A gestação é marcada por alterações fisiológicas que impactam diretamente no sistema hematopoiético. Dentre essas mudanças, a “anemia fisiológica” é comum nas mulheres devido à hemodiluição decorrente do aumento do volume de líquidos circulante. Espera-se que no segundo trimestre da gravidez a hemoglobina tenha redução de 5 g/l. Na literatura, o valor de referência para delimitar a normalidade é ≥110 g/l.
Apesar dessa alteração prevista, o profissional de saúde necessita se atentar para prevenir quedas nesse valor de referência, por meio da suplementação de ferro e ácido fólico, e condução de casos de anemia. Na consulta de enfermagem, o profissional deve se atentar aos sinais e sintomas que remetam a anemia (mal-estar, dor nas pernas, tontura, por exemplo), coloração da pele, e solicitação e interpretação de exames laboratoriais, dentre os quais se destacam o hemograma completo e parasitológico de fezes, se necessário.
Reposição de ferro no adulto: usos na anemia e em outras doenças
Cuidados
Além disso, o profissional deve estar atento a condições regionais que impactam diretamente na anemia, como é o caso da malária. Nessa condição, os parasitas (Plasmodium sp.) tem afinidade pelos eritócitos e consomem ferro para nutrição, além de causarem hemólise. A mulher grávida é mais susceptível a essa doença por causa da queda da imunidade. Nela, a anemia hemolítica e outras complicações, como óbito materno pode ocorrer. No feto, aumenta-se o risco de aborto, parto prematuro, e baixo peso ao nascer.
Salvo os casos de infecção por parasitas, uma das principais causas de anemia na gestação tem relação com a alimentação e baixa ingestão de ferro. Estima-se que 50% dos casos são por esse fator. E, por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS), e Ministério da Saúde (MS) recomendam a suplementação de sulfato ferroso (OMS recomenda de 30-60 mg de ferro elementar/dia, e MS 40 mg de ferro elementar/dia) e ácido fólico (recomendação de 0,4 mg/dia por ambas instituições) durante toda gestação, mantendo-se o sulfato ferroso por até três meses depois do parto ou aborto, com cobertura universal, para prevenir esses casos que são comuns em cerca de 41,8% das gestantes no mundo.
Ressalta-se que na rede de saúde pública o ácido fólico está disponível na dose de 5 mg ou solução oral de 0,2 mg/ml (40 gotas). Embora essa dose seja maior, é recomendada a prescrição com essa posologia por dia, tendo em vista, que pelos estudos atuais os benefícios superam os riscos. Acerca do sulfato ferroso, se houver reações adversas que prejudicam o consumo pelas mulheres, pode ser ofertada preparação com menor teor de ferro (hidróxido polimaltose, por exemplo) e evitar os de liberação lenta para garantir o uso contínuo no pré-natal.
A importância de seguir essa conduta é evitar complicações maternas e fetais. Dentre elas, são descritas na literatura, com alta qualidade metodológica: baixo peso ao nascer, anemia materna e deficiência de ferro. As consequências com estudos de qualidade moderada é nascimento prematuro, enquanto com baixa qualidade são morte neonatal, anomalias congênitas, morte materna, anemia severa e infecções.
Contudo, dentre as intervenções de enfermagem estão à prescrição de sulfato ferroso, monitoramento de reações adversas com a suplementação (queixas gastrointestinais de constipação ou diarreia), prescrição de ácido fólico, solicitação de exames laboratoriais, e orientações sobre o uso de alimentos ricos em ferro, e estimular o uso de frutas ou sucos cítricos com o comprimido de sulfato ferroso. Embora sejam ações simples e rotineiras, são cuidados eficazes para evitar as complicações supracitadas. Por isso, que tal se lembrar do sulfato ferroso e ácido fólico o quanto antes nas consultas de pré-natal?
Referências bibliográficas:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Suplementação de ferro: manual de condutas gerais. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_suplementacao_ferro_condutas_gerais.pdf
- OMS. Diretriz: suplementação diária de ferro e ácido fólico em gestantes. Genebra: Organização Mundial de Saúde, 2013.
- CHAGAS, E.C.S.; et al. Malária durante a gravidez: efeito sobre o curso da gestação na região amazônica. Rev. Panam. Salud Publica, v. 26, n. 3, p. 203-08, 2009.