas (sulfonilureias, metformina, inibidores da DPP4 e insulina) e os resultados encontrados, sendo que quando essa associação foi determinada foram realizados análise de Kaplan-Meier e teste de log-rank, sendo que o valor de p < 0,05 foi considerado como estatisticamente significante. O software utilizado foi o “R” versão 4.0.2, da R Foundation for Statistical Computing. 

Resultados 

Foram encontrados 388 pacientes com DM2 que sofreram PCR intra-hospitalar no período avaliado, sendo excluídos dois pacientes menores de 18 anos e nove pacientes que não foram reanimados, sendo incluídos 377 pacientes na análise. 

Entre os 377 pacientes, 152 (40,3%) eram do sexo feminino e 225 (59,7%) do sexo masculino. A idade média e mediana dos pacientes foi de 69,0 ± 13,6 anos e 72,0 (variação interquartil: 60,0–79,0) anos, respectivamente. Nas 24h que precederam o evento os antidiabéticos utilizados foram: sulfonilureias (38 pacientes; 10,1%); metformina (53 pacientes; 14,1%); e inibidores da DPP4 (56 pacientes; 14,9%). 

Ao todo, 234 pacientes (62,1%) apresentaram retorno da circulação espontânea, sendo que 60 (15,9%) sobreviveram até a alta hospitalar e 30 (8,0%) tiveram boa evolução neurológica na alta. 

A administração de metformina no intervalo de 24h antes da PCR foi associada a uma maior taxa de sobrevivência até a alta hospitalar e bom resultado neurológico (41,5% vs 11,7%, p < 0,001 e 18,9% vs 6,2%, p = 0,004, respectivamente). 

Os níveis de hemoglobina glicada (HbA1c) não foram estatisticamente diferentes entre o grupo que recebeu metformina quando comparado ao grupo que recebeu outros antidiabéticos orais. 

Conclusões 

No contexto de pacientes com DM2 que sofreram PCR intra-hospitalar, o uso de metformina nas 24h anteriores é associada ao aumento da sobrevida até a alta hospitalar e bom resultado neurológico, independente do local de parada (terapia intensiva ou outros setores) ou causa (cardíaca ou não cardíaca). 

A taxa de sobrevivência até a alta foi maior em pacientes que receberam entre 500 e 1000 mg de metformina por dia (pacientes que faziam uso de doses maiores tiveram piores desfechos). Além disso, com o aumento do intervalo de tempo desde a administração da droga até a ocorrência da PCR, o desfecho piorava (melhores desfechos nos subgrupos que receberam metformina em menos de 6h ou de 6 a 12h antes da PCR). 

Leia também: Melhor base para tratamento do DMG: metas glicêmicas ou achados de ultrassom?

Mensagem prática 

Vale lembrar que é um estudo observacional e que, para fins práticos, não tem o poder de interferir no nosso dia a dia, porém pode ser base para geração de conhecimento que mude paradigmas ao longo do tempo. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Holmberg MJ, Ross CE, Fitzmaurice GM, Duval-Arnould J, Gressestreuer AV, Yankama T, et al. Annual incidence of adult and pediatric in-hospital cardiac arrest in the United States. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2019;12(7). https://doi.org/10.1161/CIRCOUTCOMES.119.005580. e005580. Published 2019 Jul 9 
  • Jin B-Y, Song J, Kim J, Park J-H, Kim SJ, Cho H et al. Association between metformin and survival outcomes in in-hospital cardiac arrest patients with diabetes. Journal of Critical Care 73 (2023) 154171. https://doi.org/10.1016/j.jcrc.2022.154171